Como já se esperava, venceram os que defendem o aborto. Desde o início da campanha que a armadilha que foi nos colocada na formulação da pergunta fazia adivinhar o desfecho deste referendo.
De facto, a pergunta tinha duas questões distintas as quais unificou, facto que deu origem a um dilema de resolução impossível: se se era a favor da despenalização da mulher, então tinha que se ser a favor da liberalização do aborto até às 10 semanas; se se era contra a liberalização do aborto, então tinha que se ser contra a despenalização da mulher. Ou seja, não podiamos decidir uma coisa sem que essa decisão arrastasse a outra.
Fomos, assim, questionados neste quadro falacioso, infelizmente legalizado pelos nossos políticos, e pelo Tribunal Constitucional que se revelou, nesta questão, mais um órgão ao serviço da política do que da defesa dos direitos dos constituintes. E tivemos, por isso, de decidir contra a mulher e contra o seu filho. Para defender a mãe tínhamos que aceitar que se podia matar o filho; e para defender o filho, tínhamos que aceitar que a mãe podia ser penalizada.
Triste mundo (e país) em que vivemos!
Que o Senhor que hoje nos ensina a alegria das bem-aventuranças, nos ajude a sermos humildes e percebermos que os seus caminhos são insondáveis.
Que o Senhor tenha misericórdia e ilumine aqueles de quem disse: “Ai de vós, os que agora rides, porque gemereis e chorareis!”
E agora que terminou o debate e se assumiram decisões, que nós cristãos saibamos dar as mãos para encontrar as formas de ajudar os que precisam para ajudar a evitar o mal que o aborto representa. No mínimo, juntemos as nossas orações pelas mães que estão grávidas e vivem a angústia dessa decisão, e também pelos filhos que não vão ter o direito de nascer.
Que o nosso Deus nos ilumine e nos permita a humildade de acreditar nas palavras do Pai Nosso: “seja feita a Vossa vontade… e perdoai-nos as nossas ofensas…!”.
Diário outonal (2)
Há 5 anos
Para além da "solução legal" é importante, de facto, que quem acredita que «a vida é o mais precioso dom de Deus» esteja atento aos que a seu lado «agora choram» para com eles descobrir a FELICIDADE - e com amor ir abrindo caminhos de confiança e esperança.
ResponderEliminardomingas
Amigos da FAVA
ResponderEliminarDesde o início deste BLOG, que o percorro com alguma periocidade, lendo alguns textoscom atenção, passando os olhos por outros.
Nunca fiz nenhum comentário, pois não é do meu feitio pôr em público as minhas opiniões. Insegurança? Talvez...
Hoje achei que deveria dizer que alguns textos deste blog foram parte importante para a minha tomada de posição no referendo de ontem.
Obrigada e continuem.
Pequenina
Aproveito esta oportunidade para introduzir um comentário que já tinha preparado há dias, com excepção do último parágrafo que foi escrito na noite do referendo.
ResponderEliminarLi com muita atenção e isenção de espírito a achega do Hugo. Concordo com as posições de respeito pela vida intra-uterina e com as propostas práticas (algumas coincidentes com as que eu apresentei na minha carta de 6 de Fevereiro).
Mas:
- Os argumentos apresentados não me convenceram a votar Não.
- Compreendo as razões que conduzem à opinião de que devam ser punidos os que auxiliam a prática do aborto. Mas dizer só isto é pouco. É preciso buscar soluções para as mulheres que, por vários motivos, incluindo as muitas formas de manifestação de ignorância (isto também se pode aplicar a quem coage ou colabora), recorrem ao aborto ilegal e se vejam condicionadas a ter de abortar sozinhas, aumentando os riscos para a sua saúde e até para a própria vida.
- Protesto com o atribuir-me a posição de Pilatos e de comodista na minha possível opção pelo voto em branco. Como discordo de muitos pontos sobre o referendo, eu poderia optar pela abstenção, mas essa é a opção dos indiferentes ou, aí sim, dos que querem “lavar as mãos” e seria certamente a atitude mais cómoda. Também tinha a opção de anular o boletim, mas isso é o que fazem os revolucionários e aqueles que votam no protesto. Só me restava o voto em branco, para mostrar que estava empenhado no assunto, mas opunha-me quer à irresponsabilidade de um Sim à balda, sem o mínimo respeito pela vida ou projecto de vida, autónoma ou não, quer a um Não imobilista e que se mostra incapaz de discernir em face de dois males qual é o menor. A minha hipótese de votar em branco foi considerada com toda a honestidade e empenho em forçar atitudes mais consentâneas com a minha consciência. Estou tranquilo por fazer render o melhor que sei o «talento» de inteligência e busca de uma consciência esclarecida que o Senhor me entregou.
