2011-07-16

REQUIEN POR UM HOMEM BOM

Fui hoje ter com o Diogo pela última vez. Não posso dizer que o conhecia. Durante a sua juventude tive alguns contactos com ele, nos tempos em que colaborava com o Frei Eugénio em Cristo Rei e em que ele era um dos jovens que frequentavam as reuniões de preparação para a vida cristã, os convívios. Mas, porque era um pouco mais velho do que os meus filhos, nunca houve oportunidade de o conhecer para dele poder ter uma opinião formada. Era para mim um jovem simpático, cheio de vida e de ideias que mais tarde se viriam a manifestar.

Comecei a acompanhar a sua vida pelas notícias que ele ia provocando com as suas actividades públicas as quais foram revelando a sua forte e bem formada personalidade na qual se destacava o dom de se entregar a causas nobres e altruístas.

Encontrei-o anos mais tarde e com ele mantive alguns contactos enquanto responsável pela UMIC. Era então já um jovem adulto, embora com o mesmo olhar sonhador de quem não desistiu das suas causas. Seguro de si e revelando uma segurança profissional, invejável para alguém tão jovem, causou-me a melhor das impressões.

Toda a sua vida que acompanhei a partir desse momento, com contactos esporádicos mas que por ser pública era facilmente percebida, não alterou, antes pelo contrário, a impressão que me tinha deixado. E uma característica é para mim de realçar: nunca o vi assumir nenhuma atitude de vaidade ou de projecção pessoal, nunca o vi aparecer nas páginas do “jet set” nacional como muitos outros jovens da sua idade que procuravam cavalgar uma onda de sucesso, por vezes efémero e despido de conteúdo. Tal facto permitiu-me ver como sua formação cristã na juventude deu os seus frutos.

Era um Homem Bom. Infelizmente para nós partiu e não pode continuar a enorme obra que já construíra para bem de muitos. Deixou no entanto um legado de todos o maior: o seu exemplo, a sua firme determinação na defesa do bem público e na defesa dos mais fracos, atitude que pode e deveria ser seguida num país por vezes perdido e sem rumo.

Cumpriu-se no Diogo aquilo que Jesus veio ensinar: dar sem esperar recompensa neste mundo e amar os outros. Servir e não ser servido.

Sei que a sua família e os amigos o choram por o ver afastado do seu convívio. Mas este é para nós cristãos também um momento de grande alegria pois temos mais um amigo na Terra Prometida para onde todos esperamos um dia partir para nos podermos extasiar perante a grandeza do Deus em que acreditamos, que nos criou e de nós espera o que o Diogo foi capaz de cumprir.

Escrevi um dia, numa das minhas reflexões sobre o Evangelho, reflexões que tenho por hábito muitas vezes redigir, o seguinte:

Jesus diz-nos no Evangelho de São Lucas "Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas." (Lc. 11, 29-32). Mas, no entanto, o Senhor todos os dias nos envia esses sinais e, como dizia no Evangelho de hoje, àqueles que o ouviam "Ide contar a João o que vedes e ouvis", também hoje nos diz ouvi aqueles que falam por mim, os que falam pelas palavras que o Espírito Santo lhes infunde ou que falam pelas obras que fazem em meu nome. Só que nós andamos mais atentos aos falsos profetas para os quais o Senhor nos alertou e deixamos passar em claro as palavras e as obras daqueles que são os verdadeiros profetas, palavras e obras que são os verdadeiros sinais, aqueles sinais que nos permitem ver a grandeza do Senhor mas que constantemente ignoramos.

Ora a vida do Diogo é sem dúvida um desses sinais que o Senhor nos envia para nos ensinar os seus caminhos para a tal Terra Prometida onde diremos verdadeiramente "O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma". Oxalá todos fossemos capazes de ver e ouvir, em Verdade e em Amor, tudo o que o Senhor nos disse através dos muitos exemplos desta vida que desaparece para nós.

O Diogo partiu. Partiu mais um Homem Bom a quem desejamos que viaje em paz, na Paz do Senhor, que acompanharemos com as nossas orações e com o qual esperamos, esperançosamente, reunirmo-nos no dia em que o nosso Deus decidir chamar-nos.

Hugo Meireles

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