2009-02-07

Um problema atrás de outro...

A levantamento da excomunhão do Papa aos quatro bispos ilegalmente ordenados pelo bispo Marcel Lefèvbre, em ruptura com as reformas introduzidas pelo Vaticano II, causou choque por um deles ser afirmar ser negacionista (na sua opinião nem um judeu teria sido morto nas câmaras de gás). O gesto acabou por ter duas consequências: a deterioração das relações entre judeus e cristãos, bem como entre Israel e o Vaticano (com a visita à Terra Santa prevista para Maio, e negociações entre o Vaticano e Israel delicadas relativas a propriedade, impostos, autorizações de residência para clérigos em Israel).
Mas pior do que isso levanta a questão do funcionamento da Cúria e da Secretaria de Estado. É que o homem-chave em todo este processo, o Presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, Walter Kasper, admitiu em entrevista à Rádio Vaticana não ter sido consultado.
Em declarações ao jornal La Reppublica Walter Kasper separou as duas questões: o levantamento da excomunhão e as declarações do bispo Williamson que classifica de "estúpidas".
Jornalistas experientes na cobertura de assuntos do Vaticano dizem não ter memória de um passo em falso semelhante a este. Duplamente lamentável...

4 comentários:

  1. Anónimo8/2/09 12:10

    Por que razão o Papa decidiu agora, sem ouvir ninguém, levantar a excomunhão àqueles 4 bispos?

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  2. Há aqui várias questões. Eu compreendo que se queira ter avançado com um gesto ecuménico (mesmo que não me identifique com a Sociedade S. Pio X). Isso tem a ver com as sensibilidades actuais que dominam o Vaticano. O que é estranho é que não se saiba do anti-semitismo tradicional dos seguidores de Marcel Lefevbre. Trata-se de uma característica entranhada, desde Charles Maurras, em certos meio da sociedade francesa na qual se implantaram aqueles. Enfim, políticas...

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  3. Outro problema tem a ver com o processo de tomada das decisões. Aparentemente Bento XVI decidiu sozinho, sem ouvir as conferências episcopais e a própria cúria. Pode ser assim, nos termos do Código de Direito Canónico? O que o mesmo diz (can. 1382) é que a excomunhão latae sententiae é reservada à Sé Apostólica. E das decisões do Romano Pontifice "não há apelação nem recurso"!! (can 333, 3). Portanto, se as suas decisões não são recorríveis, para ele não há lei nem limites! Será mesmo assim?

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  4. A propósito aqui fica um texto de Manuel António Pina, no JN de ontem:
    «Bento XVI decidiu, 48 horas antes do Dia Internacional da Memória do Holocausto, levantar a excomunhão, decretada em 1988, do bispo Richard Williamson e três outros bispos ligados à lamentável (anti-semitismo; defesa da pena de morte e da Inquisição; elogios a Franco, Pinochet, Le Pen e outros "bons católicos"; e por aí fora) Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, com sede na Suíça. O bispo Williamson defende que o Holocausto é "uma ficção" e que "não existiam câmaras de gás" nos campos de concentração nazis ou, se existiam, como diz o padre Floriano Abrahamowicz, da mesma Fraternidade, serviam para "desinfectar" os judeus.

    Quando, face às reacções que a decisão suscitou dentro e fora da Igreja, Bento XVI descobriu que, afinal, não é infalível e que fez asneira, tentou que Williamson se retractasse. É o retractas… O bispo só com mais "provas científicas" e novas "historical evidences" se retractará. Os escrúpulos científicos deste e outros dignatários desta e doutras igrejas inquietam-me sempre. Começo a pensar que terão provas científicas da existência dos seus deuses mas as guardam só para si.»

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