2007-04-30

Ressurreição / Inssurreição

«Se Cristo está em Deus, está com todos aqueles com quem Deus está, seja onde for. Cristo é nosso contemporâneo. Sempre me aborreceu a ideia de ir a Jerusalém por causa dos lugares santos. Onde houver gente necessitada, gente que precise de presença, de cuidados, há um lugar maldito que é preciso santificar.
No simbólico tribunal da História (Mt 25), ninguém é julgado por não ter visitado a chamada Terra Santa. Mas encontra-se ou desencontra-se com os lugares santos se socorre ou não os doentes, os presos, os nus, os famintos, os abandonados.
A “Terra Santa” da Igreja devem ser os bairros mais abandonados das grandes cidades e, sobretudo, o vasto mundo dos pobres, dos quase mil milhões que vegetam com menos de 73 cêntimos por dia.
A Igreja só testemunha a ressurreição quando participa na insurreição contra tudo aquilo que estraga a vida das pessoas. É essa vontade que a leva a acreditar que aquilo que já ninguém pode fazer, Deus o faz na insurreição contra a morte.»
Bento Domingues, Público, 29.04.2007

4 comentários:

  1. Anónimo1/5/07 14:11

    O jogo de conceitos entre "ressurreição" e "insurreição" é atraente, mas gostaria de ver onde é que o autor do artigo nos quer levar...
    Manuel

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  2. Anónimo2/5/07 20:10

    As pessoas ficam geralmente tolhidas perante a grandeza do sofrimento alheio e refugiam-se em movimentos espirituais, a que reconheço valor, mas não vêm (ou não querem ver) as muitas formas de praticar o cristianismo. Somos poucos os voluntários para obras como Emaús (para os sem-abrigo), Casa do Gaiato e outras instituições do pe. Américo, Rede de Apoio aos Pobres (presidida pelo pe. Jardim Moreira, pároco de S. Bento da Vitória) e tantas outras instituições religiosas ou leigas de igual valor e que cobrem todos os campos mencionados por fr. Bento Domingues e ainda mais alguns. É uma questão de escolher, e muitas vezes um fim de tarde ou bocado da noite por semana ou fim-de-semana já é uma boa ajuda.

    O artigo de fr. Bento só peca por não apresentar o campo de trabalho. É lamentável que a generalidade do clero faça sermões verbais ou escritos tão bonitos e tão inúteis. Assim, nunca a Igreja conseguirá testemunhar a ressurreição, participando numa insurreição cristã (da qual faz parte a violência como última forma de combater as injustiças sociais) contra tudo aquilo que estraga a vida das pessoas (para usar as palavras de fr. Bento).

    António Alte da Veiga

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  3. A intervenção do António é uma chamada de atenção importante. É um apelo à acção concreta, para lá do discurso.
    Mas o discurso também é importante: é ele que dá sentido à acção.
    Por isso estes parágrafos do frei Bento me parecem felizes.
    E provocam o debate!

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