Publicada no jornal “Público” de ontem, dia 3 de Janeiro de 2012, a entrevista ao padre José Maria Castillo Sanchez, de quem o padre Anselmo Borges disse numa apresentação pública “É um homem livre”, deve, quanto a mim, ser motivo de profunda reflexão nos meios católicos. E penso ser responsabilidade acrescida para aqueles que sempre tem pugnado por uma defesa mais firme dos princípios e fundamentos dos Evangelhos como Palavra de Jesus Cristo e seu legado para a humanidade.
Não quero deixar de salientar e partilhar com todos os amigos leitores deste blog alguns aspectos da entrevista que a mim muito me marcaram. Primeiro, a forma como ao Pd. Castillo Sanchez foi comunicada a razão da proibição de falar de temas de Teologia sem que para tal lhe fossem apresentadas razões objectivas. Depois o controlo que é feito mais do que por instâncias, pelos Bispos, gerando, como diz “…um clima de medo… porque as denúncias são muito frequentes e as pessoas tem medo de perder o seu posto de trabalho”. Não serão estes os métodos que a Inquisição utilizava?
Mais à frente, as palavras do Pd Castillo Sanchez quando diz: “A Igreja acabou por se organizar de maneira que o centro da vida cristã de muita gente não é o Evangelho, mas a própria Igreja. Para muitas pessoas, tem mais importância o que diz o Papa do que o que diz o Evangelho.”. E concluí esta parte dizendo: “Isto é uma traição ao Evangelho, uma desorientação total em relação ao que a Igreja tem de fazer no mundo: não magnificar a figura do Papa e do poder eclesiástico, mas exactamente o oposto, fazendo o que Jesus disse aos discípulos, que deviam ser como crianças, que tinham de andar pela vida sem dinheiro, sem sandálias…”. De facto, interrogo-me muitas vezes sobre este último aspecto quando vejo a contradição entre a opulência de certa Igreja e a pobreza com que se depara quando olha à sua volta, pedindo que se faça por essa pobreza o que ela própria não faz, nem parece quer fazer. Diz, ainda, mais à frente: “Quando à religião se lhe tira o templo, os sacerdotes e a pressão sobre a consciência, o que fica? Fica-se sem o aparato que a sustém e a torna importante.” Como diz, citando as palavras de Jesus no Evangelho, “ o homem não foi feito para o sábado, mas o sábado para o homem – ou seja, o homem não é para submeter-se à lei, esta serve para potenciar a humanidade”.
Estas afirmações do Pd. Castillo Sanchez remetem-me para as constantes palavras de Jesus acerca da necessidade de sermos humildes, de nos fazermos pequeninos, de vivermos sem apego aos bens materiais e de os partilharmos uns com os outros. Podíamos aqui determo-nos nas palavras do Sermão da Montanha ou nas da partilha de bens como o fez a viúva pobre, ou ainda no desapego a esses bens com que Ele confronta o jovem rico que o procura para lhe perguntar qual o caminho para a Salvação Eterna. São estas palavras dos Evangelhos temas bastantes para enriquecerem a nossa oração e meditação nos tempos que correm e que me levam pessoalmente a um questionamento pessoal depois de ter escrito, há pouco, o comentário sobre o texto de Helmut Schmidt.
Finalmente, parecem-me estes destaques que fiz da entrevista serem suficientes para alimentar um aprofundado debate entre os cristãos e são motivo que me leva a propor que esse debate também possa passar por este blog e pelos que, genuinamente, estão interessados em partilhar com os outros as suas dúvidas e certezas de forma a podermos construir um mundo mais à imagem de Jesus Cristo, Deus que se fez homem para nos permitir melhor entender os caminhos que nos levam à Salvação. Aqui fica um link para o blog "Tribo de Jacob" onde a mesma pode ser lida:
http://tribodejacob.blogspot.com/2012/01/jose-maria-castillo-ha-medo-na-igreja.html
Hugo Meireles
Este é um testemunho importante. Para a Igreja poder ser hoje um sinal de esperança tem que dar testemunho de uma vida interna sadia e fraterna. Com mais simplicidade e menos apego ao poder. Abrindo as portas às mulheres, aos jovens, aos leigos.
