2013-06-30

A samaritana Olívia

Texto do frei Matias que consegue aliar uma escrita que é uma delicia de ler a um sentido evangélico que nos estimula ser mais humanos.
Boa leitura!
frei Eugénio

Fonte: Nós Somos Igreja

A samaritana Olívia
       
A dona Olívia fazia-me lembrar a samaritana sem nome. Aquela dos cinco maridos com um sexto do qual se comenta não ser dela. Embora se diga que a leitura dessa passagem do evangelho (Jo 4, 1-30) não deve ser literal nem lida no singular, a sua singularidade não deixa de conter muitas verdades de outras tantas realidades. A dona Olívia também teve cinco espécies de maridos, e as línguas que tendem a falar do que já é muito falado, diziam que esses eram só os conhecidos. Em rigor nenhum deles era marido, eram homens com quem viveu e a quem serviu na vida. Tal como o da samaritana, o sexto também não era dela e esse poderá ter sido mais que um. O quinto era um viúvo, ainda primo afastado que não sabia o que fazer para continuar vivo depois de a mulher ter morrido. Com ar de abandonado foi ter com a Olívia que o acolheu a ele, a um frigorífico e a uma máquina de lavar roupa. Em pouco tempo o homem parecia outro. Diziam: até já parece um homem casado. A ela não a elogiavam, nem sequer a mencionavam. Era preferível não o fazerem, pois iriam dizer que não tinha vergonha nenhuma. O quarto, o João padeiro, também tinha ficado viúvo. Tratava-a muito bem, e ela a ele melhor ainda. Entendiam-se e ele, como diziam, era amigo dela. Deixou-lhe uma pequena fortuna, para ela grande, na qual punha a sua segurança para quando fosse mais velha. Mas entregou-a ao cuidado dos filhos e alguns deles encarregaram-se de lhe abrir um caminho de saída, sem regresso, do banco para as suas dívidas. O terceiro homem apareceu na terra como vindo de lado nenhum, talvez de alguma gruta na serra ou das águas do rio. Havia muitas histórias a seu respeito: que tinha fugido a um crime, que abandonou mulher e filhos por não ter com que os sustentar, e os mais complacentes diziam simplesmente que tinha vindo parar ali à procura de trabalho. Vindo de lado nenhum agarrou-se ao lugar e à dona Olívia por alguns anos. Depois, tal como veio assim desapareceu sem deixar sinais de para onde. Os comentários mais benevolentes diziam: deve ter morrido. O segundo era um sapateiro que também tinha vindo em busca de trabalho e ali passou os dias de alguns anos ao lado da dona Olívia. Brilhante no exercício da profissão, dizia que ainda tinha forças para gastar meias solas com ela apesar de ela ser mais nova. Ela precisava de companhia e ele de uma lareira, de cobertores no inverno e de caldo quente. Ou, como diziam, precisava de tudo. O primeiro era mais ilustre. Homem já maduro, tinha um bonito cavalo que o transportava pelos caminhos de Deus e dos homens. Ela, ainda muito jovem, pouco mais que adolescente, já tinha as mãos ásperas do muito trabalho num tempo em que se geria mais a vontade de comer do que a comida. Ele, senhor de muitos bens que lhe davam pelo seu dedicado serviço, sentia debaixo do chapéu um denso peso na cabeça. A Olívia achava que ele era rico e lhe podia satisfazer muitas necessidades. Ele pensava o mesmo dela no que tocava a necessidades. Entre a troca e a partilha tiveram uma filha. Ela era simplesmente Olívia, ele era padre. Ele deixou de sentir na cabeça o peso do celibato, ela deixou de sentir um vazio na boca do estômago. Nem tudo foi assim tão simples, porque a vida é boa e bela segundo a perspectiva de onde se olha para ela. A vida da dona Olívia foi bastante colorida e diversificada, mas nem sempre boa. Nos últimos tempos ouvi-lhe dizer que desde há uns anos o seu verdadeiro marido era Jesus. Foi nesse momento que me veio à mente a Samaritana. Parece que também para ela, Jesus foi de algum modo o sétimo marido. Que dizer de uma e de outra? Eu não digo nada, que poderei dizer? Aí estão os dias e as noites na sua diversidade como juízes daquilo que somos e fazemos. A Samaritana já partiu para a luz eterna há dois mil anos. A dona Olívia partiu há dois meses. Era muito bonita, delicada e transparecia nela a serenidade contida no significado do seu nome. Sorrio quando penso que ao chegar a esse lugar sem lugar, envolto pela graça de Deus, terá ouvido uma voz a chamá-la: anda cá mulher, não há vida mais parecida com a tua que a minha. Que assim seja!
Frei Matias, O.P.
Junho 2013

