Porque Ele sabe que temos sede.
Porque a oração é o regador da nossa Fé.
Este blog, é um espaço de oração e de partilha.
Sinta-se livre para participar ;-)
Alegremo-nos, também, porque o Senhor nos criou e deu aos homens o poder de dar forma a tantas belezas como esta composição de Handel.
Demos graças ao Senhor por todos os que, como o Paulo, são capazes de alegrar as nossas vidas com a beleza que espalham.
Elevemos as nossas orações ao Céu para agradecer o bem que nos faz e as capacidades de que nos dotou, de ver, ouvir e sentir, para podermos apreciar todas as maravilhas que nos concedeu.
Pagão provém do latim pagus = marco de terreno, aldeia, por oposição à cultura citadina. O radical indo-europeu pak (donde pau) designa a união, estabilidade e a força próprias de Pacto e Paz. Página também deriva do mesmo étimo, significando originalmente campo lavrado em esquadria respeitando um marco («pau») bem fixo, ao que se assemelha uma folha de papel escrita. Liturgia deriva do grego laos (povo, leigo) e ergon (trabalho), donde «serviço público». Liturgia pagã é o esforço de trabalhar com Deus com a liberdade, consciência e humildade de ser «pagão».
Domingo da Sagrada Família (ano A) 1ª leitura: Livro de Ben-Sirá, 3, 3-7.14-17 2ª leitura: Carta de S. Paulo aos Colossenses, 3, 12-21 Evangelho: S. Mateus, 2,13-15.29-23
Não dá para entender
Há quem defina o casamento como «um contínuo perdão». Talvez seja o que, na festa litúrgica de hoje, se deva pôr mais em relevo: a estranheza do outro, tanto maior quanto mais se afirma a dimensão “sobrenatural” no projecto de cada qual. Não dá para entender. Pois esses projectos não são fáceis de partilhar, não há palavras capazes para os dizer, e até se vive sob o medo de algo desconhecido, por muito bom que se apresente. Várias vezes, podemo-nos sentir ofendidos e com razão. Perdão é superação. Não porque alguém seja superior ao outro, mas porque se entra num nível superior de relação: perdemos o medo a que cada um de nós tenha uma maneira diferente de «doar». E assim todos «doamos» o melhor que podemos – o mesmo é dizer que todos damos ora peças rachadas, de segunda mão, perigosas até, ou damos o ouro mais puro disfarçado por um mau jeito, pelo suor das mãos… Descobrimos que nem honras nem ninharias podem corromper o nível penosamente adquirido da nossa vida em comum. O casamento é uma aposta continuamente livre de transformar os conflitos em força geradora de futura humanidade, com o optimismo de que o futuro traz sempre o bem, por mais escondido que pareça entre as malhas da vida. A todo o ser humano, qualquer que seja o estilo de vida escolhido, compete não ser um mero ocupante do estrado da vida, mudo e quedo (quando não activamente destruidor): se tem consciência de que é um ser humano, tem que deixar uma deixa para mais e melhor vida. Ben-Sirá descreve a maravilha de uma família em que o grande objectivo é transmitir vida feliz – o que nos treina para uma vida de paciência activa e frutificante e por isso fundamento para a criatividade e para a expansão dos anseios próprios. Uma família onde, com naturalidade, a própria morte tem lugar como incitadora do aproveitamento da vida e como um momento especial de expressão do nosso carinho. S. Paulo sublinha o exercício do perdão, que nos fortalece para toda a vida e permite o funcionamento positivo da sociedade, lembrando também que este amor sem medo é matriz de instrução, de conselho (e repreensão) e de união sensível com a fonte do amor, da alegria, da Vida. Faz-se moralista à maneira dele e do seu tempo, mas os valores de fundo não envelheceram – e se por vezes metem medo é porque têm mesmo força… Vale a pena ter em atenção que até dos valores mais «fortes», se queremos tirar partido, temos que nos aproximar com jeitinho… S. Mateus utiliza “historinhas piedosas” que reflectem a ternura pela figura de Cristo. Ao mesmo tempo, aplica as coisas bonitas que era e é costume contar acerca do começo de vida de alguém que por vários motivos foi olhado como herói, líder, homem bom e homem de Deus… que mereceu plenamente o título de «filho de Deus». Aproveita estas histórias, bem ao estilo popular, para sublinhar como um homem bom é facilmente rejeitado e perseguido, e finalmente aniquilado – o que torna mais admirável a permanência do espírito de Jesus pelos milénios fora, «ressurgindo» com uma força e atracção inquestionáveis. Mas a vida de família espelha as dúvidas entre os cônjuges, os silêncios dolorosos, as aparentes infidelidades ou jogos escondidos… e não faltaram de certeza, entre os pais de Jesus, e com o próprio Jesus, honestas discussões e desentendimentos, que só foram superados porque o travesseiro é bom conselheiro; e porque eles sabiam bem que o amor da família e dos amigos acaba por ser mais difícil do que o amor às pessoas que só temos de «aturar» de vez em quando. Para este amor resistir e se tornar mais fecundo e libertador para toda a gente, precisa de se enraizar activamente no «rochedo da vida», na «fonte da vida», no «sentido da vida» – no «Deus dos vivos e não dos mortos» (Mateus,22,32), no Deus que dá força e prazer ao nosso amor. É mesmo assim: para casados ou não, a vida não dá para entender…
Alegremo-nos, também, porque o Senhor nos criou e deu aos homens o poder de dar forma a tantas belezas como esta composição de Handel.