ResponderEliminarNa sequência deste post que coloquei no nosso Regador, o frei Eugénio, em mensagem que me enviou, colocou algumas questões sobre o mesmo às quais lhe respondi pessoalmente. Contudo, reconhecendo-lhe razão no que respeita à abordagem simplista que fiz da entrevista e na qual me foquei essencialmente no poder da Cúria e na opulência que ostenta, procurei alguns textos que vou arquivando e descobri um artigo de opinião do Pd. Anselmo Borges que pode ser esclarecedor para este assunto. Não corro assim o risco de fazer de teólogo, papel para o qual, como dizia ao Frei Eugénio, não estou obviamente preparado, e utilizo a opinião de alguém que em Portugal tem sido uma voz lúcida, pese embora alguma discordância que às vezes tenho manifestado em relação a este padre pelo qual tenho uma admiração construída na leitura dos seus escritos. Deixo o link para o artigo de opinião em causa, publicado no jornal "Diário de Notícias" de 10 de Dezembro de 2011:
ResponderEliminarhttp://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2175934
Hugo Meireles
O melhor teólogo da actualidade chama-se Joseph Ratzinger. Basta ler o Jesus de Anzaré (1 e 2) para perceber que as palavras dessa entrevista são ocas, estão ao nível de afirmações demagogicas como estas:
ResponderEliminar- a Igreja tem que vender tudo o que tem;
- não preciso de ir à Missa, posso falar com Deus no quarto;
- não me preciso de confessar a um padre, confesso-me directamente a Deus.
E o mundo aplaude perante estas afirmações populistas, mas vazias de sentido e verdade. Gostava de perguntar a esse senhor padre se sabe sequer o que é a Teologia do Corpo, para dizer que a Igreja lida mal com a sexualidade. Fica aqui um pequeno exemplo: http://www.youtube.com/watch?v=Cl_VXL3DP2w
Eu só gostava de colocar uma questão: se os pressupostos do Pe. Castillo Sánchez estão certos, porque não se encontram as Igrejas reformadas em melhor situação?
ResponderEliminarCaro Sr. João Silveira
ResponderEliminarOmito o “discípulo amado” pelo simples facto de todos os que acreditamos em Deus e na presença do seu Filho Jesus Cristo na nossa vida, podermos aspirar a fazer parte um dia “dos discípulos amados” se essa for a vontade do Senhor. Ou não é Jesus que nos diz, quando interrogado sobre a Salvação que nos é prometida, que esta apenas depende da vontade do Senhor nosso Deus?
Em relação ao seu comentário não posso deixar de notar que, se leu a entrevista, lhe escapou o essencial da mesma, ou seja, o facto de o Pd. Castillo Sanchez ter sido proibido de exercer o seu munus teológico. Este calar das consciências que tal facto representa é que me parece merecer uma séria reflexão, como aliás já expressei em anteriores comentários a propósito do constante esforço para calar aqueles que legitimamente podem questionar a hierarquia da Igreja.
Certamente que esta é uma opinião tão válida como aquelas que desenvolve no seu blog “Senza” e com as quais nem todos os católicos estarão certamente de acordo. No entanto, a mesma liberdade que lhe deve ser reconhecida para exprimir essas opiniões tem de ser válida para com os que tem opiniões diversas como o Pd. Castillo Sanchez. Apelidar as opiniões deste padre de populistas é tão incorrecto como afirmar que A Teologia do Corpo é a mais válida.
Não conheço com o devido pormenor a Teologia do Corpo mas, apesar de se tratar de uma obra de interesse, não representa uma verdade única. E é este o grande problema da Igreja actual. Elege como verdades absolutas alguns temas que sendo elaborações importantes acerca do nosso aprofundamento do conhecimento de Deus não são a Palavra de Deus. Daí que o Pd. Castillo Sanchez defenda a ideia de que a “A Igreja acabou por se organizar de maneira que o centro da vida cristã de muita gente não é o Evangelho, mas a própria Igreja. Para muitas pessoas tem mais importância o que diz o Papa do que o que diz o Evangelho”.
É esta acção limitadora da liberdade de consciência do cristão que questiono ao dar conhecimento da entrevista. E já agora em relação às suas afirmações que refere como populistas “a Igreja tem que vender tudo o que tem”, “não preciso de ir à Missa, posso falar com Deus no quarto” e “ não me preciso de confessar a um padre, confesso-me directamente a Deus” é meu entendimento que, primeiro, a Igreja não tem de vender tudo, mas sim deixar de “exibir” a sua opulência como forma de exercer poder; segundo, se não puder falar com Deus no meu quarto, assumindo que só as celebrações intermediadas por um sacerdote é que são válidas, o que fazer quando pessoas estão privadas de tal possibilidade – e são muitos os casos - como eu estive durante dois anos em cumprimento de serviço militar, anos durante os quais apenas tive a possibilidade de contactar um padre uma única vez; e, finalmente, o mesmo poderei afirmar em relação à confissão pois não entendo que estão em pecado aqueles que não têm possibilidade de a fazer a um padre.
