Há muito que não visitava o Regador, facto de que só me posso penalizar pois que o encontro pujante de vida e de ideias. Confesso que tive pouca fé na continuidade deste blog. Contudo, o que me foi dado ver hoje leva-me a ter de me penitenciar e dar os parabéns ao Paulo e Domingas pelo excelente trabalho que quase sem apoios, pelo que conseguir perceber, tem continuado a desenvolver para passar a Mensagem.
Como o desafio do último post apela à formação da consciência dos católicos (e não só), resolvi participar com um texto que os médicos católicos me pediram para difundir. Poderá ser um texto que levanta algumas polémicas, mas é uma posição assumida por uma associação de pessoas que irão ter uma participação muito particular no problema do aborto.
Deixo-o, assim, aqui para que o aceitem publicar ou o retirem se assim o entenderem.
umamigo
DECLARAÇÃO DOS MÉDICOS CATÓLICOS SOBRE O REFERENDO
O referendo sobre o aborto está próximo. A pergunta está escolhida, é complexa e abrange várias questões. Importa, por isso, tornar claro o que está em causa.
Trata-se de responder se a lei em vigor deve ou não ser alargada de modo a permitir o aborto até às dez semanas sem que se verifiquem as situações já nela contempladas. A lei vigente permite que o aborto seja uma opção em caso de gravidez causada por violação, quando haja risco grave para a saúde física ou psíquica da mulher, ou quando o feto tenha doença ou lesão grave. A alteração à lei propõe que o aborto seja permitido, mesmo na ausência de qualquer daquelas situações, apenas por decisão da mulher. Quer dizer, a lei em vigor permite a opção do aborto quando haja razões de ordem médica ou criminológica. A alteração proposta alarga as possibilidades de abortar, nas dez primeiras semanas, sempre que a mulher deseje abortar. Isto significa que uma mulher normal, com uma gravidez normal e um filho normal tenha direito a abortar.
Como médicos, em pleno século XXI, sabemos que é irrefutável que a concepção marca o início de cada Vida Humana. Na concepção forma-se o zigoto, assim lhe chamamos em linguagem médica. Este, é a primeira forma que apresenta o corpo humano. É um corpo humano. À medida que passam as semanas e os meses, este corpo humano vai mudando de forma, mas é sempre corpo humano, seja na primeira semana, na oitava, na décima, na vigésima ou aos nove meses. Não acontece nada às dez semanas de gravidez que justifique a definição deste prazo. É desde o início um corpo humano, vivo, com uma identidade genética própria, que se manifesta em todo o tempo do desenvolvimento, de uma forma contínua, até à morte natural.
Como médicos, preocupamo-nos com as mulheres. As mulheres que se vêem confrontadas com uma gravidez sentida como impossível por razões económicas e sociais, as mulheres entregues à solidão de uma gravidez vivida sem parceiro com quem partilhar a responsabilidade e o sonho, as mulheres a sofrerem o drama do aborto consumado por razões psicológicas, mas contra as razões do coração. É também por causa das mulheres que nos comprometemos, porque com a liberalização do aborto, todas estas situações não só não encontrariam solução, mas tornar-se-iam ainda mais pesadas para as mulheres, assim expostas a novas formas de pressão. A nossa sociedade tem de ser capaz - e é capaz - de dar à mulher e ao seu filho soluções verdadeiramente humanas. Bem vindo será todo o apoio da lei e da sociedade – porque todos estamos implicados – para que a mulher grávida receba toda a ajuda de que necessita para que possa viver, sem sofrimento, a grandeza incomparável da maternidade. Bem vindo será também um conjunto de leis que promova a educação da juventude na verdade sexual e na construção de um projecto de família generoso e responsável.
Como médicos, existimos para servir a Vida. E sabemos que se a sociedade perder esta referência fundamental da Vida como norte seguro, é a própria sociedade que se perde como comunidade humana. Porque acreditamos na Vida, fazemos público testemunho destas certezas, porque acreditamos ser isso que o momento histórico nos exige, a nós médicos, para que o mais básico dos dados de que dispomos não seja confundido.
Acreditamos que há Vida e Vida Humana. Subscrevemos a sua intrínseca dignidade. Acreditamos que o caminho da realização pessoal passa por viver a liberdade na responsabilidade. Acreditamos que o sentido da vida do Homem é o Amor. E não podemos optar por uma sociedade que o negue à mulher e ao seu filho no seu ventre.
Na continuação do comentário anterior, acrescento:
Recebi o seguinte comentário a um mail que enviei:
> «Como não sabes no que vais votar?? > Achas que a despenalização, obriga alguem a abortar?? > Achas que uma mulher que fez um aborto, deve ser condenada e/ou presa?? > Não seria melhor, o aborto com 10 semanas, que o assassinato ao fim de 8 ou > 9 anos, como a miuda do Algarve (joana?). Quantas Joanas existem por aí???? > > PENSA POR ESTA VIA ...............»
