2024-09-07

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do XXIII Domingo do Tempo Comum, 8 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (gravado em setembro de 2021)

 

 

EVANGELHO (Mc. 7, 31-37)

Naquele tempo, Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole.
Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele.
Jesus, levando-o a sós para longe da multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos
e com saliva tocou-lhe a língua.
Depois, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe:
«Effathá», que quer dizer «Abre-te».
Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua
e começou a falar corretamente.
Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém.
Mas, quanto mais lho recomendava, tanto mais intensamente eles o apregoavam.
Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem».

DIÁLOGO

O Evangelho de hoje fala-nos de outro milagre de Jesus. Podemos imaginar como se passou.
Vemos Jesus a fazer uma sucessão de gestos simbólicos.
Marcos diz-nos que Jesus levou o surdo para o lado, a sós para longe da multidão.
A palavra utilizada para "o levar de lado (apo-lambano) é geralmente traduzida como "receber" em vez de "levar". Ficamos assim com a impressão que Jesus ao afastar-se com o homem, estava a recebê-lo na sua companhia privada, para um encontro mais pessoal, que não podia acontecer no meio de uma multidão.
Jesus realizou então a cura, colocando os seus dedos nos ouvidos do homem e pondo a sua própria saliva na sua língua.
Esses gestos de cura eram típicos do meio cultural de Jesus.
No entanto, a vontade de tocar uma pessoa doente era um sinal de solidariedade e o partilhar a sua própria saliva com o homem, era um gesto de intimidade especial.
Depois de fazer estes gestos, Jesus assumiu uma atitude de oração, de relação com Deus Pai, “Ergueu os olhos ao Céu” e “suspirou”, que no original significa rezar a pedir com muita intensidade. São Paulo (Rom 8, 26) diz que é o modo de fazer do Espírito Santo “que intercede por nós com suspiros sem palavras” .
Então Jesus com a intensidade dum forte suspiro, diz “Effatha!”, uma palavra em aramaico, a língua que Jesus falava, que se traduz "Abre-te".
Imediatamente o surdo-mudo se abriu à comunicação, ouvindo e falando.
Jesus não diz aos ouvidos "Abram-se" e à boca "Abre-te". É ao deficiente que diz "Abre-te".
É como se Jesus lhe tivesse dito: "Ouve, mas não basta ouvires palavras, também tens de ouvir, com o coração». E completasse: “Fala, mas não basta dizeres palavras, é preciso que também comuniques”.
O evangelista Marcos tem o cuidado de nos dizer que o falar do homem só se tornou compreensível depois de os seus ouvidos terem sido abertos.
Tanto a nível natural como a nível espiritual, a audição deve preceder a fala.
Até a sabedoria popular diz que Deus nos deu dois ouvidos e uma boca para escutarmos duas vezes mais do que falamos.
Jesus ensina-nos aqui que o importante nas relações humanas é haver encontro de pessoas.
Jesus quer que o nosso coração e toda a nossa pessoa escutem as palavras que Ele nos dirige.
As suas palavras são-nos dirigidas pessoalmente na intimidade dos nossos corações, como o fez com o surdo-mudo.
Jesus vem para curar e salvar a pessoa inteira, para dar sentido às nossas vidas, sejam quais forem os acontecimentos que as vão marcando.
Que a palavra que Jesus disse com toda a sua energia “Effatha”, possa continuar a ser ouvida no nosso íntimo, enchendo-nos de confiança que o Amor de Deus pode realizar milagres inimagináveis, para bem de toda a humanidade, através de cada um de nós.

     frei Eugénio, op (2021.09.09)

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