São estas verdades absolutas que teremos sempre de combater se quisermos fazer avançar a Igreja de Cristo no tempo actual e nas sociedades modernas. Jesus Cristo apenas nos disse ser necessária para alcançar a Salvação o cumprimento de duas leis: amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos.
Hugo Meireles
Do comentário do Hugo Meireles com o qual concordo inteiramente, destaco:"É esta acção limitadora da liberdade de consciência do cristão que questiono ao dar conhecimento da entrevist" pois chama a atenção para um dos mais belos e inovadores textos do Concilio Vaticano II, Consituição pasotral sobre a Igreja no Mundo Contemporânea sobrea dignidade da consciência moral (Gaudim et Spes n° 16):"A consciência é o núcleo mais secreto do homem, o santuário onde ele está a sós com Deus, cuja voz ressoa no seu íntimo". Bem haja Hugo por chamar a atenção para o valor inalienavel deste "santuário"!
ResponderEliminarMV
Caro Hugo,
ResponderEliminarPode deixar de lado o “Sr.” e tratar-me por João. Quanto ao “discípulo amado” é apenas um nome que foi escolhido para um blog, por me chamar João. Não percebi o porquê da embirração com o nome.
Ao Pe.Castillo não foi retirado o “múnus teológico”, não lhe foi retirada a formação teológica. Foi-lhe retirada a possibilidade de “ensinar”, o que acho perfeitamente normal só pelas barbaridades que diz nessa entrevista. “Jesus é Deus?”, “Não se sabe”. Bem, se não se sabe isto nem se é cristão, quanto mais se tem as condições necessárias para ensinar teologia. Se me contratarem para dar aulas de geologia e eu for para lá dizer o que acho da geologia e as teorias que inventei, em vez de ensinar o que a ciência diz sobre a geologia não acha que devia ser despedido? Eu acho.
Ouviu a versão do Pe.Castillo, e ouvir o que os seus responsáveis têm a dizer? Pela entrevista concluímos que foi uma vítima na Igreja opressora que não deixa ninguém falar, mas será mesmo assim? Não há direito à defesa?
Quando uma pessoa entra por sua livre vontade para uma ordem religiosa, fica sujeita a um determinado número de regras. A pessoa continua a poder fazer o que quiser, mas tem que estar sujeita às consequências das suas acções. Isto é a coisa mais normal do mundo. Se for regra da minha empresa ir vestido de fato e gravata e eu for de calções de banho e barbatanas vou chamá-los fascistas por me censurarem? Se o Jorge Jesus vier a público contar os segredos do balneário do benfica, seria aplaudido pelo seu presidente? Haja bom-senso!
Todos temos direito a ter opinião, mas o direito a expressá-la depende das nossas obrigações e das condições em que o fazemos, e já agora da própria opinião. Se uma professora primária disser na aula que na sua opinião 2+2=5, não pode esperar que seja tão válida como 2+2=4.
A teologia do corpo não é so apenas uma opinião no meio de tantas, como por exemplo o sexo em grupo ou a pedofilia. É uma catequese dada pelo Papa, em que explica que o nosso corpo deve também louvar a Deus, nas coisas mais humanas.
Se vem o Pe.Castillo desdizer o que diz a Igreja, com 2 mil anos de história e a assistência garantida do Espírito Santo, dada por Jesus, obviamente que vou confiar mais na Igreja. Se o Pe.Castillo quiser que confie mais nele estou disposto a fazê-lo, mas tem que dar argumentos mais convincentes.
Os mandamentos existem para as situações gerais. Como católico tenho o dever de ir Missa ao domingo (pelo menos). Se estiver em coma, obviamente não terei culpa por não ir à Missa. Claro que se pode falar com Deus no quarto, na sala, na casa-de-banho, onde quiser, mas nada disso substitui a Missa, se eu puder lá ir. A confissão idem aspas. A esmagadora maioria dos católicos que não vão à Missa ou à confissão, não vão porque não querem. Quem não pode, não há nada a fazer, mas esses são a raríssima excepção.
