2007-04-30

Ressurreição / Inssurreição

«Se Cristo está em Deus, está com todos aqueles com quem Deus está, seja onde for. Cristo é nosso contemporâneo. Sempre me aborreceu a ideia de ir a Jerusalém por causa dos lugares santos. Onde houver gente necessitada, gente que precise de presença, de cuidados, há um lugar maldito que é preciso santificar.
No simbólico tribunal da História (Mt 25), ninguém é julgado por não ter visitado a chamada Terra Santa. Mas encontra-se ou desencontra-se com os lugares santos se socorre ou não os doentes, os presos, os nus, os famintos, os abandonados.
A “Terra Santa” da Igreja devem ser os bairros mais abandonados das grandes cidades e, sobretudo, o vasto mundo dos pobres, dos quase mil milhões que vegetam com menos de 73 cêntimos por dia.
A Igreja só testemunha a ressurreição quando participa na insurreição contra tudo aquilo que estraga a vida das pessoas. É essa vontade que a leva a acreditar que aquilo que já ninguém pode fazer, Deus o faz na insurreição contra a morte.»
Bento Domingues, Público, 29.04.2007

2007-04-29

Catarina de Sena

Catarina de Sena (1347 - 1380)

«Aquele que quer ir ao Pai, que é a vida eterna, deve seguir neste mundo o Verbo, que é o caminho (...) e aquele que segue esta via não mergulha em águas turvas, mas num oceano límpido e imenso.»


«A alma que mergulha em Deus, é como aquele que mergulha no mar e nada debaixo de água: só vê e encontra água do mar e o que esta contém. Além desta água, nada vê, nada toca, nada apalpa. Os objectos exteriores só os vê quando se refletem na água, mas só na água e na medida em que nela estão e não de outro modo.»


Oração a Jesus Crucificado:

«Jesus, Tu tens a cabeça inclinada para nos saudar;
uma coroa na fronte para nos embelezar;
os braços abertos para nos abraçar;
os pés cravados para connosco ficar

2007-04-27

VIVA O EVANGELHO de Domingo, 29 de Abril

Jo. 10,27-30.
«As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me. Dou-lhes a vida eterna, e nem elas hão-de perecer jamais, nem ninguém as arrancará da minha mão. O que o meu Pai me deu vale mais que tudo e ninguém o pode arrancar da mão do Pai. Eu e o Pai somos Um.»

2007-04-25

Intolerância

Três pessoas foram assassinadas numa editora de Biblias, em Malatya, na Turquia, no dia 18 de Abril de 2007, num ataque de cariz religioso que voltou a acender a discussão sobre o regime turco.

Vale a pena ler esta notícia para que o Acutilante nos chama a atenção e de que se reproduz esta passagem:

«Nevertheless, there is no longer any doubt that Turkey has run into serious difficulties as far as the development of its civil society is concerned. The murder of the Turkish Protestants exposes a deep-seated problem: Turkey is at a standstill - or even regressing - when it comes to key issues like tolerance and pluralism. "In Germany, Turks residing there have opened up more than 3,000 mosques. If in our country we cannot abide even by a few churches, or a handful of missionaries, where is our civilization?" wrote Ertugrul Özkök, editor-in-chief of leading secular Turkish daily Hürriyet, in a hard-hitting editorial on the murders. "Where is our humanity, our freedom of belief, our beautiful religion?" he asks.»

2007-04-22

Desafios

«Seja como for, num balanço provisório, toma-se cada vez mais consciência de que, com este Papa ou outro, a grande questão para a Igreja Católica enquanto instituição global vai ser a sua capacidade ou não de, conservando a unidade no essencial, exprimir-se nos diferentes domínios - teológico, litúrgico, jurídico-organizacional e até moral - de modo plural, no respeito pelas diferentes culturas em que está inserida. Mais tarde ou mais cedo, vai ser necessário um novo Concílio, precisamente com a missão de descentralizar.»
Anselmo Borges, no DN de ontem.