Ao qual respondi:
«Acho que estás a ver o problema com muita emoção e pouca informação.
«Considerando que: 1 - é sabido que a legislação espanhola é igual à portuguesa; 2 - que se fazem muitos abortos legais em Espanha porque os médicos espanhóis atendem muito ao argumento de danos psíquicos (considerados na lei actual) e os médicos portugueses, não; 3 - que um número elevado das espanholas que abortaram legalmente sofre agora de problemas psíquicos por tê-lo feito; 4 - que a generalidade do povo espanhol está satisfeita com a legislação e não vê motivos para a alterar;
«eu votaria indiferentemente no NÃO ou no SIM, se: 1 - fosse garantido que as mulheres que querem abortar tivessem um acompanhamento/aconselhamento psicológico honesto que promovesse o seu bem-estar no momento da decisão (seja ela qual for) e no futuro; é preciso não esquecer que o bem-estar da mulher significa o bem-estar do embrião (?), do feto e da criança nascida, se a gravidez for mantida; 2 - fossem criados todos os meios necessários (em pessoal, logísticos e financeiros) à mulher e à criança no caso de se manter a gravidez; 3 - permanecesse o acompanhamento psicológico e material à mulher que abortou; 4 - implementasse uma educação sexual e planeamento familiar fiáveis; 5 - fosse alterada a actual lei da adopção para a agilizar (há muitos casais à espera de autorização para adoptar).
«Como vês, eu não tenho dúvidas sobre o que pretendo acerca do aborto - eu tenho certezas. A minha dúvida está somente no sentido do voto, que provavelmente será em branco. Tudo o resto que se diz por aí a favor ou contra é cientificamente discutível, ou preconceituado, emocional, muitas vezes falso e, portanto, irrelevante. É de lamentar que, quem tem poder de decisão ou de a precionar tenha andado a dormir sobre o assunto e só acorde para os referendos.
«Considero este referendo prematuro. Devia ter-se criado primeiro as condições necessárias (e depois até nem seria necessário o referendo). Por outro lado, o referendo tem que ser feito agora para pressionar a alteração da má situação actual, pois os indivíduos e instituições só pensam no problema quando sentem o rabo a arder.»
Porque Ele sabe que temos sede.
Porque a oração é o regador da nossa Fé.
Este blog, é um espaço de oração e de partilha.
Sinta-se livre para participar ;-)
Caros amigos
ResponderEliminarHá muito que não visitava o Regador, facto de que só me posso penalizar pois que o encontro pujante de vida e de ideias. Confesso que tive pouca fé na continuidade deste blog. Contudo, o que me foi dado ver hoje leva-me a ter de me penitenciar e dar os parabéns ao Paulo e Domingas pelo excelente trabalho que quase sem apoios, pelo que conseguir perceber, tem continuado a desenvolver para passar a Mensagem.
Como o desafio do último post apela à formação da consciência dos católicos (e não só), resolvi participar com um texto que os médicos católicos me pediram para difundir. Poderá ser um texto que levanta algumas polémicas, mas é uma posição assumida por uma associação de pessoas que irão ter uma participação muito particular no problema do aborto.
Deixo-o, assim, aqui para que o aceitem publicar ou o retirem se assim o entenderem.
umamigo
DECLARAÇÃO DOS MÉDICOS CATÓLICOS SOBRE O REFERENDO
O referendo sobre o aborto está próximo. A pergunta está escolhida, é complexa e abrange várias questões. Importa, por isso, tornar claro o que está em causa.
Trata-se de responder se a lei em vigor deve ou não ser alargada de modo a permitir o aborto até às dez semanas sem que se verifiquem as situações já nela contempladas. A lei vigente permite que o aborto seja uma opção em caso de gravidez causada por violação, quando haja risco grave para a saúde física ou psíquica da mulher, ou quando o feto tenha doença ou lesão grave. A alteração à lei propõe que o aborto seja permitido, mesmo na ausência de qualquer daquelas situações, apenas por decisão da mulher. Quer dizer, a lei em vigor permite a opção do aborto quando haja razões de ordem médica ou criminológica. A alteração proposta alarga as possibilidades de abortar, nas dez primeiras semanas, sempre que a mulher deseje abortar. Isto significa que uma mulher normal, com uma gravidez normal e um filho normal tenha direito a abortar.
Como médicos, em pleno século XXI, sabemos que é irrefutável que a concepção marca o início de cada Vida Humana. Na concepção forma-se o zigoto, assim lhe chamamos em linguagem médica. Este, é a primeira forma que apresenta o corpo humano. É um corpo humano. À medida que passam as semanas e os meses, este corpo humano vai mudando de forma, mas é sempre corpo humano, seja na primeira semana, na oitava, na décima, na vigésima ou aos nove meses. Não acontece nada às dez semanas de gravidez que justifique a definição deste prazo. É desde o início um corpo humano, vivo, com uma identidade genética própria, que se manifesta em todo o tempo do desenvolvimento, de uma forma contínua, até à morte natural.