Isto não são verdades absolutas, verdade absoluta é o facto que Jesus é Deus, por exemplo, e nem isso o Pe.Castillo defende.
Tentar contrapor o Evangelho (ou será os evangelhos?) ao que diz o Papa, é não perceber o que é o Evangelho, o que é a Tradição, e como surgiram os evangelhos.
Caro Sr. João Silveira
ResponderEliminarNão é meu hábito entrar neste tipo de diálogo na internet já que a minha formação a este nível é apenas a de um católico empenhado e atento que procura crescer interiormente para melhor se aproximar do Deus em que acredito e conseguir enriquecer a oração para que Jesus interceda por mim junto do Pai como Ele próprio nos prometeu.
Portanto, com esta tréplica aos seus comentários dou por fim o debate sobre o assunto dizendo, em primeiro lugar, que não tenho qualquer embirração com o nome que usa no seu blog. Só não gosto e disse-o porquê. Quanto ao tratamento por Sr. é um hábito de quase 70 anos de vida que certamente não perderei.
No que respeita ao exercício do “múnus teológico” mantenho a afirmação de proibição já que a palavra significa, entre outras coisas, “funções que um indivíduo tem de exercer”. E ao entrevistado foi retirada a possibilidade de transmitir essa formação a outros no âmbito da sua acção como padre.
Quanto à afirmação de que foi posto em dúvida que Jesus é Deus, esse é um enviesamento do que foi escrito na entrevista. E no que respeita à comparação com o ensino da geografia ou da matemática, nenhum do conhecimento humano é definitivo podendo mesmo especular-se que 2+2 possam não ser 4. É que certezas sobre o conhecimento só tem aqueles que não sabem nada. Transpondo isto para o campo da teologia parecem-me ser as coisas bem mais complicadas. Ou não é verdade que a Igreja não contesta que Deus é um mistério só explicável após a Ressurreição que nos foi prometida?
Relativamente ao direito de defesa daqueles que se opuseram ao Pd. Castillo Sanchez, estarei sempre disponível para ouvir todas as opiniões, de todas as partes, pois só com abertura de pensamento podemos formar a consciência. Por isso é que não entendo que se possa exercer qualquer tipo de censura como no caso do entrevistado.
Admito, por outro lado, que as opiniões deste padre não se coadunem com a manutenção da sua ligação à comunidade a que livremente aderiu, aceitando as regras que a mesma lhe impôs, e que, portanto, seja legítimo que o mesmo seja convidado a sair. Mas isso não está em causa. O que está em causa é a proibição de transmitir as opiniões a que o entrevistado alude.
E os “segredos de balneário do Sr. Jorge Jesus” são um triste argumento, pois não estamos aqui a tratar de segredos que não podem ser divulgados. A não ser que defenda o regresso ao obscurantismo da Igreja na Idade Média. De facto, Deus deixou de ser um segredo para os homens desde que quis iniciar a Sua Revelação e com a vinda de Jesus, seu Filho, essa Revelação anunciada é cumprida, de forma directa, e a Sua Palavra transmitida aos homens através do Evangelho. Aquilo que afirmo e sempre afirmarei, enquanto Deus não me permitir conhecê-l’O, face a face, é que Deus é um mistério mas não um segredo. Assim, uso as suas próprias palavras: “haja bom senso!”
Quanto à Teologia do Corpo, sei bem que se trata de um vasto conjunto de 127 lições catequéticas, proferidas pelo Papa João Paulo II nas audiências de quarta-feira, entre 5 de Setembro de 1979 e 17 de Dezembro de 1980. Mas, como disse, não conheço de forma aprofundada esse tema para entrar numa discussão acerca do mesmo. Contudo, para mim, continua a ser uma opinião ou, se quiser, uma interpretação, mas não um dogma baseado na infalibilidade Papal.
Finalmente, quanto ao Evangelho e à Tradição da Igreja, é bom não esquecer que o Evangelho é a Palavra de Deus, em que acreditam os que seguem Jesus, e a Tradição da Igreja é uma construção dos homens com toda a falibilidade que a mesma contém. Por isso a afirmação da entrevista, com a qual concordo, de que hoje se sobrepõe a Igreja ao Evangelho.
