2008-02-13

Ainda a esmola

«Percebo (...) que falta uma intensa pedagogia da renúncia e da partilha fraterna. É verdade que, colocados perante emergências graves (terramotos, inundações,…), os cristãos respondem com generosidade. Mas também é verdade que essas situações têm respostas generosas de toda a sociedade civil. Os cristãos não fazem mais que os outros, poderíamos então dizer.
Onde os cristãos se devem distinguir dos outros é no espírito que aprendemos nos Actos dos Apóstolos: "Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. (…) Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum" (2, 42; 44).
Não se trata de fazer igual, mas de recriar, para os tempos de hoje, o mesmo espírito. Ora, é aí, na pedagogia e recriação da partilha, que as comunidades cristãs estão a falhar. Que consciência social temos dos pobres à nossa volta, das milhares de famílias que não têm o dinheiro suficiente para comer e satisfazer as suas necessidades básicas? »

Recomendo a leitura integral deste texto de António Marujo.

5 comentários:

  1. A propósito de esmola, escreveu António Aleixo:

    A esmola não cura a chaga;
    mas quem a dá não percebe
    que ela avilta, que ela esmaga
    o infeliz que a recebe.

    ResponderEliminar
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  3. Quanto à crítica de que a maior parte do dinheiro de renúncias quaresmais vá para a "construção de edifícios e infra-estruturas eclesiais", estou de acordo (especialmente no nosso país por razões que já mencionei no Regador); quanto à segunda crítica - "Em vários casos, os beneficiados são os cristãos e as igrejas dos países lusófonos, aos quais nos ligam laços de história e fraternidade. Admita-se, portanto, que a renúncia quaresmal sai de casa, para utilizar a expressão do padre Armindo. Sai, sai de casa. Mas é, ainda, a nossa família alargada que dela beneficia." - não percebo o ponto de António Marujo (quanto mais não seja porque diz antes "Que consciência social temos dos pobres à nossa volta, das milhares de famílias que não têm o dinheiro suficiente para comer e satisfazer as suas necessidades básicas? Dizem os números que, em Portugal, são ainda vinte por cento da população"). Este ano de facto o dinheiro vai para Moçambique. Eu só tenho pena de que, vá para Moçambique ou para Portugal, de que não se criem condições para que aconteça uma pequena maravilha, uma pequena graça a cada um de nós: ser-nos dado ver a necessidade de alguém e, como quem faz o que tem a fazer, ajudar...
    Será que vamos poder abrir os olhos e ouvidos?

    ResponderEliminar
  4. Parece-me que o que o António Marujo critica não é que a ajuda vá para Moçambique, mas que vá para cristãos e igrejas de moçambique. Não é que não seja em si positivo que exista solidariedade com a Igreja que está em Moçambique, como é óbvio, mas o que poderia ser mais significativo como sinal para o mundo é que a renúncia quaresmal fosse para situações de sofrimento de quem não é dos "nossos".
    Há, de facto, uma dificuldade em sair para fora dos circuitos eclesiais. Veja-se a proposta de renúncia quaresmal da diocese do Porto: constituir um fundo social DIOCESANO: «Ouvidos os Vigários da nossa Diocese, proponho-vos uma renúncia pecuniária, que permita
    a constituição dum Fundo Social Diocesano. São vários os pedidos que me chegam para apoiar
    esta ou aquela acção sócio-caritativa, com relevo para tudo quanto defenda e promova a vida,
    da concepção à morte natural. Sabendo que, em todo o arco da existência humana, há muita
    dignidade a defender em todos e cada um, quando não faltam infelizmente graves obstáculos a ela:
    das dificuldades persistentes em constituir e manter a vida familiar ou uma velhice acompanhada,
    às carências graves de subsistência ou realização profissional, aos problemas de integração social
    e económica de muitos emigrantes, aos tráficos inomináveis de droga e prostituição… Com
    o resultado da nossa renúncia quaresmal, caríssimos diocesanos, poderemos colaborar melhor
    com todas as iniciativas válidas, eclesiais ou outras, que visem debelar tais males.»

    ResponderEliminar
  5. Concordo com o que ficou dito pelo Armando e também desejo «que aconteça uma pequena maravilha, uma pequena graça a cada um de nós: ser-nos dado ver a necessidade de alguém e, como quem faz o que tem a fazer, ajudar...».
    Esta parece-me ser uma parte essencial do problema da «esmola» [quem sabe a palavra que diga o positivo liberta da carga negativa que esta tem?).
    Outro problema é o que se faz com o que se pode juntar. Podemos procurar maneiras mais oportunas e eficazes. Parece-me que dentro da «Igreja» há quem viva o tempo todo a tentar encontrar soluções para problemas concretos. Não seria importante ouvi-las?
    Quanto ao fundo diocesano: tem como objectivo «colaborar melhor
    com todas as iniciativas válidas, eclesiais ou outras, que visem debelar tais males». Não esquece que há vida para além dos "nossos".
    Quem é o meu próximo?
    dv

    ResponderEliminar