2006-10-13

Eco do Evangelho de Domingo, 15 de Outubro

Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?»
Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus.
Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.»
Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.»
Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.»

1 comentário:

  1. O jovem rico do evangelho, reconhecidamente cidadão exemplar e atento à palavra de Deus, pôs o problema desta escolha a Jesus Cristo. Queria ter a certeza da melhor estratégia de investimento da vida de todos os dias para alcançar o prazer garantido de viver. Faltaria alguma coisa? Não, não faltava. Na opinião de Jesus, até tinha a vida muito bem orientada. Mas ele parecia querer o risco de novos investimentos. Então, Jesus lançou-lhe o isco: porque não entrar numa «joint venture» com o Mestre?

    Porém, a palavra de Cristo é a tal espada de dois gumes: temos que ser honestos para com Deus, para com os outros e para connosco, não dizendo que queremos o que não podemos ou não estando para modificar a nossa vida (Lucas, 14, 28-33). A sabedoria não é pertença nem de ricos nem de pobres, mas de quem a aprecia acima dos muitos ou poucos bens terrenos que possui. O jovem rico preservava a sabedoria acima de tudo − de outro modo Jesus não lhe teria reconhecido a honestidade e boa vontade. Mas a estratégia proposta por Jesus era-lhe demasiado estranha ao sentir e ao pensar.

    Na catequese tradicional, interpretava-se frequentemente este episódio «do jovem rico» como uma condenação da riqueza, ao mesmo tempo que se exaltava o entusiasmo de Pedro que, logo a seguir, exclama para o Mestre: mas nós não somos assim! Nós até deixámos tudo, tudinho, para te seguir de perto!

    Ora Jesus sublinha apenas que a grande riqueza material desse jovem o fez desanimar de embarcar numa vida plenamente dedicada ao maior bem de toda a gente. Não condenou a riqueza (não era Jesus sustentado pela riqueza dos seus amigos − homens e mulheres?) mas apontou como uma pessoa rica enfrenta grandes dificuldades para ser plenamente honesta. Como também é particularmente difícil a um político ou a quem quer que detenha grande poder. Todos estes facilmente embarcam numa lógica de eficácia do aumento desse poder ou dessa riqueza − tanto mais facilmente quanto mais longe vão os tempos em que se debatiam à procura de estratégias do «prazer de viver». Queira Deus – e queiramos nós – que nunca se possa aplicar o reparo de Jesus, dizendo: «como é difícil a uma pessoa religiosa, a um sacerdote, a um bispo… dedicar-se plenamente ao maior bem de toda a gente, à promoção do prazer de viver»…

    (do artigo "Liturgia Pagã" de Manuel Alte da Veiga no jornal da Diocese de Braga)

    António da Veiga

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