E já agora que tanto defende a Igreja e a sua hierarquia que me diz do que se escreveu na constituição pastoral Gaudium et Spes, promulgada pelo Papa Paulo VI, no dia 7 de Dezembro de 1965 e tão bem referida no anterior comentário de MV, no que se refere à “Dignidade da consciência moral” (Cap.1, 16.) e à “Grandeza da Liberdade” (Cap. 1, 17.)?
Hugo Meireles
Caro Sr. Hugo Meireles (na casa dos outros cumprimos as regras da casa)
ResponderEliminarAcredite que é não é de ânimo leve que discuto com uma pessoa da sua idade, porque a experiência é também uma escola e não deve ser desprezada, embora hoje em dia sejam os jovens a mandar.
Em relação ao munus de professor, ele não está incluído na vocação sacerdotal. A maior parte dos padres não são professores universitários, e ainda bem. Não que tenha mal ser professor universitário, é óptimo, se for necessário. Mas o múnus sacerdotal é administrar sacramentos e ser um pastor no meio das ovelhas. Qualquer um pode dar aulas numa universidade, mas apenas um padre pode celebrar uma Missa ou confessar uma pessoa, e isto é dum valor inestimável. O Pe.Castillo não foi para padre para ser professor, senão tinha ido para professor. Nem nunca lhe foi prometido que ser professor universitário seria uma das suas funções, porque um jesuíta pode ser enviado para qualquer lado do mundo, até onde não existem universidades. Além de que o Pe.Castillo fez voluntariamente votos de obediência à Companhia de Jesus e ao Papa, compromentendo-se por isso a obedecer. Só por isto tudo não existe nenhuma injustiça em ter-lhe sido retirado o cargo de professor. Mas mais, a julgar pelas ideias que professa, o Pe.Castillo devia ter uma teologia própria em relação a quase tudo. Ora as pessoas não andam a pagar a faculdade para saberem as ideias dum padre, mas sim o que realmente aconteceu, ou é o pensamento da Igreja em relação a determinado tema.
Isto não é nenhum tipo de censura, mas a universidade não é um sítio para opiniões, para isso usa-se a praça pública ou os blogs. As propinas são caras demais para se pagar para ouvir as ideias peregrinas de alguém que se acha mais iluminado do que dois mil anos de santos.
Pode realmente especular-se que 2+2 não são 4, mas acha produtivo? E ter aulas de teologia com alguém que não acredita na Santíssima Trindade serve para quê?
Eu não percebo qual a utilidade prática das tais “opiniões” do Pe.Castillo. Se a Igreja tivesse sido construída com opiniões ainda estavamos a decidir se Jesus era mais Deus ou mais homem. Graça ao magistério da Igreja, criado por Jesus, podemos afirmar com toda a certeza que Jesus era verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. A Igreja não é uma democracia, e ainda bem! Deus sabe o que faz, e sabe que pôr uma pessoa a decidir, com os outros apóstolos em comunhão, é o garante da unidade do seu povo.
A Igreja na Idade Média não foi assim tão obscurantista, dê uma vista de olhos no google. Por ex este video da insuspeita BBC acaba com muitos dos mitos que nos foram impingidos: http://senzapagare.blogspot.com/2011/08/o-mito-da-inquisicao-desmontado-num.html.
ResponderEliminarIsto para já não falar do mito que a Igreja dizia que o mundo era plano, e que perseguia os cientistas, etc, quando foi no seio da própria Igreja que surgiu a ciência, e que foram criadas as universidades.
Para o Pe.Castillo dizer o que disse sobre a sexualidade e a Igreja é porque nunca leu a Teologia do Corpo, o que considero um erro grave para quem quer emitir um juízo. A Teologia do Corpo é apenas uma opinião? Tenho mesmo de escolher entre o Papa João Paulo II e o Pe.Castillo?
O Evangelho é a boa-nova, Jesus Cristo, Filho de Deus, morto e ressuscitado para a remissão dos pecados e salvação dos homens. Quando Jesus diz aos seus discípulos para pregarem o Evangelho é exactamente isto. Assim nasceu a Tradição, com estes enviados, que foram interpretando o que aprenderam com Jesus, transmitindo a outros e os outros a outros, até chegar até nós. Algures nessa Tradição, surgiu a necessidade de escrever a vida de Jesus, e aí nascem os evangelhos. Os evangelhos nasceram no seio da Tradição, são inseparáveis da mesma. Aliás, só há 4 séculos, com a invenção da imprensa, começaram a circular evangelhos, e mesmo assim nem todas as pessoas sabiam ler.
