Esta semana no Jornal de Negócios João Carlos Barradas citava a opinião do Patriarca de Damasco: "Um futuro diferente não nos oferece garantias e, portanto, estamos satisfeitos com este governo." Isto parecerá chocante, tendo em conta a imagem repugnante do regime que fica na mente de qualquer pessoa que acompanhe o conflito pelas notícias. Mas concluía João Carlos Barradas: "Na sinuosa e arrastada luta que culminará em mais uma virada islamista muitos ainda terão de morrer na Síria."
O futuro pode passar por uma guerra civil e aí terceiros interessados em fomentá-lo não hão-de perder oportunidades e poderá passar por mais um regime islamista.
O futuro não se adivinha ainda mas importa ver que há várias questões em jogo na Síria.
Em primeiro lugar, é dos países do Médio Oriente com minorias religiosas mais importantes. Não há estatísticas inteiramente fiáveis, mas o relatório de uma missão do Senado Francês (ver aqui), em 2007 falava em 10% de Cristãos (Católicos ortodoxos, Ortodoxos Gregos, Ortodoxos Siríacos, Arménios ortodoxos e, por fim, uma minoria de Druzos. A própria comunidade muçulmana está divida em sunitas, xiitas e uma minoria alauíta a que pertence a família do presidente Bashar.
Sem nunca ter sido um estado laico, a Síria soube impor uma separação entre Estado e religião (na região será talvez o único Estado que cede terreno para ser construída uma igreja e permite a existência de imprensa escrita cristã) e segundo o citado relatório: "é natural que o modelo sírio em matéria de coexistência de comunidades religiosas assuma uma enorme importância para o mundo árabe e para o Ocidente."
Outra questão em jogo é o número impressionante de refugiados iraquianos que alise encontram: 1 200 000. O facto fez com que mesmo altos dignitários americanos (congressistas de ambos os partidos, Nancy Pelosi etc) apesar da política de isolamento tenham mantido contactos e visitas. Não obstante os esforços do Estado sírio para integrar esses refugiados (proporcionado escolaridade às crianças, infra-estruturas etc), muitos deles ficam à mercê de condições de vida hediondas (trabalho infantil; prostituição). Esse é um drama que já corre há muito e de que a opinião pública mundial nunca soube.
Seria trágico que os refugiados iraquianos (grande parte dos cristãos iraquianos para ali se deslocou) tivessem fugido de uma guerra e ali encontrassem outra.
Créditos: imagem de W. J. Pilsak
A situação é, de facto, complexa. Mas o número diário de mortes é insuportável. Estamos perante um verdadeiro massacre.
ResponderEliminarNão digo que a situação não seja dramática. A questão é que há todas as condições para mais caso um, depois do Líbano e do Iraque, de um país com guerra civil endémica e potenciada por políticas externas.
ResponderEliminarArmando