Como médicos, preocupamo-nos com as mulheres. As mulheres que se vêem confrontadas com uma gravidez sentida como impossível por razões económicas e sociais, as mulheres entregues à solidão de uma gravidez vivida sem parceiro com quem partilhar a responsabilidade e o sonho, as mulheres a sofrerem o drama do aborto consumado por razões psicológicas, mas contra as razões do coração. É também por causa das mulheres que nos comprometemos, porque com a liberalização do aborto, todas estas situações não só não encontrariam solução, mas tornar-se-iam ainda mais pesadas para as mulheres, assim expostas a novas formas de pressão. A nossa sociedade tem de ser capaz - e é capaz - de dar à mulher e ao seu filho soluções verdadeiramente humanas. Bem vindo será todo o apoio da lei e da sociedade – porque todos estamos implicados – para que a mulher grávida receba toda a ajuda de que necessita para que possa viver, sem sofrimento, a grandeza incomparável da maternidade. Bem vindo será também um conjunto de leis que promova a educação da juventude na verdade sexual e na construção de um projecto de família generoso e responsável.
Como médicos, existimos para servir a Vida. E sabemos que se a sociedade perder esta referência fundamental da Vida como norte seguro, é a própria sociedade que se perde como comunidade humana.
Porque acreditamos na Vida, fazemos público testemunho destas certezas, porque acreditamos ser isso que o momento histórico nos exige, a nós médicos, para que o mais básico dos dados de que dispomos não seja confundido.
Acreditamos que há Vida e Vida Humana. Subscrevemos a sua intrínseca dignidade. Acreditamos que o caminho da realização pessoal passa por viver a liberdade na responsabilidade. Acreditamos que o sentido da vida do Homem é o Amor. E não podemos optar por uma sociedade que o negue à mulher e ao seu filho no seu ventre.
Obrigado pela vossa atenção.
Na continuação do comentário anterior, acrescento:
ResponderEliminarRecebi o seguinte comentário a um mail que enviei:
> «Como não sabes no que vais votar??
> Achas que a despenalização, obriga alguem a abortar??
> Achas que uma mulher que fez um aborto, deve ser condenada e/ou presa??
> Não seria melhor, o aborto com 10 semanas, que o assassinato ao fim de 8 ou
> 9 anos, como a miuda do Algarve (joana?). Quantas Joanas existem por aí????
>
> PENSA POR ESTA VIA ...............»
Ao qual respondi:
«Acho que estás a ver o problema com muita emoção e pouca informação.
«Considerando que:
1 - é sabido que a legislação espanhola é igual à portuguesa;
2 - que se fazem muitos abortos legais em Espanha porque os médicos
espanhóis atendem muito ao argumento de danos psíquicos (considerados
na lei actual) e os médicos portugueses, não;
3 - que um número elevado das espanholas que abortaram legalmente
sofre agora de problemas psíquicos por tê-lo feito;
4 - que a generalidade do povo espanhol está satisfeita com a
legislação e não vê motivos para a alterar;
«eu votaria indiferentemente no NÃO ou no SIM, se:
1 - fosse garantido que as mulheres que querem abortar tivessem um
acompanhamento/aconselhamento psicológico honesto que promovesse o seu
bem-estar no momento da decisão (seja ela qual for) e no futuro; é
preciso não esquecer que o bem-estar da mulher significa o bem-estar
do embrião (?), do feto e da criança nascida, se a gravidez for
mantida;
2 - fossem criados todos os meios necessários (em pessoal, logísticos
e financeiros) à mulher e à criança no caso de se manter a gravidez;
3 - permanecesse o acompanhamento psicológico e material à mulher que abortou;
4 - implementasse uma educação sexual e planeamento familiar fiáveis;
5 - fosse alterada a actual lei da adopção para a agilizar (há muitos
casais à espera de autorização para adoptar).
«Como vês, eu não tenho dúvidas sobre o que pretendo acerca do aborto -
eu tenho certezas. A minha dúvida está somente no sentido do voto, que
provavelmente será em branco. Tudo o resto que se diz por aí a favor
ou contra é cientificamente discutível, ou preconceituado, emocional,
muitas vezes falso e, portanto, irrelevante. É de lamentar que, quem
tem poder de decisão ou de a precionar tenha andado a dormir sobre o
assunto e só acorde para os referendos.
«Considero este referendo prematuro. Devia ter-se criado primeiro as
condições necessárias (e depois até nem seria necessário o referendo).
Por outro lado, o referendo tem que ser feito agora para pressionar a
alteração da má situação actual, pois os indivíduos e instituições só
pensam no problema quando sentem o rabo a arder.»
António da Veiga