ResponderEliminarDemos graças ao Senhor por todos os que, como o Paulo, são capazes de alegrar as nossas vidas com a beleza que espalham.
Elevemos as nossas orações ao Céu para agradecer o bem que nos faz e as capacidades de que nos dotou, de ver, ouvir e sentir, para podermos apreciar todas as maravilhas que nos concedeu.
Hugo Meireles
2007.12.30
ResponderEliminarLITURGIA PAGÃ
Pagão provém do latim pagus = marco de terreno, aldeia,
por oposição à cultura citadina. O radical indo-europeu pak (donde pau) designa a união, estabilidade e a força próprias de Pacto e Paz.
Página também deriva do mesmo étimo, significando originalmente
campo lavrado em esquadria respeitando um marco («pau») bem fixo,
ao que se assemelha uma folha de papel escrita.
Liturgia deriva do grego laos (povo, leigo) e ergon (trabalho),
donde «serviço público».
Liturgia pagã é o esforço de trabalhar com Deus
com a liberdade, consciência e humildade de ser «pagão».
Domingo da Sagrada Família (ano A)
1ª leitura: Livro de Ben-Sirá, 3, 3-7.14-17
2ª leitura: Carta de S. Paulo aos Colossenses, 3, 12-21
Evangelho: S. Mateus, 2,13-15.29-23
Não dá para entender
Há quem defina o casamento como «um contínuo perdão».
Talvez seja o que, na festa litúrgica de hoje, se deva pôr mais em relevo: a estranheza do outro, tanto maior quanto mais se afirma a dimensão “sobrenatural” no projecto de cada qual. Não dá para entender. Pois esses projectos não são fáceis de partilhar, não há palavras capazes para os dizer, e até se vive sob o medo de algo desconhecido, por muito bom que se apresente. Várias vezes, podemo-nos sentir ofendidos e com razão.
Perdão é superação. Não porque alguém seja superior ao outro, mas porque se entra num nível superior de relação: perdemos o medo a que cada um de nós tenha uma maneira diferente de «doar». E assim todos «doamos» o melhor que podemos – o mesmo é dizer que todos damos ora peças rachadas, de segunda mão, perigosas até, ou damos o ouro mais puro disfarçado por um mau jeito, pelo suor das mãos… Descobrimos que nem honras nem ninharias podem corromper o nível penosamente adquirido da nossa vida em comum.
O casamento é uma aposta continuamente livre de transformar os conflitos em força geradora de futura humanidade, com o optimismo de que o futuro traz sempre o bem, por mais escondido que pareça entre as malhas da vida. A todo o ser humano, qualquer que seja o estilo de vida escolhido, compete não ser um mero ocupante do estrado da vida, mudo e quedo (quando não activamente destruidor): se tem consciência de que é um ser humano, tem que deixar uma deixa para mais e melhor vida.
Ben-Sirá descreve a maravilha de uma família em que o grande objectivo é transmitir vida feliz – o que nos treina para uma vida de paciência activa e frutificante e por isso fundamento para a criatividade e para a expansão dos anseios próprios. Uma família onde, com naturalidade, a própria morte tem lugar como incitadora do aproveitamento da vida e como um momento especial de expressão do nosso carinho.
S. Paulo sublinha o exercício do perdão, que nos fortalece para toda a vida e permite o funcionamento positivo da sociedade, lembrando também que este amor sem medo é matriz de instrução, de conselho (e repreensão) e de união sensível com a fonte do amor, da alegria, da Vida. Faz-se moralista à maneira dele e do seu tempo, mas os valores de fundo não envelheceram – e se por vezes metem medo é porque têm mesmo força… Vale a pena ter em atenção que até dos valores mais «fortes», se queremos tirar partido, temos que nos aproximar com jeitinho…
S. Mateus utiliza “historinhas piedosas” que reflectem a ternura pela figura de Cristo. Ao mesmo tempo, aplica as coisas bonitas que era e é costume contar acerca do começo de vida de alguém que por vários motivos foi olhado como herói, líder, homem bom e homem de Deus… que mereceu plenamente o título de «filho de Deus».
Aproveita estas histórias, bem ao estilo popular, para sublinhar como um homem bom é facilmente rejeitado e perseguido, e finalmente aniquilado – o que torna mais admirável a permanência do espírito de Jesus pelos milénios fora, «ressurgindo» com uma força e atracção inquestionáveis.
Mas a vida de família espelha as dúvidas entre os cônjuges, os silêncios dolorosos, as aparentes infidelidades ou jogos escondidos… e não faltaram de certeza, entre os pais de Jesus, e com o próprio Jesus, honestas discussões e desentendimentos, que só foram superados porque o travesseiro é bom conselheiro; e porque eles sabiam bem que o amor da família e dos amigos acaba por ser mais difícil do que o amor às pessoas que só temos de «aturar» de vez em quando. Para este amor resistir e se tornar mais fecundo e libertador para toda a gente, precisa de se enraizar activamente no «rochedo da vida», na «fonte da vida», no «sentido da vida» – no «Deus dos vivos e não dos mortos» (Mateus,22,32), no Deus que dá força e prazer ao nosso amor.
É mesmo assim: para casados ou não, a vida não dá para entender…
MANUEL ALTE DA VEIGA
m.alteveiga@netcabo.pt