No dia 1 de Fevereiro, participei num debate sobre o referendo. Confrontei a Drª Ana Maria Braga da Cruz (defensora do Sim) com os riscos de banalização do aborto e mencionei as objecções que já conhecem, dando ênfase para que fosse aplicada imediatamente a obrigatoriedade do acompanhamento/aconselhamento à mulher que quisesse abortar. Respondeu-me que, caso o Sim ganhasse, haveria pressões para que a legislação considerasse esses problemas. As boas intenções não chegaram para me convencer pelo Sim.
Posso acrescentar, talvez para agrado de quem me está a ler, que, dos comentários aos mails que distribuí (iguais à minha carta do dia 6 ao Regador), os que me chocaram e revoltaram pelo recurso à mentira e pelo ódio destilado, vieram do lado Sim. Admito que as respostas que lhes dei tenham sido pouco cristãs.
No dia 7 de Fevereiro, foi noticiada a posição do Primeiro Ministro que afirmou que, nos debates sobre a legislação, seriam considerados assuntos pertinentes (o que não me deixou totalmente satisfeito), mas também afirmou claramente que haveria um acompanhamento psiquiátrico e social e um período de reflexão para as mulheres que pedissem o aborto. Então decidi votar Sim.
Agora, que o referendo já terminou, desejo que todos nós nos empenhemos em dar o contributo que estiver ao alcance de cada um para implementar todos os meios que levem à redução (já que a eliminação é utópica) dos casos em que as grávidas só vejam o aborto como solução, no apoio necessário à mulher e ao pai para as causas e efeitos de qualquer das opções e para o acompanhamento e pressão sobre a alteração de leis que vai haver. Temos vários meios à disposição para esses fins, mas para nós, crentes, há sempre mais um meio para nos empenharmos na solução de todos os problemas – a oração.
António Alte da Veiga
Caro António
ResponderEliminarLi o seu comentário e compreendo as suas razões. Disse que votar em branco era a posição de Pilatos e não retiro o que disse, embora compreenda que, como frisei no post que iniciou este debate, a decisão era muito difícil.
O dilema em que fomos colocados e que favorecia claramente a decisão do Sim, não tinha solução fácil para quem acredita na Vida como dom de Deus, inalienável e inquestionável. E eu acredito, e do que lhe conheço sei que o António está deste lado.
A minha decisão de votar Não, prendeu-se com o facto de que, existindo já uma lei que apenas nunca foi devidamente regulamentada, e que prevê já a possibilidade de o aborto ser legal em condições muito especiais, mais para além do que aquelas que, como cristão e defensor do valor da Vida, posso aceitar, não fazia sentido defender a possibilidade de destruir a vida do feto para permitir responder à mulher de uma forma que em minha opinião é errada.
Mas, como não sou detentor da verdade, obviamente que não condeno, nem condenarei nunca, os defensores do Sim. Tenho sempre esperança (e não é este o desígnio dos que seguem Cristo?) de que os verdadeiros valores se lhes revelem. Tive provas claras que Deus trabalha em todos os homens e vi muitos que defenderam o Sim no anterior referendo e que sempre se afirmaram, e afirmam, como agnósticos, virem agora defender o Não.
Quanto às promessas dos políticos, se tivessem sido apresentadas antes de todo o processo se ter iniciado, ainda poderia acreditar nelas, embora não mudassem o meu voto. Assim, não, embora ainda espere que prevaleça alguma razão em quem vai ter o poder de decidir.
Por isso, insisto na mensagem que atrás deixei: juntemos as nossas orações e peçamos a Jesus que interceda por nós junto do Pai para que Ele ilumine os homens e nos permita caminhar em direcção ao Reino que para nós construiu.
Hugo Meireles
O problema, para mim, não é tanto se o aborto é liberalizado ou legalizado, clandestino ou oficial. O problema é o aborto em si mesmo, com as consequências que acarreta, para o filho e para a mãe. E é pela redução do aborto que nos devemos continuar semprte a bater, juntando a esta luta todos os que tendo votado SIM também são contra o aborto. Porque muitos dos que votaram SIM não são a favor do aborto, mas contra o aborto clandestino.
ResponderEliminarE nesta luta pela redução do aborto, agora legalizado, a regulamentação da lei vai ser decisiva. Pois uma boa regulamentação, com a criação de efectivo apoio à mulher grávida pode ser um bom contributo para a redução do aborto.
Não sei é se há vontade política e dinheiro para tal.
Mas, é importante que todos os que são contra o aborto em si (quer do SIM, quer do NÃO) lutem por isso.
A redução do aborto é o essencial. A punição (ou criminalização) era apenas um meio para dissuadir o aborto. Agora é necessário exigir outros meios e lutar para que funcionem.
Não podia estar mais de acordo com o Paulo. De facto o problema centra-se no aborto e é esse o mal que temos de combater. Por isso, há que fazer tudo para impedir que ele aconteça e daí, a união de todos os que acreditam que é este o caminho é, mais do que nunca, necessária.
ResponderEliminarForam nesse sentido as últimas palavras do meu último comentário.
Vamos então dar todos as mãos e unir esforços nesse sentido? Por mim, vamos a isso.