2013-06-29

Diálogo com o Evangelho




Diálogo com o Evangelho de Domingo, 30 de junho, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

A vida questiona o Evangelho de Domingo, 30 de junho

Lc. 9,51-62. 

Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, dirigiu-se resolutamente para Jerusalém 
e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. 
Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém. 
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» 
Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. 
E foram para outra povoação. 
Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» 
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» 
E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» 
Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» 
Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» 
Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não está apto para o Reino de Deus.»

2013-06-28

Reportagem única de Henrique Cymerman

É uma reportagem impressionante.

Vale a pena ver até ao fim.

Diz muito do atual Papa Mário Bergoglio.




2013-06-24

Nos 100 dias da Papa Francisco


O Movimento Internacional Nós Somos Igreja emitiu um comunicado a propósito dos primeiros 100 dias de papado do Papa Francisco (21 Junho de 2013)
 
O Movimento continua à espera de mudanças na liderança da Igreja.

“Damos as boas-vindas a todos os passos dados em direcção a uma maior fidelidade ao Evangelho".

Francisco demonstrou uma aproximação que não é doutrinária, mas pastoral, que os fiéis há muito aguardavam. 

Espera-se que os seus gestos simples, mas fortes, de um ministério misericordioso e benevolente, possam mudar a atitude de todo o clero e dos que ainda mantêm formas obsoletas de prática religiosa.

2013-06-22

Diálogo com o Evangelho




Diálogo com o Evangelho de Domingo, 23 de junho, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

A vida questiona o Evangelho de Domingo, 23 de junho

Lc. 9,18-24.
Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?»
Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.»
Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.» Ele proibiu-lhes formalmente de o dizerem fosse a quem fosse; e acrescentou: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.»
Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me.
Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la.

2013-06-15

Diálogo com o Evangelho




Diálogo com o Evangelho de Domingo, 16 de junho, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

A vida questiona o Evengelho de Domingo, 16 de junho

Lc.  7,36-50.8,1-3.Naquele tempo, um fariseu convidou-o para comer consigo. Jesus entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!»
Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» respondeu ele.
«Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?»
Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.»
E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.»
Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.»
Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.» Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens.

2013-06-08

Novo relatório sobre a Palestina


Richard Falk,  relator especial das Nações Unidas (ONU) para a Palestina, acaba de publicar o seu relatório.

Pode ser lido na íntegra aqui.

Afirma que Israel e os seus aliados “distraem, distorcem e difamam para que as violações continuem” e “transformam numa paródia as negociações de paz”.

“É uma vergonha que existam organizações lobistas com o único objectivo de desviar a atenção do mundo do inaceitável registo de Israel em direitos humanos”, afirmou Richard Falk, acrescentando que “campanhas de difamação irresponsáveis e desonestas para desacreditar aqueles que documentam estas realidades não alteram os factos no terreno, 46 anos depois de Israel ter lançado a guerra que começou com a ocupação da Palestina”.

Para o relator especial, os factos no terreno são fáceis de ver: 

“Israel contínua a anexar território palestiniano; Israel persiste em demolir casas palestinianas e a povoar o território com cidadãos israelitas; Israel detém rotineiramente palestinianos sem acusação”.

Diálogo com o Evangelho



Diálogo com o Evangelho de Domingo, 9 de junho, pelo Frei Eugénio, no programa de rádio "Raízes de Cá".

A vida questiona o Evangelho de Domingo, 9 de junho

Lc. 7,11-17.
Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade.
Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.»
Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!»
O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe. O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!»
E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região.