Albino Aroso, médico especialista em saúde materno-infantil, em entrevista ontem, ao Público (sem link)
Tem considerado a nossa lei de interrupção voluntária da gravidez como sinal do nosso atraso. Porquê?
Nós não somos moralmente melhores que os suecos ou os finlandeses. Contudo, nós criminalizamos o acto, eles não.
Quando foi secretário de Estado (tempo da Leonor Beleza) e estava em vigor a actual lei, que é idêntica à espanhola e lá permitiu que se desenvolvessem muitas clínicas onde se interrompe legalmente a gravidez, porque não actuou?
É verdade que em Portugal se pode interromper a gravidez por razões psíquicas. Em Espanha esse critério é aceite, cá não é culturalmente praticado. Isto significa que a Espanha avançou mais depressa do que nós. Todos nós temos de evoluir e perceber que a sociedade está diferente. Há 50 anos à mulher competia ter filhos uns atrás dos outros, hoje basta olhar para as universidades para ver que o tempo em que os rapazes iam à escola e as miúdas ficavam em casa a fazer meia acabou. Essa mudança foi extraordinariamente positiva para a condição da mulher, mas hoje debatemo-nos com o problema da baixa natalidade. Porque a sociedade ainda não compreende que a mulher grávida é uma heroína.
E o que é que se pode fazer para mudar essa situação?
Isso é com os políticos. Mas o que considero essencial é que nenhuma mulher possa ser prejudicada na sua carreira por ter um filho: tem é de ser premiada. Alguma coisa tem de ser feita. Basta pensar que nenhuma universidade portuguesa tem um infantário, o que dificulta a vida às alunas que optem por ter filhos enquanto estudam. Em Portugal troca-se ter um filho por ter um cãozinho - na Holanda quem tem um cãozinho tem de pagar uma taxa. Mais: temos de mudar completamente a nossa mentalidade relativamente às mães solteiras e às mães jovens. Fico doente quando vejo, no infantário que fica ao pé de minha casa, que aí uns 80 por cento dos que levam e vão buscar os filhos são as mães. Caramba, os homens têm melhor físico, podem transportar melhor as criancinhas.
Já percebemos que não concorda com a actual lei relativa à interrupção da gravidez. Quando forem discutidas as alterações propostas no Parlamento, dará também a cara por elas?
Não conheço os detalhes dessas alterações, mas para mim há um país que tem uma lei que devia inspirar-nos: a Alemanha. Lá qualquer rapariga que queira interromper a gravidez é ouvida por uma comissão a quem explica o que se passou, se foi o médico que falhou, se ela que não tomou a pílula, e aconselha-a. Se a mulher quiser interromper a gravidez, interrompe, não é impedida, é apenas aconselhada. Muitas destas comissões estão ligadas à Igreja, o que levou até a que o Papa João Paulo II condenasse esse comportamento da Igreja alemã. Estas comissões ajudam muito, até nas situações em que as motivações são de natureza económica, pois podem colocar-lhe meios à disposição. Mas não criticam as mulheres, pois então não seguiriam o exemplo de Cristo, que perdoava a toda a gente.
Bem hajas Paulo por teres posto aqui esta entrevista.
ResponderEliminarConcordo com o A.A.em que hoje no nosso país ( e não só!) "a mulher grávida é uma heroina".
Também é a primeira vez que vejo citado o método alemão. Nos centros que a Igreja católica tinha, em paralelo com outras instituições, muitas mulheres eram ajudadas a tomar posições mais reflectidas, com uma boa percentagem das que optavam por deixar nascer as crianças. O fecho desses centros foi um grande traumatismo para muitos católicos alemães.
Parece-me que precisamos de insistir numa politica de familia, que envolve muitas mudanças de mentalidade e sociais.
frei
Eu sei que há na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa um infantariozinho chamado Letrinhas. Aqui a Universidade de Évora também tem (embora os meus filhos não estejam lá).
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