Concordo plenamente com esse ponto 17 da Gaudium et Spes, a liberdade não é fazer o que me apetece, mas sim fazer o bem. O Papa Bento disse-o recentemente por outras palavras: "Só na relação com Deus é que o homem compreende o significado da sua liberdade, sendo tarefa da educação formar para a liberdade autêntica. Esta não é a ausência de vínculos, nem o império do livre arbítrio; não é o absolutismo do eu. Quando o homem se crê um ser absoluto, que não depende de nada nem de ninguém e pode fazer tudo o que lhe apetece, acaba por contradizer a verdade do seu ser e perder a sua liberdade. De facto, o homem é precisamente o contrário: um ser relacional, que vive em relação com os outros e sobretudo com Deus. A liberdade autêntica não pode jamais ser alcançada, afastando-se d’Ele." Mensagem para o dia mundial da Paz 2012
Tenho que no seu blog só tenha dois artigos sobre o Papa Bento XVI, sem contar com a viagem a Portugal, e nenhum deles abonatório. Na minha opinião, que vale o que vale, devia aproveitar melhor as aulas diárias que o Papa nos dá, seja em questão de humildade seja em catequeses.
Um abraço!
Intromentendo-me neste debate animado cito aqui o antigo mestre geral dos Dominicanos:
ResponderEliminar"A Igreja tem de tornar-se um espaço de uma liberdade provocadora, no qual ousamos lançar ideias, pôr à prova hipóteses, afirmar uma verdade incómoda e impopular, dizer ao Rei que vai nu ou ouvir dizer que nós é que estamos nus. Nunca nos poderemos aproximar do mistério se não tivermos a lúdica liberdade dos filhos de Deus, se não fizermos experiências e errarmos e avançarmos às apalpadelas para a verdade. (…) Os cristãos deveriam ser aqueles que continuam a levantar questões, quando todos os outros pararam de o fazer."
Timothy Radcliffe, "Ser cristão para quê?", p. 266
Que bom seria se a Igreja fosse mais este espaço de procura da verdade em liberdade! Não seria mais à imagem do Jesus que prega e do reino que anuncia?
A questão é: pela sua ação que imagem a Igreja dá daquele que quer anunciar como esperança para o mundo, mais livre e feliz?
Esqueci-me de assinar o comentário anterior... Sory!
ResponderEliminarPaulo
ResponderEliminarMuito obrigado pela citação tão a propósito desse livro excelente que nos trazes aqui. Bom seria se todos os cristãos tivessem sempre o espírito aberto para estas discussões. E obrigado pela segunda mensagem que responde ao desafio que desde sempre tenho lançado para que as pessoas percam o medo de se anunciarem.
Hugo Meireles
Paulo, isso já existe há 500 anos, chama-se Protestantismo. No Protestantismo cada um é "livre" para acreditar na sua verdade, e em caso de dúvida funda uma nova igreja, daí ser dezenas de milhares. Qual delas a verdadeira se cada uma tem a sua verdade? A resposta é nenhuma.
ResponderEliminarO que garante que vamos no bom caminho, o que nos leva pelo caminho da verdade é seguirmos Pedro e os apóstolos, ou seja o Papa e os bispos. Isto implica nunca fazer perguntas nem tentar compreender as coisas? Não, antes pelo contrário, Deus dotou-nos de razão para a usarmos neste busca pela verdade. Mas ao mesmo tempo temos que ser humildes e deixar-nos ser guiados por quem tem essa missão.
É deveras impressionante como muitos católicos continuam ainda hoje a comportar-se como os fariseus e seus seguidores, para os quais as leis definidas pelos homens são mais importantes do que a única Lei que Jesus nos traz, ou seja, a Lei do Amor a Deus e ao próximo. A este propósito, vale a pena ler o Evangelho de hoje (S. Marcos 3,1-6) e ver como Jesus lida com as leis dos homens.
ResponderEliminarInfelizmente, continuam a existir na Igreja de hoje os que entendem que as suas leis são mais importantes que a Palavra de Jesus e que quando alguém não está de acordo com o que dizem de imediato o tentam "matar".
Então o pensamento e as palavras de um católico tão assumido como Timothy Radcliffe são palavras de um protestante?
Sr.Hugo, não comentei as palavras do pe.Timothy Radcliffe, e sim as dos Paulo.
ResponderEliminarParece que quando alguém discorda de si também o tenta "matar".
Qual é a diferença entre a Igreja que "sonha" e a protestante?