"Sou há muitos anos admirador da série de banda desenhada “Calvin & Hobbes”, do artista norte-americano Bill Watterson, sobre a qual escrevi várias vezes, e que considero uma das mais notáveis e inteligentes de sempre, se encarada não superficialmente mas com a atenção e profundidade que merece, ou seja, lida com olhos de ver e vista com olhos de ler. (...)
Uma questão interessante é a da data. É óbvio que esta prancha é extraordinária porque é verdadeira (houve quem pensasse que era uma coisa feita agora usando o Calvin). E a data exacta da sua publicação inicial, salvo erro ou omissão, é 4 de Abril de 1993, tendo também saído nesse ano, um pouco mais tarde, no “Público”, estando quase a fazer, portanto, 16 anos!
Uma curiosidade diz respeito ao preço da limonada. Nesta versão que segue estão (e bem) os mesmos 15 dólares, mas enquanto que no “Público” eram «1000 paus», no livro passou para «500 paus». É o que se poderia chamar crise dentro da crise, mas a 1.ª versão estava mais próxima do valor original.
E ainda em matéria de tradução, a do livro é a única que traduz a expressão latina «caveat emptor», que consta obviamente do original, por «o risco é do comprador» (quem é que pensou que a BD é para crianças? E quem é que pensou que, se for lida por crianças, elas – bem como os adultos – não podem aprender qualquer coisinha?).
Recordo, em conclusão, que a série durou apenas 10 anos (1985-1995; daí o “Público” estar a repetir) e o seu autor (optando por não ganhar uma fortuna colossal) nunca permitiu qualquer merchandising, o que convida a uma leitura adicional, que aliás não deixa de estar presente nas preocupações actuais (a dificuldade está na solução): a crise é também (ou sobretudo?) uma questão de (falta de) ética e coerência.
Mas claro que o grande erro do Calvin foi, por ganância, ter “despedido” o tigre, querendo ficar só ele (também) como empregado... De facto, lida como deve ser, está “tudo” nesta prancha.
João Paulo Boléo
Tanto mais engraçado quanto em uma discussão na Sic Notícias entre, nomeadamente, o Francisco Louçã, João Duque e o presidente ou representante do Schroeders Bank em Portugal, este último invocou precisamente o mesmo princípio latino Caveat emptor a propósito dos produtos bancários perigosos. Deve ser mesmo doutrina do meio financeiro. Caveamus, pois...
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