2007-09-29

Lázaro, o rico e o cão

num capitel da igreja de S. Martinho de Mondonhedo (Lugo, Espanha)

VIVA o EVANGELHO de Domingo, 29 de Setembro

Lc. 16,19-31.
«Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas.
Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. Então, ergueu a voz e disse: 'Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.' Abraão respondeu-lhe: 'Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão pouco vir daí para junto de nós.' O rico insistiu: 'Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.'
Disse lhe Abraão: 'Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!' Replicou-lhe ele: 'Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.' Abraão respondeu-lhe: 'Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.'»

2007-09-27

Amendoeira


"Na belíssima e finíssima, imensa cena da vocação de Jeremias, tecida em forma dialogal (...) Deus confia a Jeremias uma missão difícil: «Eis que ponho as minhas palavras na tua boca. Vê! Eis que te constituo hoje, sobre as nações e sobre os reinos, para arrancar e para destruir, para exterminar e para demolir, para construir e para plantar» (Jr 1,9-10).

Os verbos falam por si. Quatro verbos negativos, os primeiros. Apenas dois verbos positivos, os últimos. À primeira vista, a missão de Jeremias apresenta-se ingrata, espinhosa, arrasadora, quase catastrófica. Primeiro destruir, e muito; só depois construir, um bocadinho. (...)

De facto, depois de lhe ter confiado aquela missão, aparentemente desgraçada, assente naqueles primeiros quatro verbos negativos (só os dois últimos são positivos), Deus ousa perguntar a Jeremias: «O que vês, Jeremias?» Ao que Jeremias responde: «Vejo um ramo de amendoeira!» (Jr 1,11). E Deus manifesta a sua aprovação a este modo de ver de Jeremias, dizendo: «Viste bem, Jeremias, viste bem!» (Jr 1,12). «Bem» diz-se em hebraico tôb. Mas tôb significa também «belo» e «bom». Jeremias vê, portanto, «bem», «belo» e «bom»!

A amendoeira é uma das poucas árvores que floresce em pleno inverno. Ao responder: «Vejo um ramo de amendoeira», Jeremias já ergueu os olhos da invernia e da tempestade e do lodo e da lama e da catástrofe e da morte que tinha pela frente, e já os fixou lá longe, ou aqui tão perto, na frágil-forte-vigilante flor da esperança que a amendoeira representa. (...)

Senhor, afina o meu olhar pela flor que Tu quiseres. Faz-me ver sempre bem, belo e bom. Faz-me ver com o olhar com que me vês, e com que olhas a tua criação. Contemplação."

António Couto, Homilia de sagração episcopal, 23/09/2007

2007-09-21

VIVA o EVANGELHO de DOMINGO, 23 de Setembro

Lc. 16,1-13.
Disse Jesus aos discípulos:
«Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado perante ele de lhe dissipar os bens.
Mandou-o chamar e disse-lhe: Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar.'
O administrador disse, então, para consigo: Que farei, pois o meu senhor vai tirar-me a administração? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha.
Já sei o que hei de fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido da minha administração.'
E, chamando cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: 'Quanto deves ao meu senhor?'
Ele respondeu: 'Cem talhas de azeite.'
Retorquiu-lhe: 'Toma o teu recibo, senta-te depressa e escreve cinquenta.'
Perguntou, depois, ao outro: 'E tu quanto deves?'
Este respondeu: 'Cem medidas de trigo.'
Retorquiu-lhe também: 'Toma o teu recibo e escreve oitenta.'
O senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. É que os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.»
«E Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas.
Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no muito.
Se, pois, não fostes fiéis no que toca ao vil dinheiro, quem vos há-de confiar o verdadeiro bem?
E, se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir a dois senhores; ou há-de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.»

2007-09-20

Boa notícia e motivo de oração

Nápoles, de 21 a 23 de Outubro, hospeda os representantes das religiões e das culturas mundiais e torna-se capital da paz, recolhendo os desafios, as perguntas e sobretudo as expectativas de homens e mulheres, de povos inteiros.
Três dias de encontro, de oração e de confronto, para construir, juntos, no diálogo, “um mundo sem violência”.


