Noticia hoje o jornal “Público” (http://m.publico.pt/Detail/1505640) que o cardeal patriarca, D. José Policarpo, foi chamado a Roma por causa de recentes declarações que fez, em Junho passado, numa entrevista à Revista da Ordem dos Advogados (http://www.oa.pt/upl/%7B28366284-16ca-42e4-af71-343f83619de7%7D.pdf). Nessa entrevista, questionado sobre a ordenação das mulheres, afirma: “Penso que não há nenhum obstáculo fundamental. É uma igualdade fundamental de todos os membros da Igreja”.
Esta afirmação gerou, na altura e nos meios católicos portugueses, uma forte reacção negativa, particularmente nos mais conservadores, já que dos outros poucas opiniões se ouviram. Essa reacção negativa levou D. José Policarpo a fazer um desmentido às suas afirmações no site do Patriarcado de Lisboa (http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?id=904), desmentido que, no entanto, não pode anular a afirmação anteriormente onde afirma que “teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental” e que “…A mudança nesta matéria ocorrerá… se Deus quiser que aconteça e se estiver nos planos Dele acontecerá”.
A propósito de declarações idênticas e como também foi na altura publicitado no mesmo jornal “Público”, William Morris, bispo de Toowoomba, Austrália foi demitido do cargo por declarações idênticas proferidas em 2006.
Não me pode deixar de causar surpresa esta posição da hierarquia suprema da Igreja, particularmente num tempo em que escasseiam as vocações, em que se abrem novos horizontes e necessidades à evangelização, agora não aos selvagens e ímpios mas aos povos da Europa civilizada e dita católica.
Mas mais do que surpresa causa-me profunda apreensão esta forma de proceder da hierarquia, pressionando os seus membros a calarem o que pensam, mesmo que nisso acreditem, como se deduz da notícia em causa na qual se afirma que o Cardeal Patriarca “ …recebera uma carta do cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (cargo anteriormente ocupado pelo actual Papa Bento XVI), órgão que zela pela Teologia oficial” e que “…manifestou um ar grave após ter lido a carta”.
Quero aqui deixar bem claro, mais uma vez, como o fiz a propósito do que escrevi sobre a entrevista a Teresa Toldy, que sou um defensor do papel da mulher na Igreja em igualdade com o homem.
Sem ser suportado em nenhum argumento teológico seguro, mas antes invocando a tradição da Igreja, ao que sei, pois não sou teólogo como na anterior intervenção que citei já disse, os seus responsáveis passam em claro a acção de Nosso Senhor, Jesus Cristo, na libertação das mulheres às quais atribuiu um papel de grande importância, facto de ainda maior realce se se atender à época e à cultura em que Jesus viveu.
São, de facto, abundantes os episódios em que a mulher assume um papel de relevo na vida de Jesus, podendo citar-se, a este propósito, a figura de Maria Madalena primeira pessoa a quem Jesus se manifestou depois da sua Morte e Ressurreição, ou a figura de Maria, irmã de Marta e Lázaro, sem esquecermos o diálogo com a Samaritana.
Ora, se Jesus quis dar esse papel às mulheres no seu tempo, porque razão lhe negamos hoje a possibilidade de virem, nem que seja de forma gradual, para não “chocar” mentes mais empedernidas, a assumir um papel na Igreja em todas as áreas de acção para que Jesus nos chamou? Não foi Jesus que disse “Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc. 10, 42b)? Então porque hão-de os homens questionar a humanidade da mulher? E se Jesus tivesse incarnado numa mulher, facto que nada me repugna aceitar pois para Deus homem e mulher são uma e a mesma criatura? Como reagiriam os “homens” da Igreja?
Longe vão os tempos corajosos de D. António, bispo do Porto, que assumiu frontalmente a defesa dos valores cristãos em que acreditava, desafiando os poderes civis e religiosos da altura e sofrendo o exílio por causa das suas ideias. Terão regressado esses tempos à Igreja?
Felizmente, como é nosso hábito dizer, acredito que “Deus não dorme” e por isso nele confio para que se possam realizar as palavras de D. José Policarpo “se Deus quiser que aconteça e se estiver nos planos Dele acontecerá”!
Hugo Meireles
“se Deus quiser que aconteça e se estiver nos planos Dele acontecerá”!
ResponderEliminarComo é que alguém com fé, como é certamente Bento XVI, pode pôr em causa esta frase que remete para a vontade de Deus?
Ou o Vaticano está acima de Deus?
As palavras de D. José Policarpo são sensatas. Tive pena que tivesse aceitado retratar-se.