Ainda fui ver algumas notícias à procura de um ângulo interessante para uma imagem desta visita de Bento XVI a França. Fiquei desiludido. Não com os discursos do Papa (dei uma olhada ao que pronunciado perante um escol de personalidades francesas em um colégio claravalense no Quartier Latin e algumas passagens do discurso aos jovens) mas com as análises. Sejamos francos: o jornalismo para uma sociedade laica pode ser laico pode ser religioso, pode até ser piedoso, não pode é ser ignorante. A questão é precisamente esta: não vimos questões interessantes. Ainda vi o velhinho cardeal Poupard massacrado (pelo director do Témoignage Chrétien, ai, ai, ai...) com a malfadada questão da missa em latim na France24. Salvou-se a entrevista pouco didáctica de um dos mais autorizados historiadores franceses do catolicismo dos sécs. XIX e XX, Pilippe Levillain (que no entanto, se apresentou como vaticanista e valha verdade o seu último livro é Le momente Benoit XVI). Digo pouco didática porque quando o entrevistador lhe lançou a pergunda das questões de moral (aborto eutanásia, etc) respondeu com impaciência que são questões de ideologia moral que não interessam "a ninguém", ou que "só interessam os que as defendem" e que a Igreja não tem de falar disso porque o coração da fé não está aí, e porque se pode "ser católico sem ser papista".
Mas onde estão as questões sobre as opiniões políticas dos católicos franceses (para mim ver a fotografia da ministra Aliot ou François Bayrou de capa da Ordem de Malta não me satisfaz...) sobre o momento geopolítico, sobre a relação entre Islão e catolicismo na França de hoje, sobre política económica, ou mesmo sobre a sua relevância nos partidos onde estão? Sobretudo não vi uma caracterização da Igreja Francesa pós-conciliar (muito diferente da Itália como se pode ver pela mensagem já publicada aqui) etc etc etc (podem acrescentar muitas mais nos contributos...).
Pareceu-me, para dizer a verdade, um jornalismo muito reumático...
P.S. A quem interessar Levillain, que começou por investigar na sua tese uma das personalidades mais importantes do chamado catolicismo social francês do séc. XIX ( Albert de Mun. Catholicisme Français et Catholicisme Romain du Syllabus au Ralliement.) também é autor da seguinte obra: Passion, tourment ou espérance ? Histoire de l'Apostolat des laïcs, en France, depuis Vatican II, 2003.
Diário da pandemia (17)
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