Acabei de ler o post “ O Cristianismo Resignou-se” e não pude deixar de partilhar algumas reflexões que desde a semana passado me tem surgido.
Dei-me conta, nesta passada semana de uma mensagem que circulava na internet a qual fazia alusão à última crónica de Eduardo Prado Coelho no jornal “Público” sob o título “Precisa-se matéria-prima para construir um país”. Esta crónica foi publicada após o seu falecimento, a 25 de Agosto de 2007, sendo por alguns considerada como uma crónica testamentária. Em conversa com várias pessoas percebi que também tinham recebido a mesma mensagem plena de actualidade.
Não sendo eu um seguidor do pensamento de Eduardo Prado Coelho pois divirjo de muitas das opiniões que ele exprimiu no “Público”, bem como em outros meios, opiniões que vão contra a minha consciência de cristão, não posso deixar de dizer que esta sua última crónica me tocou particularmente pois expressa, de forma inteligente e clarividente, o que também há muito penso do comportamento da nossa sociedade e de mim próprio que não deixei de ser moldado à sua imagem.
Começa ele por dizer:
“A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país.”
Foi esta última frase que me ficou a “bater” na cabeça, procurando responder-lhe à luz da minha Fé em Cristo. E foi então que, ontem, domingo, ao ler a crónica semanal do Frei Bento no mesmo jornal “Público” sob o título “A triste figura dos discípulos”, na qual ele faz também uma reflexão, usando outras palavras, sobre o mesmo tema colocado há quatro anos por Prado Coelho, comecei a encontrar parte da resposta ao problema e que julgo deve ser encarada por todos aqueles que se dizem cristãos. No seu texto semanal, Frei Bento escrevia:
“Hoje, está na moda fazer dos políticos os bodes expiatórios de todos os nossos males, precisamente, porque transferimos, para eles, de forma mágica, a salvação do país, distraindo-nos da nossa intransferível responsabilidade cívica. Alienamo-nos, repetindo que eles não deixam espaço à sociedade civil, mas é esta que se demite da sua vocação e entrega tudo na mão dos partidos que, por natureza, são apenas parte da acção política.
A vida em sociedade tem muitas dimensões e expressões e, por vezes, os meios de comunicação, cegos pela poeira dos acontecimentos políticos e por tudo o que corre mal, roubam, aos cidadãos, o país real, na sua complexidade. A verdade passa a ser a representação que eles nos distribuem. Por outro lado, a publicidade torna as pessoas infelizes se não comprarem as suas propostas. Ora, é a civilização expressa nessas propostas que está falida.”
Ora, Eduardo Prado Coelho, depois de desenvolver a crónica a que aludi à volta das razões porque faz a afirmação inicial, procurando colocar as alternativas de resposta, conclui:
“Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro de que o encontrarei quando me olhar no espelho.
Aí está, não preciso de o procurar noutro lado.
E você, o que pensa?... Medite!”
Este texto escrito, como disse, há quase quatro anos continua de uma enorme actualidade e, se fosse escrito por um cristão, não teria mais importância e relevo do que a que Prado Coelho lhe imprimiu. Quantos de nós temos coragem de nos olhar no espelho? Quantos de nós confrontados com a passagem dos Evangelhos sobre a mulher adúltera estaremos em condições de cumprir a Lei de Moisés como pretendiam os que a prenderam? E qual de nós não pensou, ou agiu, como os apóstolos discutindo quem seria o primeiro, quem se sentaria a direita e esquerda do Senhor, procurando um lugar de poder? E quantos de nós, perante situações em que devemos assumir uma posição não adoptamos a atitude de Pilatos, abstendo-nos de uma atitude, seja nas palavras, seja nos actos, “lavando, por isso, as nossas mãos”?
Neste tempo de quaresma e renovação bom seria que todos meditássemos, pelo menos, sobre a passagem do Juízo Final do Evangelho de São Mateus e procurássemos responder às perguntas que Jesus, no seu trono de realeza nos fará quando nos encontrarmos de novo com Ele. E essas respostas mais do que uma obrigação de todos os dias, são questões com que vamos ou estamos já a ser confrontados nestes tempos de crise nacional por que estamos a passar. Oxalá cada um de nós pense nas respostas que temos de dar como cidadãos perante o nosso país e sejamos capazes de olhar para os nossos irmãos, não condenando-os pelos excessos que eventualmente fizeram, mas ajudando-os a superar as enormes dificuldades por que vão passar partilhando com eles como os primeiros cristãos pondo os nossos bens em comum.
Os bens que Deus nos dá não são para guardarmos mas para nos alimentarmos como os pássaros dos céus, para nos vestirmos como os lírios dos campos e servi-Lo e dar-Lhe graças, sendo que um dos maiores serviços a Deus é cumprir o segundo mandamento que Jesus nos ensinou e amar o nosso irmão indo ao encontro dele e saber "dar a César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus".
Hugo
O texto de Eduardo Prado Coelho é muito feliz e coloca-nos perante a nossa responsabilidade individual e colectiva. E de facto, se é um apelo cívico para todos, para os critãos deve ser uma exigência de quem quer viver à maneira de Jesus.
ResponderEliminarEssa responsabilidade, para mim, passa também por não pactuar com a injustiça, a violência e a mentira, na sociedade e na Igreja. Como Jesus fez, o que o conduziu à morte. Como também sucedeu com Luther King, que bem sabia que na luta pacífica que travava arriscava a própria vida.
E há também gestos simples mas decisivos, como o de Rosa Parks, costureira negra, que em 1955, se recusou a ceder o seu lugar a um homem branco. O simples gesto de ficar sentada, porque lhe doíam os pés e tinha consciência da sua dignidade, foi o rastilho que veio o culminar com a revogação da lei da segregação racial nos EUA.
De facto, tenho pensado muito nisso: como foi possível deixarmos andar as coisas até este ponto? Esta pergunta é uma cruz.
ResponderEliminarArmando
Não retirando a pertinência das reflexões acima reproduzidas, devo no entanto esclarecer, a bem da verdade que: nem o texto é de Eduardo Prado Coelho, nem foi a sua última crónica, nem foi publicado no Público, nem sequer é de 2007.
ResponderEliminarEm 2005 tracei então já um seu roteiro, que podem consultar aqui:
http://ablasfemia.blogspot.com/2005/11/anatomia-de-um-11-boato.html
p.s. não deixa de ser interessante reflectir como textos apócrifos, senão mesmo falsos, ganham uma vida própria....
Caro Gabriel
ResponderEliminarMuito obrigado pelo puxão de orelhas merecido. Procuro sempre ter cuidado com estas mensagens mas, mais uma vez, fui apanhado por estes "truques" da internet. Nem a minha escassa experiência neste mundo da internet me desculpa.
Espero, no entanto, que apesar do texto não poder ser atribuído a quem o atribui e a quem não posso, infelizmente, apresentar as minhas desculpas, possa ter algum interesse para o fim que pretendi alcançar. As minhas desculpas aos leitores do REGADOR.
Hugo Meireles