007-09-19 - LA PROCHAINE RENCONTRE INTERRELIGIEUSE DE NAPLES
Benoît XVI, le patriarche Bartholomée Ier, le métropolite orthodoxe Kirill, le Dr. Rowan Williams, archevêque de Cantorbery, Yona Metzger, grand rabbin d'Israël et Ahmed Al-Tayyeb, de l'université d'Al-Azhar en Egypte, se retrouveront à Naples.Il s'agit là d'une importante réunion inter-religieuse en faveur de la paix, avec de hauts dignitaires catholiques, orthodoxes, musulmans et juifs, qui
se tiendra du 21 au 23 octobre à Naples, grâce à la communauté catholique de Sant'Egidio qui organise l'événement. Benoît XVI, recevra à déjeuner les quelque 300 participants à cette manifestation organisée pour marquer le 21e anniversaire de la rencontre inter-religieuse d'Assise, voulue à l'époque par le pape Jean Paul II pour relancer la paix dans le monde.Les représentants de plusieurs religions orientales, bouddhiste, hindouiste ou shintoïste seront également présents à la rencontre, qui a pour thème: "Pour un monde sans violence: religions et cultures en dialogue".".
(information:
Sant'Egidio)

2007-09-15

o PAI BOM e os filhos, pintados por Rembrant


VIVA o EVANGELHO de DOMINGO, 16 de Setembro

Lc. 15,1-32.
Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem.
Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.»
Jesus propôs-lhes, então, esta parábola:
Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? Ao encontrá-la, põe na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes:
'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.'
Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.
Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz:
'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.'
Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.
Disse ainda:
Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.' E o pai repartiu os bens entre os dois.
Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
E, caindo em si, disse: 'Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.'
E, levantando-se, foi ter com o pai.
Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos.
O filho disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.' Mas o pai disse aos seus servos: 'Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o;
vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.' E a festa principiou.
Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: 'O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.' Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. Respondendo ao pai, disse-lhe: 'Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.'
O pai respondeu-lhe: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.'

2007-09-12

Documento final de Sibiu

Vale a pena ler a Mensagem Final da III Assembleia Ecuménica Europeia que se reuniu em Sibiu (versão em francês).
Realço em particular as recomendações dirigidas à Europa e ao Mundo, das quais se destacam as seguintes:
V : Nous recommandons que nos églises reconnaissent que les immigrés chrétiens ne sont pas simplement des bénéficiaires d’accompagnement religieux, mais qu’ils peuvent jouer un rôle actif et plein dans la vie de l’Eglise et de la société
VII : Nous demandons vivement à tous les chrétiens européens d’accorder un soutien fort aux objectifs de développement du Millénium décrété par les Nations Unies comme mesure urgente en vue d’un allègement de la pauvreté.
IX : Nous recommandons d’appuyer des initiatives pour la remise de la dette et pour la promotion du commerce équitable.
X : Nous recommandons de réserver la période du 1er septembre au 4 octobre à la prière pour la protection de la création et la promotion de styles de vie durables qui fait reculer notre contribution négative au changement climatique.

2007-09-08

Assembleia Ecuménica Europeia

Photo CCEE-CEC / Ag. Siciliani

Está a decorrer em Sibiu (centro da Roménia e Capital Europeia da Cultura 2007) a III Assembleia Ecuménica Europeia que reúne 2500 participantes das diferentes confissões: igreja católica, igrejas ortodoxas, protestantes e anglicanas.

Podemos esperar algum avanço de concreto no diálogo ecuménico depois de tantos passos atrás dos últimos tempos?

2007-09-07

VIVA o EVANGELHO de DOMINGO, 9 de Setembro

Lc. 14,25-33.
Seguiam com ele grandes multidões; e Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes:
«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo.
Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo.
Quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, dizendo: 'Este homem começou a construir e não pôde acabar.'
Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? Se não pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz.
Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo

2007-09-04

Fé e dúvida

Não percebo a polémica recente sobre as dúvidas da Ir. Teresa de Calcutá (que até mereceu defesa de Bento XVI) e que começou num artigo da Time que pode se lido aqui (ver também este comentário).

A parte polémica será esta frase constante de uma carta por ela escrita:

"Jesus has a very special love for you," she assured Van der Peet. "[But] as for me, the silence and the emptiness is so great, that I look and do not see, — Listen and do not hear — the tongue moves [in prayer] but does not speak ... I want you to pray for me — that I let Him have [a] free hand."

A fé e a dúvida são companheiras inseparáveis.

Devemos desconfiar é daqueles que afirmam nunca ter dúvidas.

Concordo com este texto publicado aqui:

"Soube-se que Madre Teresa de Calcutá teve dúvidas na sua aparente inabalável fé. (...).
Mas, se a sua obra é admirável, mesmo pensando que a vontade lhe advinha da fé, em nada perde, pelo contrário, quando sabemos que a construiu apesar das dúvidas."