VIVA O EVANGELHO de Domingo, 22 de Abril

Jo. 21,1-19.
Naquele tempo, Jesus apareceu outra vez aos discípulos, junto ao lago de Tiberíades, e manifestou-se deste modo: estavam juntos Simão Pedro, Tomé, a quem chamavam o Gémeo, Natanael, de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar.» Eles responderam-lhe: «Nós também vamos contigo.» Saíram e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper do dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Jesus disse-lhes, então: «Rapazes, tendes alguma coisa para comer?» Eles responderam-lhe: «Não.» Disse-lhes Ele: «Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar.» Lançaram-na e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar. Então, o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!» Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, apertou a capa, porque estava sem mais roupa, e lançou-se à água. Os outros discípulos vieram no barco, puxando a rede com os peixes; com efeito, não estavam longe da terra, mas apenas a uns noventa metros. Ao saltarem para terra, viram umas brasas preparadas com peixe em cima e pão. Jesus disse-lhes: «Trazei dos peixes que apanhastes agora.» Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra, cheia de peixes grandes: cento e cinquenta e três. E, apesar de serem tantos, a rede não se rompeu. Disse-lhes Jesus: «Vinde almoçar.» E nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe. Esta já foi a terceira vez que Jesus apareceu aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.

2007-04-16

Ainda a entrevista a João Manuel Resina Rodrigues

«Cristo veio a este mundo entender-se connosco, veio experimentar isto... (...) Veio ter connosco, veio dignificar a condição humana, veio experimentar o que nos tinha dado, veio ser fiel e dar exemplo de fidelidade até ao fim: amou-os até ao fim, não voltou atrás. Tanto que, na véspera, pediu ao Pai que, se fosse possível, lhe [retirasse] esse cálice. Se tivesse sido combinado, seria estupidez estar a pedi-lo. Cristo tomou isto a sério, não brincou.
É um grande desafio o texto do evangelho, [quando Jesus está] na cruz: "Pai, porque me abandonaste?"
Cristo aceitou experimentar o que é isso de andarmos aos papéis, em certas alturas

«A essência da verdade é a liberdade. Este tema concorda com a ideia da verdade [que] libertará. Quando Jesus disse isso, os judeus não perceberam e a Igreja também nunca entendeu. A Igreja, o que quis sempre, foi ter um bando de meninos bem comportados. O ideal da Igreja, como o do marxismo soviético, era ter um jardim-de-infância, tudo muito feliz, muito bem comportado, todos de bibe, ninguém fazia disparates. A Igreja não é isso, o evangelho não é isso.
Jesus veio a este mundo, viveu, enfrentou, não teve medo de tomar posições contra a ortodoxia, dizer mal da lei e do templo. Não se podia tocar num leproso e ele toca num leproso...»

«Jesus quis que os discípulos andassem unidos, que rezassem juntos e celebrassem juntos a eucaristia. Não tenho interesse nenhum em acabar com a Igreja. Por outro lado, patetas somos todos e temos feito broncas ao longo dos tempos e muitas vezes ensinamos e vivemos coisas que são frontalmente contrárias ao evangelho - por exemplo, a Inquisição. Qual é a minha solução? Ter paciência. Escrevi uma vez que, se isto fosse uma fábrica e eu engenheiro, eu saía. Mas eu não considero isto uma fábrica da qual sou engenheiro.»

2007-04-13

VIVA o EVANGELHO de Domingo, 15 de Abril

Jo. 20,19-31.
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco!»
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes:
«A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.»
Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»[...]
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse:
«A paz seja convosco!»
Depois, disse a Tomé: [...]
«Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto». Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.

2007-04-12

O Rei Canuto à beira-mar

Há muito tempo, a Inglaterra era governada por um rei chamado Canuto.
Como costuma acontecer com muitos líderes e homens de poder, Canuto estava sempre cercado de pessoas a enaltecê-lo. Bastava entrar num aposento qualquer e já começavam os elogios.
— Vossa Excelência é o homem mais glorioso que já surgiu na face da terra — dizia um.
— Jamais haverá alguém tão poderoso quanto Vossa Majestade — reforçava outro.
— Nada há que Vossa Alteza não seja capaz de fazer — comentava entre sorrisos um terceiro.
— Grande Canuto, monarca de todos! Nada neste mundo ousa desobedecer a vossas ordens — alguém mais dizia em seu louvor.
O rei era uma pessoa bastante sensata e estava a ficar cansado de todas essas tolices.
Um dia, caminhava pela beira-mar, e os seus reais dignitários e fidalgos acompanhavam-no, tecendo-lhe elogios como de costume. Canuto decidiu ensinar-lhes uma lição.
— Pois então, dizeis que sou o maior do mundo? — perguntou a todos os presentes.
— Ó rei — responderam — nunca houve alguém tão poderoso, nem jamais existirá quem tenha tanto valor!
— E dizeis também que tudo me obedece?
— Perfeitamente! O mundo curva-se diante de vós e honra-‑vos.
— Entendo — disse o rei. — Então, trazei minha liteira, e vamos para a água.
— Imediatamente, Alteza! — E desceram todos, carregando o assento real pelas areias da praia.
— Vamos mais para perto — ordenou Canuto. — Colocai a liteira aqui mesmo, na beira da água. O rei então sentou-se e ficou a espreitar o oceano à sua frente. — Vejo que a maré está subir. Deter-se-á, se eu assim ordenar?
Os conselheiros ficaram perplexos, mas não ousaram dizer que não. — Ordenai, ó Grande Rei, e o oceano obedecer-vos-á — garantiu-lhe um deles.
— Pois bem! Oceano — gritou Canuto — ordeno que te detenhas. Maré, interrompe o teu fluxo. Ondas, deixai de quebrar. Não ouseis tocar-me.
Esperou em silêncio alguns instantes, até que uma pequena onda veio espraiar-se aos seus pés.
— Como ousas! — gritou Canuto. — Oceano, retorna agora. Mandei que te recolhas diante de mim, e deves obedecer-me agora. Retorna.
E a resposta foi outra onda que veio quebrar bem ali, juntinho aos pés do rei. A maré subia, tal como sempre fizera. A água aproximava-se cada vez mais. Atingiu a liteira, e molhou não somente os pés do rei, mas também o seu manto. Os conselheiros estavam todos ao redor, alarmados, e curiosos para saber se ele não se irritaria.
— Ora, meus amigos — disse Canuto — parece que não tenho tanto poder quanto me fazeis acreditar. Talvez tenhais aprendido algo no dia de hoje. Talvez agora saibais que só há um Rei todo-poderoso, que governa o mar e detém o oceano na palma da mão. Sugiro que guardeis as vossas expressões de louvor para Ele.
Os conselheiros e dignitários do rei deixaram cair a cabeça e sentiram-se tolos. E dizem por aí que, pouco depois, Canuto tirou da cabeça a coroa e jamais tornou a usá-la.

William J. Bennett
O Livro das Virtudes
Editora Nova Fronteira, 1995
Adaptação

2007-04-08

Jesus não explica o mal, mas convida-nos a combatê-lo, com Ele

Extracto da entrevista a João Manuel Resina Rodrigues (conduzida por António Marujo) na PUBLICA de hoje (que é obrigatório ler):

«O mal no mundo é uma coisa trágica e é o grande desafio. Se há razão para se perder a fé, é o mal. Por outro lado, há coisas boas no mundo, há amor e verdade. Como diz um livro que ainda há dias estive a ler: porque é que Deus existe se há mal, porque não existe Deus se há bem?

A fé cristã é acreditar em Deus, mas é não deixar de reconhecer que o mal é um grande problema. O mundo sem mal não era possível, mas Deus teve a coragem de nos pedir que aceitássemos este mundo. Aceitar este mundo não é ter uma explicação sobre porque é que há mal, é tentar fazer o melhor que se pode: tentar, como Jesus nos ensinou, lutar contra a pobreza, contra a miséria, contra o ódio, com amor.

Deus sabia que era tão duro, que achou que era honesto vir experimentar. Jesus veio experimentar, mas não nos deu as explicações que às vezes queremos. Isto ouvi quando andava no Técnico. Havia a Acção Católica e a JUC, Juventude Universitária Católica e a JUCF, das raparigas, que tinha um assistente que era um jesuíta, o padre Domingos Maurício. Era um historiador de valor e um homem muito inteligente. Uma vez, ele disse uma coisa que me ficou na memória: "Vocês podem ler o evangelho da frente para a trás ou de trás para a frente e nunca encontram Jesus a explicar porque é que há mal." É uma evidência e Jesus de certa maneira ajudou os discípulos a perceber essa evidência.

Há uma coisa que ele disse: "Venham lutar contra o mal, venham comigo." É um erro quando os padres e as pessoas devotas se põem a explicar coisas sobre o mal.

O que há a fazer é pensar como Jesus: há muita coisa mal no mundo, vamos tentar melhorar o que pudermos e, se não se melhora à pancada, melhora-se com amor e com rectidão. »

Ressuscitou, ALELUIA !

«É evidente que a ressurreição nada tem a ver com a reanimação do cadáver, pois, se fosse isso, a pessoa voltaria a morrer.
A ressurreição é a afirmação de fé, com razões, de que Jesus, na morte, não soçobrou no nada, mas foi encontrado pela plenitude do mistério inominável de Deus.
O que é e como é esse encontro ninguém sabe - a ultimidade transcende a razão científica, empírico-matemática. Mas aqueles que acreditam em Deus, o Vivente, que é Amor, Criador de todas as coisas, Fundamento e Sentido último de tudo quanto existe, fazem suas aquelas palavras que, noutro contexto, Espinosa deixou: "Sabemos e experienciamos que somos eternos.
"Quem não viveu na superfície das coisas, quem perguntou até à raiz de tudo, quem se exaltou com a beleza, quem alguma vez teve um gesto absolutamente gratuito de amor, quem se deixou surpreender pelo abismo infinito do olhar de alguém, quem tentou descer até ao fundo sem fundo de si, quem foi abalado pela exigência incondicionada do dever, quem se deixou tocar por um tu que não se possui nem domina, quem foi alguma vez avassaladoramente visitado pela pergunta inconstruível: "Porque há algo e não nada?", foi tangido pela fímbria da eternidade.»

2007-04-06

A Eucaristia não é para santos

«Toda a celebração deve respirar, nos gestos, nas palavras, no canto, a alegria de sermos perdoados e a alegria de darmos o perdão.
A Eucaristia não é de santos, não é um sacramento celestial. É um sacramento da terra, do pão, do vinho e dos trabalhos dos seres humanos.
Se excluirmos os pecadores, em processo de conversão, da Eucaristia, estaremos numa celebração de fariseus, de convencidos que saem piores da missa do que quando dela se aproximaram.»
(...)
«Se Jesus Cristo ressuscitado não for o primeiro a chegar – em toda a sua realidade – à missa e a presidi-la, não haverá missa. E isto é muito difícil de reconhecer. Estamos sempre à espera que o padre chegue ou à espera que ele já tenha chegado. Ora, o padre é, apenas, o sacramento – sinal e instrumento se o não atraiçoar – da presidência de Cristo ressuscitado. Não vem substituir Cristo. A “presença real” de Cristo não começa, pois, na Consagração...
Sobre a “presença real”, a primeira questão é esta: estamos, aqui, realmente presentes uns aos outros ou somos irreais uns para os outros? A saudação da paz não é uma garantia. Acontece que saudamos o vizinho do lado, na missa, mas acabada a missa continuamos estranhos. No entanto, não podemos esquecer uma observação que circula há bastante tempo: procurei a Deus e não o encontrei; procurei a minha alma e não a encontrei; procurei o próximo e encontrei os três.
Seremos, fora da missa, presença real aos pobres, aos sem abrigo, aos desempregados, aos emigrantes (ou somos do partido nacionalista)?
Se esses mundos tiverem alguma coisa contra nós – os que vamos à missa – Cristo apressou-se a dizer-nos a reconciliação que temos de fazer.
S. João, que tem um grande discurso sobre o pão da vida, não relata as palavras da Consagração. Substituiu-as pelos gestos do serviço – o lava pés – sem conotação religiosa. Jesus, aliás, não era um grande liturgo.
O que nos torna realmente presentes a Deus – que nos está sempre presente – é a fé, a esperança e a caridade. São os actos destas virtudes teologais que nos tornam presentes a Deus e aos irmãos

Frei Bento Domingues, homilia de quinta-feira santa