Nestes tempos difíceis que vivemos no nosso país e no mundo que nos rodeia – veja-se a catástrofe que se vive com a seca na região do corno de África, com a fome que assola a Somália e nos milhares de pessoas, sobretudo os mais jovens e os mais velhos, que morrem todas as semanas - tenho procurado respostas nas leituras que vou fazendo, em particular das que todos os dias me enviam do Evangelho Quotidiano (EAQ).
Ontem, como me é habitual, fiz a primeira leitura da missa vespertina na igreja que costumo frequentar e uma frase da mesma me ressaltou de imediato e me levou a reflectir nessas palavras do Livro 1.º Reis 3,5.7-12 "Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para saber distinguir o bem do mal".
Estas palavras passaram a vir-me à memória todo o dia de hoje, dia em que tive a oportunidade de reflectir nas mesmas face a outras leituras que fui fazendo, particularmente sobre as notícias do dia e, também, da crónica do Frei Bento Domingues no jornal Público.
Referi já a catástrofe que se vive em África, catástrofe provavelmente idêntica a muitas outras que se vivem pelo mundo fora, mas que se vivem também no nosso quotidiano face às muitas dificuldades por que o país está a passar. Mas outras notícias mais mundanas fizeram parte da minha reflexão como, por exemplo, a morte da cantora Amy Winehouse, morte provocada pela procura de prazeres e sensações imediatos, como acontece em tantas situações da nossa vida.
Provavelmente quem estiver a ler estas linhas perguntará: o que é que isto tem a ver com as palavras da primeira leitura?
Bom, das minhas reflexões fez parte, também, a leitura da crónica do Frei Bento Domingues, a qual refere um texto anónimo conhecido como Carta de Diogneto (este texto que descreve o modo de vida dos cristãos do Séc. II pode ser consultado em http://www.snpcultura.org/pedras_angulares_a_diogneto.html) a qual diz a certo passo que "Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes".
Então porque se distinguem os cristãos para serem perseguidos e mortos, como se diz na Carta de Diogneto? Certamente pelo que se lê mais adiante "(...) Amam todos e por todos são perseguidos. (...) São pobres mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas de tudo abundam".
Ora, para que se possa viver de forma cristã é necessário pedirmos ao Senhor, como fez Salomão, "dai-nos um coração inteligente...", um coração para podermos amar os outros, mesmo os que não conhecemos, e uma inteligência para perceber que não são as riquezas do mundo que nos "enriquecem" pois partilhando mesmo o pouco que possamos ter ficaremos ainda mais ricos, com mais "abundância" como dizia esse anónimo do Sec. II.
Das muitas notícias que todos os dias nos são trazidas, das muitas conversas que vamos partilhando com este ou aquele, da nossa própria vivência, uma coisa ressalta: estamos muito mais atentos e apegados ao supérfluo, ao mundano, aos bens materiais, em suma à nossa própria pessoa a ponto de nos esquecermos frequentemente das palavras de Jesus quando nos diz "ama a Deus sobre todas as coisas e aos outros como a ti mesmo!".
Assim, a receita que deveríamos adoptar nestes tempos conturbados, em particular todos os que temos uma responsabilidade acrescida por nos dizermos gente de Cristo, não era procurarmos recompensas mundanas ou riquezas que só servem para nos ofuscar e impedir de ver a verdade - porque tanta gente, eu incluído, passa a vida a sonhar em ganhar o Totoloto ou o Euromilhões para ter na terra recompensas efémeras esquecendo as palavras do Senhor que nos diz que quem recebe as recompensas na terra não as pode esperar receber também nos Céus (Mt. 6,2) - mas pensarmos qual a forma de podermos ajudar o nosso próximo, seja na crise que vivemos no nosso país, seja nas muitas crises de que tomamos conhecimento e que acontecem por esse mundo fora. Para encontrarmos a resposta bom seria fazermos como Salomão e pedirmos apenas um coração inteligente.
Ainda a este propósito ouso, com toda a humildade de quem precisa de todas as ajudas para crescer como cristão, aconselhar uma nova leitura do Livro dos Provérbios, capítulos 10 a 22, pois aí talvez encontremos algumas mensagens que possam ajudar a nossa vontade de mudar o nosso coração.
Hugo Meireles
Obrigado pela partilha, que nos enriquece a todos. Nesta leitura dos acontecimentos que nos cercam gostaria de chamar a atenção para os atentados na Noruega e em especial para a reação deste povo. Para a grande maioria a resposta a estes atentados deve ser mais amor e não acicatar ódios. Uma reação tão positiva a um acontecimento tão trágico.
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