Caros amigos do Regador
Como nem todos lêem francês, sugeri ao Frei Eugénio a tradução da sua homilia para português pelo que a insiro de novo, esperando que ela possa inspirar novos comentários.
Homilia para o 19° Domingo do Ano C - 12-08-2007
A fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. ( Heb 11, 1)
Agora, “vemos como num espelho,de maneira confusa; depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito; depois, conhecerei como sou conhecido." (1 Co 13, 12). A fé é vivida frequentemente na obscuridade. A fé pode também ser posta à prova.
O mundo no qual vivemos parece bem distante frequentemente daquele que a fé nos assegura; as experiências do mal e do sofrimento, de injustiças e da morte, parecem contradizer a Boa Nova, podem abalar a fé e tornar-se para ela tentação.
É então que nos devemos voltar para as testemunhas da fé:
Abraão, que acreditou, “esperando contra qualquer esperança “(Rm 4, 18);
a Virgem Maria que, “na peregrinação da fé” (LG 58), foi até à “noite da fé” (João Paulo II, RM 18) comungando do sofrimento do seu Filho e da noite do seu túmulo; e tantos outras testemunhas da fé.
Estes testemunhos dão-nos uma ajuda preciosa na procura de Deus. Apesar das suas experiências tão diferentes podemos distinguir 3 caminhos ou 3 “sabedorias” na procura de Deus:
1 - Reflectir sobre Deus
2 - Acreditar que Deus fala
3 – Amar o Deus que me ama
Estes três caminhos passam por 3 preciosas ofertas feitos por Deus ao homem, 3 livros que nos são oferecidos:
1- O universo da Criação
2 - A Bíblia
3- O nosso coração
São Tomas de Aquino fala-nos admiravelmente destes dois primeiros livros: “Deus, como um excelente mestre, teve o cuidado de nos deixar dois escritos perfeitos, a fim de fazer a nossa educação de uma maneira que nada deixa a desejar”.
Estes dois livros divinos são a Criação e a Escritura:
“A primeira obra tem tantos capítulos excelentes quanto há de criaturas e ensina-nos a verdade sem mentira. Assim, quando alguém perguntou a Aristóteles onde tinha aprendido tão bonitas verdades, ele respondeu-lhe: “Nas coisas, porque não sabem mentir”.
Com efeito, a criação inteira é um grande caminho de acesso para Aquele que é o mestre.
O segundo livro, aquele a que chamamos “o Livro”, a Bíblia, conduz-nos à Deus pelos seus profetas, os que vêm à frente d’Ele para falar no seu Nome, até à vinda do que é a Sua própria palavra: Jesus Cristo. (Heb 1,1).
Por último, o terceiro livro, talvez o mais secreto, mais difícil de ler: o nosso próprio coração.
No segredo do meu eu mais profundo, através dos elementos da minha vida, através das duas outras sabedorias, há uma terceira sabedoria que é como uma palavra interior, um encontro escondido, mas vivo, com Deus. Trata-se do que existe de mais profundo no coração do homem, de um encontro com a Verdade que é amor.
A terceira sabedoria descobre-se no silêncio do amor que acredita no amor.
Mas Deus não é o Inacessível, o que está para além de tudo?
Ele oferece-nos como que 3 “escadas” capazes de se dirigirem até ao infinito. Três “escadas” pelas quais, eu, o homem, tenho de subir para chegar até Ele:
1 - Reflectir sobre Deus.
A Igreja ensinou-nos a nunca desvalorizar a inteligência, quando esta procura humildemente Deus
Reflectimos sobre este mundo: vemos que não tem nele mesmo a sua explicação, a sua plenitude.
Procuramos então mais além, mais alto, e vamos em direcção a Deus.
2-Crer que Deus fala.
Para além da sabedoria da inteligência, a outra sabedoria é a da fé: crer que Deus falou.
Será, assim, reflectir sobre Deus, mas sobre Deus tal como Ele se nos revela, não pela nossa razão que não O pode descobrir, mas da maneira que Ele se dá a conhecer pela sua palavra.
Não bastará “ler a Bíblia” e saber o que contém ; é sobretudo perceber que ela me pede para O escutar, de aderir com o meu coração ao que Deus nos revela de ele mesmo.
3 - Amar o Deus que me ama.
Ele é a verdade, mas Ele é também o Amor, Ele mesmo inventará a Verdadeira Escada que desce para nós, para nos conduzir até Ele: Jesus Cristo.
Estas ofertas e estas “escadas” serão apenas para pessoas muito cultas?
O cardeal Journet conta-nos que em França, no século XVII, uma filha de senhores nobres ensinava os rudimentos da fé aos habitantes dos aldeamentos vizinhos. Encontrando um dia uma rapariga, numa aldeia bastante isolada, perguntou-lhe se queria que lhe ensinasse a rezar.
A pequena responde-lhe: “Oh sim, minha senhora!” e pediu-lhe para lhe ensinar o que é que ela devia fazer para conseguir chegar até ao fim do “Nosso Pai”, pois, dizia a menina: “desde que me ensinaram o Pai Nosso, quando pronuncio esta palavra “Pai” e que considero que o que está lá em cima”, dizia ela levantando o dedo para cima, “que esse mesmo é o meu pai, eu choro e fico todo o dia assim, sem conseguir continuar, enquanto guardo as vacas”.
Uma pessoa simples não precisa de muitas palavras para entrar no mistério de Deus.
Com esta «escada» que é: amar Deus como Ele nos ama, Deus é reconhecido como alguém de vivo no mais íntimo do nosso ser.
Apoc 3,20: Olha que Eu estou à porta e bato:
se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.’
É uma «comunhão».
Ficaremos como que «sincronizados» com Deus.
Existe o conhecimento dado pela inteligência, e também a revelação da fé. Mas aqui é o Amor que nos faz ir mais longe.
A fé cristã pode definir-se em poucas palavras: é uma «amizade com Deus».
Mas para que essa amizade cresça é necessária uma espécie de ligação mútua. É um jogo maravilhoso: nós devemos «familiarizarmo-nos» com Deus e, da sua parte, Deus «familiariza-se» com o homem pela vinda de Cristo ao meio de nós. É um duplo movimento para que possa haver um múto «cativar»
Com as testemunhas da fé, eu posso dizer: «Senhor, eu acredito! Vem e ajuda-me na minha pouca fé»
Ámen.
Um dos aspectos que é para mim mais dificil é acreditar num "Deus que fala". Não que falou, mas que me fala hoje.
ResponderEliminarE que me fala hoje, quer a partir dos textos (Palavra) mas também dos acontecimentos do dia a dia.
Como reconhecer os sinais de Deus na nossa vida?
Talvéz aqui o "amor nos faça ir mais longe", pelo que o estreitar da amizade com Deus, pela familiarização mútua, seja um a pista que nos pode fazer ouvir o Deus que hoje nos fala.