Papa e os pecados da Cúria.. e não só


Discurso do Papa à Cúria, em 22 de dezembro de 2014 (resumido)

A Cúria está chamada a melhorar-se, a melhorar-se sempre e a crescer em comunhão, santidade e sabedoria a fim de realizar plenamente a sua missão. No entanto, ela, como todo corpo, como todo corpo humano, está exposta também às doenças, ao mau funcionamento, à enfermidade. E aqui gostaria de mencionar algumas destas prováveis doenças, doenças curiais. São doenças mais costumeiras na nossa vida de Cúria. São doenças e tentações que enfraquecem o nosso serviço ao Senhor. Penso que nos ajudará o “catálogo” das doenças – nas pegadas dos Padres do deserto, que faziam aqueles catálogos – dos quais falamos hoje: ajudar-nos-á na nossa preparação ao Sacramento da Reconciliação, que será um passo importante de todos nós em preparação do Natal.

1. A doença do sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável” pondo de lado os controles necessários e habituais. Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se actualiza, que não procura melhorar é um corpo enfermo. Uma visita ordinária aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver os nomes de tantas pessoas, algumas das quais pensassem talvez que eram imortais, imunes e indispensáveis! 

2. A doença do “martalismo” (que vem de Marta), da excessiva operosidade: ou seja, daqueles que mergulham no trabalho, descuidando, inevitavelmente, “a melhor parte”: sentar-se aos pés de Jesus (cf Lc 10,38-42).
 
3. A doença do “empedernimento” mental e espiritual, ou seja, daqueles que possuem um coração de pedra e são de “dura cerviz” (At 7,51-60); daqueles que, com o passar do tempo, perdem a serenidade interior, a vivacidade a audácia e escondem-se atrás das folhas de papel, tornando-se “máquinas de práticas” e não “homens de Deus” (cf Hb 3,12).
 
4. A doença da planificação excessiva e do funcionalismo. Quando o apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que, fazendo uma perfeita planificação, as coisas efectivamente progridem, tornando-se, assim, um contabilista  ou um comercialista.
 
5. A doença da má coordenação. Quando os membros perdem a comunhão entre si e o corpo perde a sua funcionalidade harmoniosa e a sua temperança, tornando-se uma orquestra que produz barulho, porque os seus membros não cooperam e não vivem o espírito de comunhão e de equipe.
 
6. A doença do “alzheimer espiritual”: ou seja, o esquecimento da “história da salvação”, da história pessoal com o Senhor, do «primeiro amor» (Ap 2,4). Trata-se de uma perda progressiva das faculdades espirituais que num intervalo mais ou menos longo de tempo causa graves deficiências à pessoa, tornando-a incapaz de exercer algumas atividades autónomas, vivendo num estado de absoluta dependência das próprias visões, tantas vezes imaginárias. É o que vemos naqueles que perderam a memória do seu encontro com o Senhor;
 
7. A doença da rivalidade e da vanglória. Quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra se tornam o objectivo primordial da vida, esquecendo as palavras de São Paulo: «Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses , e sim os dos outros» (Fl 2,1-4).
 
8. A doença da esquizofrenia existencial. É a doença dos que vivem uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do vazio espiritual progressivo que formaturas ou títulos académicos não podem preencher. Uma doença que atinge frequentemente aquele que, abandonando o serviço pastoral, se limitam aos afazeres burocráticos, perdendo, assim, o contacto com a realidade, com as pessoas concretas.
 
9. A doença das bisbilhotices, das murmurações e do mexerico. Já falei muitas vezes desta doença, mas nunca é suficiente. É uma doença grave, que começa simplesmente, quem sabe, para trocar duas palavras e se apodera da pessoa, transformando-a em “semeadora de cizânia” (como satanás), e em tantos casos “homicida a sangue frio” da fama dos seus colegas e confrades.
 
10. A doença de divinizar os chefes: é a dos que cortejam os Superiores, esperando obter a benevolência deles. São vítimas do carreirismo e do oportunismo, honrando as pessoas e não a Deus (cf Mt 23,8-12). São pessoas que vivem o serviço, pensando exclusivamente no que devem obter e não no que devem dar.
 
11. A doença da indiferença para com os outros. Quando alguém pensa somente em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das relações humanas. Quando o mais especializado não coloca o seu conhecimento ao serviço dos colegas menos especialistas.
 
12. A doença da cara fúnebre. Quer dizer, das pessoas grosseiras e sisudas que pensam que, para ser sérias, é necessário assumir as feições de melancolia, de severidade e tratar os outros – principalmente os que consideram inferiores – com rigidez, dureza e arrogância.
 
13. A doença de acumular: quando o apóstolo procura preencher um vazio existencial no seu coração, acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro. Na realidade, nada de material poderemos levar connosco, porque “a mortalha não tem bolsos”
 
14. A doença dos círculos fechados onde a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo  e, em algumas situações, ao próprio Cristo.
 
15. E a última: a doença do proveito mundano, dos exibicionismos, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder; é a doença das pessoas que procuram insaciavelmente multiplicar poderes e, com esta finalidade, são capazes de caluniar, de difamar e de desacreditar os outros, até mesmo nos jornais e nas revistas. (…)

Irmãos, estas doenças e tais tentações são naturalmente um perigo para todo cristão e para toda a Cúria, Comunidade, Congregação, Paróquia, Movimento eclesial e podem atingir quer em nível individual quer comunitário.

