Em 2007, aquando do último referendo sobre o aborto no nosso país, tivemos oportunidade de debater com algum entusiasmo este assunto no REGADOR. Infelizmente o tema parece ter caído no esquecimento da maioria das pessoas, mesmo entre as muitas que não sendo militantes de movimentos de defesa da vida estão contra esta prática como foi defendida no último referendo e que deu origem à actual legislação.
Vem isto a propósito de uma extensa notícia publicada hoje no jornal “Público” sob o título “Meio milhar fez mais do que um aborto em 2011”. Da leitura desse artigo cujos dados foram profusamente divulgados em vários órgãos noticiosos com origem em dados difundidos pela agência noticiosa “Lusa” para além do número de abortos realizados ressalta um facto que me parece ser de salientar e que vem reforçar a linha de pensamento de intervenções que fiz neste blog na altura do referendo.
De facto, é de salientar que 97,6% dos abortos, agora designados por interrupções voluntárias da gravidez talvez para diminuir a conotação negativa que o termo encerra, foram efectuados a pedido da mulher. Apenas 2% foram justificados por doença grave ou malformação do feto e 0,4% por outras razões. Por outro lado, cerca de 26% das mulheres já tinha efectuado um aborto anteriormente, das quais 464 o tinham feito nesse mesmo ano. Quanto à situação familiar, 40% das mulheres que abortaram não tinham qualquer filho.
Como disse nas intervenções que fiz em 2007 neste mesmo espaço, não tenho a pretensão de julgar as mulheres que abortam, seja porque razão for, pois só colocando-nos na posição das mesmas é que poderíamos perceber o drama de muitas destas vidas. Mas não deixa de me chocar o facto de tantas mulheres recorrem a um aborto quando a prevenção da gravidez é hoje uma possibilidade simples ao alcance de qualquer uma delas.
Assim, duas conclusões se poderiam tirar daqui: é necessário que se promovam todos os meios de informação e formação das mulheres para que evitem a gravidez e não a interrompam, sendo também necessário que os responsáveis da Igreja entendam essa necessidade em vez de condenarem a utilização de métodos contraceptivos como tem feito. Já seria altura desses responsáveis perceberem que os métodos naturais, como eles defendem, não são minimamente fiáveis para solucionar este drama que aflige tantas mulheres. Ou entendem que é preferível esconder a cabeça na areia perante tão gritante problema, lavando as mãos atrás de uma condenação da mulher e a sua exclusão do convívio com os baptizados? E porque se mantém a ideia de que praticar um aborto é um crime perante a Lei de Deus maior do que o assassinato de um nado vivo ao ponto de a absolvição destes actos só estar ao alcance de um Bispo?
Muito há a reflectir nestes momentos de contestação à Igreja Católica, como os que recentemente vieram a lume, se quisermos salvar o que dela resta e a identifica com a Igreja de Jesus Cristo, Igreja de exigência mas também de compreensão e perdão.
Hugo Meireles