Na sequência do diálogo do Frei Eugénio com o Evangelho do Filho Pródigo, vale bem a pena ler este texto de António Couto, de que aqui ficam alguns excertos.
(...) o narrador prepara cuidadosamente o cenário, dizendo-nos que os PUBLICANOS e PECADORES se aproximavam de Jesus para o escutar, em claro contraponto com os ESCRIBAS e FARISEUS que estavam lá, não para o escutar, mas para criticar o facto de Jesus acolher os pecadores e comer com eles. (…)
3. A estes últimos [escribas e fariseus] conta Jesus uma parábola, «ESTA PARÁBOLA» (taúten parabolên) (15,3), no singular. Sim, o texto diz expressamente «ESTA PARÁBOLA», o que quer dizer que tudo o que Jesus vai contar até ao final do Capítulo é uma só parábola, e não três, como vulgarmente se pensa, titula e diz. Sendo a parábola contada para os ESCRIBAS e FARISEUS, então é desse lado do auditório que nós, leitores ou ouvintes, nos devemos colocar. Se nos colocarmos, como é usual e a nossa simpatia reclama, do lado dos PECADORES, da OVELHA perdida e encontrada, da DRACMA perdida e encontrada, do FILHO perdido e encontrado, a parábola passa-nos ao lado.
(…)
7. Vejamos então: o filho mais novo faz ao seu PAI um estranho pedido: pede a parte da herança que lhe toca. Note-se bem que se trata de um pedido fatal. O PAI dá três coisas: o pão todos os dias, uma roupa nova pelas festas, mas há uma coisa que só dá uma vez na vida, e em circunstâncias fatais, de morte próxima: a herança! Ao pedir a herança, este filho como que mata o PAI e morre como filho! Em boa verdade, ele não quer mais ter PAI e não quer mais ser filho. Por isso, junta tudo, parte para longe e gasta tudo. Desce abaixo de porco, pois nem o que os porcos comem lhe é permitido comer. Decide então voltar para casa, e prepara um discurso com três pontos: 1) PAI, pequei contra o céu e contra ti; 2) não sou digno de ser chamado teu filho; 3) trata-me como um dos teus assalariados. Vê-se bem que não quer voltar mais a ser filho. Também não quer mais ter PAI. Quer ser um assalariado. Quer ter um patrão.
8. Voltou. O PAI viu-o ao longe, as suas entranhas moveram-se de compaixão, correu ao encontro do filho, abraçou-o e beijou-o. É outra vez a surpresa a encher a cena. Quando nós regressamos a casa, entenda-se, a Deus, nunca encontramos um PAI distraído ou ausente, que mudou de residência, ou que responde de forma brusca e fria. Note-se bem que a iniciativa surpreendente é do PAI.
(…)
10. Como tinha saído ao encontro do filho mais novo, o PAI sai agora também ao encontro do filho mais velho, para o instar a entrar para a FESTA, tal como o pastor que encontra a ovelha perdida e a mulher que encontra a dracma perdida convidaram os amigos e os vizinhos para a ALEGRIA. Mas este filho mais velho acusa o PAI de acolher um pecador e de se preparar para comer com ele. Exactamente o que faziam os ESCRIBAS e FARISEUS, que criticavam Jesus por acolher os pecadores e comer com eles. Este filho mostra-se, portanto, um puro FARISEU, que sempre cumpriu as ordens do PAI (patrão), achando-se credor e não devedor face ao seu PAI, face a Deus!
3. A estes últimos [escribas e fariseus] conta Jesus uma parábola, «ESTA PARÁBOLA» (taúten parabolên) (15,3), no singular. Sim, o texto diz expressamente «ESTA PARÁBOLA», o que quer dizer que tudo o que Jesus vai contar até ao final do Capítulo é uma só parábola, e não três, como vulgarmente se pensa, titula e diz. Sendo a parábola contada para os ESCRIBAS e FARISEUS, então é desse lado do auditório que nós, leitores ou ouvintes, nos devemos colocar. Se nos colocarmos, como é usual e a nossa simpatia reclama, do lado dos PECADORES, da OVELHA perdida e encontrada, da DRACMA perdida e encontrada, do FILHO perdido e encontrado, a parábola passa-nos ao lado.