Somos chamados, portanto – neste tempo de Natal e por todo o tempo do nosso serviço e da nossa existência - a viver «pela prática sincera da caridade, crescendo em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo o Corpo – coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a actividade que lhe é própria – efectua esse crescimento , visando à sua plena edificação na caridade» (Ef 4,15-16).


Ver aqui o texto integral.

Diálogo com o Evangelho



Diálogo com o Evangelho de 28 de dezembro, Domingo da Sagrada Família, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

A vida questiona o Evangelho de Domingo, 28 de Dezembro - Sagrada Família

 Família: uma construção diária, nunca acabada...

Lc. 2,22-40.
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor.
Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino, para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando:
«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo».
Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia e tornava-Se robusto, enchendo-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele.

2014-12-20

Diálogo com o Evangelho



Diálogo com o Evangelho de Domingo, de 21 de dezembro, 4º Domingo do Advento, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

A vida questiona o Evangelho de Domingo, 21 de Dezembro


Lc. 1,26-38.
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob, e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?».
O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice, e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

2014-12-14

A América Latina é o continente da esperaça



«Façamos este pedido porque a América Latina é o continente da esperança; porque dela se esperam novos modelos de desenvolvimento que conjuguem tradição cristã e progresso civil, justiça e equidade com reconciliação, desenvolvimento científico e tecnológico com sabedoria humana, sofrimento fecundo com alegria esperançosa. 

É possível proteger esta esperança apenas com grandes doses de verdade e de amor, fundamentos de toda a realidade, motores revolucionários de uma autêntica vida nova.»

Papa Francisco,
Na Missa Criola, Vaticano, 12.12.2014

Ver mais aqui.

2014-12-12

Diálogo com o Evangelho



Diálogo com o Evangelho de Domingo, de 14 de dezembro, 3º Domingo do Advento, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

A vida questiona o Evangelho de Domingo, 14 de Dezembro

Jo. 1,6-8.19-28. Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?».
Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não».
Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?». «Não sou», respondeu ele.
Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?».
Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías».
Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque batizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?».
João respondeu-lhes: «Eu baptizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».
Tudo isto se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava a batizar.

Il m'appelle à sortir


Ele chama cada uma das suas ovelhas pelo nome
e leva-as para fora. (Jo. 10, 3)
                                       
Não é com muitos anos de estudo que Cristo forma os seus discípulos. Com eles, vai para fora. A sua pedagogia é simples. É um ensino apoiado na experiência: segui-Lo e deixar-se transformar pela sua palavra.
Pedro sai do barco, caminha na água e a seguir afunda-se. "Senhor, salva-me! "(*) Neste teste, ele compreende que Jesus é o seu Salvador. Provavelmente, não o teria entendido de outra maneira. Só Pedro saiu do barco e será ele o primeiro a confessá-lo como Messias.

Apenas Pedro pôs a sua fé à prova e foi sobre ele que Cristo edificou a sua Igreja.
Do mesmo modo, "a Igreja tem que sair de si mesma para ir para a periferia, onde estão todas as misérias" (**).
Este é o ensinamento de Cristo. Ao sair, ele dá-nos uma bússola: escutar a sua palavra como uma palavra viva, interrogar-se sobre o peso da sua vida e, com aquela palavra, reler a sua vida. Esta palavra pode parecer-nos tão suave como o lago da Galileia, mas lida na presença de Cristo, transporta-nos.

O fracasso pode assustar-nos, mas o único fracasso verdadeiro não seria antes deixar de ter confiança, evitar sair, parar de aprender? Podemos aprender a andar sem cair? Não tatearam os santos procurando seguir a Cristo? No entanto, eles encontraram na Bíblia a chave de leitura das suas vidas. Cristo convida-nos a sair, mas não vamos sozinhos, a sua palavra acompanha-nos.

Frère Raphaël de Bouillé, OP (Couvent de Nancy); 
tradução dv

* Mt. 14, 30
** Papa Francisco

2014-12-08

Um missionário em Gaia

Uma entrevista muito interessante que o Padre Albino Reis, novo pároco de Canelas, dá a Manuel Vilas Boas, na TSF.

Pode ouvir-se aqui.



Diálogo com o Evangelho


Diálogo com o Evangelho de Domingo, de 7 de dezembro, 2º Domingo do Advento, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

2014-12-07

Comissão teológica internacional




Pope Francis said the theologian is first of all a believer who hears the word of God and who humbly listens to what the Holy Spirit says to the churches. 
His remarks came in an address on Friday to members of the International Theological Commission (05-12-2014). 
The Pope noted that the Commission’s mission is to study doctrinal problems of great importance, especially those which present new points of view. 
In his speech, the Pope said he wanted to draw particular attention to the importance of listening. 
He also noted the significantly greater presence of women on the Commission. By virtue of their feminine genius, he continued, female theologians are able to uncover certain unexplored aspects.

2014-12-06

A vida questiona o Evangelho de Domingo, 7 de dezembro

Marcos 1,1-8.
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’».
Apareceu João Baptista no deserto, a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados. Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
João vestia-se de pelos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo»