2006-09-25

O diálogo necessário com o Islão

«A raiva de muitos islâmicos às sociedades ocidentais exprime também uma condenação moral, tal como acontecia no comunismo. Por isso é curto explicar o "fascismo islâmico" e o terrorismo que ele promove apenas com razões económicas (exploração dos povos muçulmanos pelos ocidentais) ou políticas (indignação pelas guerras do Iraque, do Líbano, etc.).
Assim, é um erro - e faz o jogo dos radicais - desvalorizar à partida toda e qualquer crítica islâmica à nossa maneira de viver. Há quem tema ser visto como "amigo de terroristas" se não diabolizar o islão. Ora, tal como a ameaça comunista levou a atenuar injustiças no capitalismo, importa dar atenção a algumas críticas islâmicas às nossas sociedades. Estas não são o paraíso nem chegámos ao fim da História.»
Francisco Sarsfield Cabral, ontem no DN.

2 comentários:

  1. Tenho acompanhado com particular interesse a polémica que se instalou à volta do discurso do Papa. E se numa primeira reacção, me pareceu desajustada a “acusação” feita ao Islão, após uma leitura mais atenta do que vem sendo dito e escrito por personalidades dos mais variados quadrantes, políticos e religiosos, a minha opinião modificou-se.

    Deste texto que hoje se refere, importa reter as palavras finais que transcrevo:

    “(…) É verdade: com Constantino, a Igreja associou-se ao poder imperial de Roma. E, depois da Reforma protestante, os povos tinham de seguir a religião dos príncipes. Só que a raiz da distinção está no Evangelho: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus".

    Já o Alcorão parece impor a lei religiosa na vida civil. Mas nem por isso deve dar-se por adquirida uma incompatibilidade absoluta entre islamismo e democracia. A História dá muitas voltas. E as interpretações teológicas também.”

    No contexto actual, não é fácil lidar com uma cultura que substitui o diálogo por uma desenfreada berraria, com laivos de ódio e insulto, e que procura impor a sua razão através da violência. Obviamente que este não é o comportamento do mundo islâmico moderado, nem dos que acreditam em Deus como um ser de Bondade Suprema. Há no Islão, como no Cristianismo, aqueles que promovem a caridade e o amor como essência da sua religião. Mas, o momento actual é infelizmente dominado pelo ódio ao ocidente, aos valores que defende e às liberdades de que goza.

    Talvez muito do que se passa seja influenciado pelas imagens sensacionalistas que os meios de comunicação social nos transmitem todos os dias. Na ânsia de venderem ou de atingirem “shares”, esses meios de comunicação, em lugar de promoverem o diálogo sereno, apenas exaltam ânimos com essas imagens de multidões ululantes que em nada representam o mundo do Islão. São antes multidões manipuladas por interesses de poder e não pela crença num Deus que nunca proclamou a violência para se impor.

    Se, ignoradas estas imagens, formos capazes de aceitar que no Islão também é possível seguir as palavras de Jesus, “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, como diz o articulista citado, ou seja, separar a religião do estado, talvez o diálogo inter-religioso destas duas culturas em confronto se torne mais fácil.

    Para tanto, julgo ser necessário apoiar o diálogo com os mulçumanos moderados e não desarmar perante o discurso da violência, do ódio e do terror. A estes últimos devemos sempre afrontar, sem medo, não por seguirem uma religião diferente da nossa mas por pregarem ideais contrários ao Amor que Jesus Cristo nos veio ensinar. E este Amor devemos manifestá-lo amando aqueles que, sendo diferentes de nós na fé professada, são capazes de praticar o bem como o bom samaritano. É esta a nossa vocação de cristãos, mesmo que por isso tenhamos de sofrer essa violência. Não foi Jesus que disse “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt. 44-45)?

    É neste aspecto que o discurso do Papa Bento XVI pode ser correcto ao defender o diálogo entre a religião e a razão. É de facto necessário despirmo-nos de emoções e de preconceitos para encararmos seriamente este problema. A minha única dúvida, ainda não totalmente esclarecida, é sobre a oportunidade do discurso, em tempos já tão conturbados. Mas, se já não é possível exprimir opiniões em que tal desencadeie um ruído tão ensurdecedor que não permite o mais simples diálogo, como vamos vencer estas barreiras que todos os dias se estabelecem entre estas duas culturas? Talvez a única resposta, para nós cristãos, esteja na oração ao Deus que é o nosso e o de todos os povos.

    umamigo

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  2. A ARTE do DIÁLOGO para nós não dispensa nem a RAZÃO - a pergunta e a resposta - nem a ATENÇÃO.

    É uma arte com mestres que vale a pena frequentar: Jesus, Paulo de Tarso, Domingos de Gusmão, Tomás de Aquino,Teresa de Calcutá, Roger, ...

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