(…)
7. Vejamos então: o filho mais novo faz ao seu PAI um estranho pedido: pede a parte da herança que lhe toca. Note-se bem que se trata de um pedido fatal. O PAI dá três coisas: o pão todos os dias, uma roupa nova pelas festas, mas há uma coisa que só dá uma vez na vida, e em circunstâncias fatais, de morte próxima: a herança! Ao pedir a herança, este filho como que mata o PAI e morre como filho! Em boa verdade, ele não quer mais ter PAI e não quer mais ser filho. Por isso, junta tudo, parte para longe e gasta tudo. Desce abaixo de porco, pois nem o que os porcos comem lhe é permitido comer. Decide então voltar para casa, e prepara um discurso com três pontos: 1) PAI, pequei contra o céu e contra ti; 2) não sou digno de ser chamado teu filho; 3) trata-me como um dos teus assalariados. Vê-se bem que não quer voltar mais a ser filho. Também não quer mais ter PAI. Quer ser um assalariado. Quer ter um patrão.
8. Voltou. O PAI viu-o ao longe, as suas entranhas moveram-se de compaixão, correu ao encontro do filho, abraçou-o e beijou-o. É outra vez a surpresa a encher a cena. Quando nós regressamos a casa, entenda-se, a Deus, nunca encontramos um PAI distraído ou ausente, que mudou de residência, ou que responde de forma brusca e fria. Note-se bem que a iniciativa surpreendente é do PAI.
(…)
10. Como tinha saído ao encontro do filho mais novo, o PAI sai agora também ao encontro do filho mais velho, para o instar a entrar para a FESTA, tal como o pastor que encontra a ovelha perdida e a mulher que encontra a dracma perdida convidaram os amigos e os vizinhos para a ALEGRIA. Mas este filho mais velho acusa o PAI de acolher um pecador e de se preparar para comer com ele. Exactamente o que faziam os ESCRIBAS e FARISEUS, que criticavam Jesus por acolher os pecadores e comer com eles. Este filho mostra-se, portanto, um puro FARISEU, que sempre cumpriu as ordens do PAI (patrão), achando-se credor e não devedor face ao seu PAI, face a Deus!
11. Quando duas figuras parecem diferentes, é naquilo em que se assemelham que reside a chave de compreensão. O que assemelha estes dois filhos é que ambos se sentem assalariados (e não filhos) e ambos olham para o PAI como para um patrão. É também interessante notar que os dois filhos deste quadro falam ao PAI, ao seu PAI comum, como fazem os cristãos. Como fazemos nós. Mas em nenhum momento da história se falam um ao outro. Será que também neste ponto se parecem connosco? Sim, às vezes, nós também só sabemos falar por trás, entre raivas acumuladas e insultos. (...)
13. Afinal «ESTA PARÁBOLA» em três quadros foi contada por Jesus aos ESCRIBAS e FARISEUS, ao FILHO MAIS VELHO, a NÓS. Mas ficamos sem saber, no final, se o FILHO MAIS VELHO entrou ou não entrou em casa, para a FESTA. O narrador não o diz, porque essa decisão de entrar ou não, somos NÓS que a temos de tomar. Afinal foi para NÓS, TU e EU, colocados, na estratégia narrativa, do lado dos ESCRIBAS e FARISEUS e do FILHO MAIS VELHO (única posição correcta para sermos interpelados pela parábola), que Jesus contou a parábola. Então, a decisão é nossa, é minha e tua: entramos ou recusamos entrar na CASA do PAI, na misericórdia, na festa, na dança e na alegria?
13. Afinal «ESTA PARÁBOLA» em três quadros foi contada por Jesus aos ESCRIBAS e FARISEUS, ao FILHO MAIS VELHO, a NÓS. Mas ficamos sem saber, no final, se o FILHO MAIS VELHO entrou ou não entrou em casa, para a FESTA. O narrador não o diz, porque essa decisão de entrar ou não, somos NÓS que a temos de tomar. Afinal foi para NÓS, TU e EU, colocados, na estratégia narrativa, do lado dos ESCRIBAS e FARISEUS e do FILHO MAIS VELHO (única posição correcta para sermos interpelados pela parábola), que Jesus contou a parábola. Então, a decisão é nossa, é minha e tua: entramos ou recusamos entrar na CASA do PAI, na misericórdia, na festa, na dança e na alegria?
Ela esclarecedora re-leitura da parábola.Fica-nos a nós de continuarmos a parábola!
ResponderEliminarÉ o melhor texto que li sobre esta parábola.
ResponderEliminarAntónio da Veiga