2009-10-08

Hipácia (ou Hipátia)

Hipácia (Hipátia ou Hypatia) por Rafael
Hipácia, única mulher da Antiguidade a destacar-se como cientista. Astrónoma, física, matemática e filósofa, Hipácia nasceu em 370, em Alexandria.
Foi a última grande cientista de renome a trabalhar na lendária biblioteca daquela cidade egípcia.

Na Academnia de Atenas ocupou, aos 30 anos, a cadeira de Plotino. Escreveu tratados sobre Euclides e Ptolomeu, desenvolveu um mapa de corpos celestes e teria inventado novos modelos de astrolábio, planisfério e hidrómetro. Neoplatónica, Hipácia defendia a liberdade de religião e de pensamento. Acreditava que o Universo era regido por leis matemáticas. Tais ideias suscitaram a ira de fundamentalistas cristãos que, em plena decadência do Império Romano, lutavam por conquistar a hegemonia cultural.
Em 415, instigados por Cirilo, bispo de Alexandria, fanáticos arrastaram Hipácia a uma igreja, esfolaram-na com cacos de cerâmica e conchas e, após assassiná-la, atiraram o corpo a uma fogueira.
Sua morte selou, por mil anos, a estagnação da matemática ocidental. Cirilo foi canonizado por Roma.

António Alte da Veiga, a partir de um artigo de Frei Betto no Jornal Fraternizar, nº 175.

2 comentários:

  1. Referindo-se a Hipácia afirmou Carl Sagan:
    "Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e a base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. A última cientista foi uma mulher, considerada pagã. O nome era Hipácia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciência, e devido a Alexandria estar sob domínio romano, após o assassinato de Hipácia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época."

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  2. Hipácia é o nome em português (Hypatia é a forma latina). Duvido que a destruição da biblioteca de Alexandria seja, como Carl Sagan, afirma obra da multidão em fúria contra a ilustre matemática. A biblioteca sofreu um primeiro estrago durante o cerco de César. Há dúvidas acerca da suposta doação da bilbioteca de Pérgamo (sua rival na altura) por Marco António. Sofreu ainda sob Caracala. A imperatriz síria, Zenóbia, também a destruíu em 272. Provavelmente será o edicto de Teodósio I em 391 ordenando a destruição dos templos pagãos que ditará o seu destino.
    É nesta altura que se encaixa o assassinato de Hipácia. Quanto a ser esse assassinato o responsável pela interrupção da transmissão da cultura científica antiga, nâo sei. Penso (mas isto não o pude verificar) que o episódio significa um distanciamente (sociológico antes de mais) da cultura científica (produzida em círculos conotados com o neoplatonismo e com a filosofia pagã) em relação à sociedade que a rodeia.
    Mas claro, o acto é detestável duplamente: era odiada por ser mulher e mais ainda por ser mulher com enorme cultura científica. Enfim, mais uma coisa que me faz ver a figura de S. Cirilo como um furioso obcecado (lembro-me ainda do ódio que tinha a S. João Crisóstomo).

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