2020-08-07

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o evangelho deste Domingo, 9 de agosto, 19º do tempo comum, pelo Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.







Aqui fica o texto do Diálogo do Frei Eugénio:


Evangelho segundo São Mateus (14,22-33)
 

Depois de ter saciado a fome à multidão, Jesus obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-lo na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão.
Logo que a despediu, subiu a um monte, para orar a sós. Ao cair da tarde, estava ali sozinho.
O barco ia já no meio do mar, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário.
Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar.
Os discípulos, vendo-O a caminhar sobre o mar, assustaram-se, pensando que fosse um fantasma. E gritaram cheios de medo.
Mas logo Jesus lhes dirigiu a palavra, dizendo: «Tende confiança. Sou Eu. Não temais».
Respondeu-Lhe Pedro: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas».
«Vem!», disse Jesus. Então, Pedro desceu do barco e caminhou sobre as águas, para ir ter com Jesus.
Mas, sentindo a violência do vento e começando a afundar-se, gritou: «Salva-me, Senhor!».
Jesus estendeu-lhe logo a mão e segurou-o. Depois disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?».
Logo que subiram para o barco, o vento amainou.
Então, os que estavam no barco prostraram-se diante de Jesus, e disseram-Lhe: «Tu és verdadeiramente o Filho de Deus».

 

DIÁLOGO


Ao ler esta passagem do Evangelho, imaginei-me no lugar de Pedro, a caminhar sobre as águas do Mar da Galileia.
Deve ser uma sensação formidável, caminhar sobre as águas do mar!
E, lembrei-me da grande alegria, na minha infância, quando aprendi a ter equilíbrio e a andar sozinho de bicicleta, já não precisando da ajuda do meu pai, que até então me equilibrava e depois corria atrás de mim a apoiar-me.
Esse momento da minha infância marcou o meu crescimento. O ser capaz de andar numa bicicleta, tornou-me autónomo, independente para dar passeios e fazer corridas.

Assim vai acontecendo ao longo das nossas vidas.
Somos educados para nos tornarmos mais seguros nas variadas facetas e atividades que vamos aprendendo, tornando-nos mais autónomos e menos dependentes de quem nos ensinou.

Há, no entanto, uma diferença fundamental entre a minha aprendizagem a andar de bicicleta e a de Pedro a andar sobre as águas.
O objetivo do meu pai era que eu ganhasse confiança em andar sobre duas rodas e me tornasse capaz de andar de bicicleta sem precisar da sua presença. Uma aprendizagem para ser autónomo.

Mas o objetivo de Jesus era dar uma nova orientação à confiança de Pedro. Os evangelhos mostram-nos Pedro confiante em si próprio, sendo o primeiro a tomar iniciativas e tendo capacidade de liderança.
Na passagem que lemos, é Pedro que avança: «Se és Tu, Senhor,
manda-me ir ter contigo sobre as águas». E Jesus diz-lhe: «Vem!»
Ora, Pedro, para conseguir caminhar sobre as águas ficava totalmente dependente de Jesus e do seu poder para superar a lei da gravidade e, assim, ser capaz de andar sobre as águas.
Quando Pedro sai do barco e começa a andar sobre o mar... é a fé em Jesus que o faz avançar.
Que alegria!


Mas assim que Pedro se sente perturbado pela força do vento, atordoado pela tempestade que se levanta, o medo começa a enfraquecer a sua fé e começa a afundar-se.
Então grita: «Senhor, salva-me!»
Imediatamente Jesus estende a sua mão e segura-o com firmeza,
dizendo: «Homem de pouca fé, por que duvidaste?»
Jesus está a ensinar Pedro a colocar cada vez mais a sua confiança n’Ele, Jesus, e menos em si próprio.
Na verdade, nós cristãos não fazemos mais do que avançar no mar da vida.
Como pessoas responsáveis, confiamos nas nossas capacidades para vencer os obstáculos com que nos vamos deparando e assumimos os nossos compromissos com determinação.
Custa-nos muito estender a mão, pedindo que alguém agarre nela e nos segure, quando as situações nos estão a afundar.
Sempre que aceitamos o risco de sair do barco, porque Jesus nos chama das mais variadas formas, vamos andando satisfeitos e confiantes.
Mas, quando começam a soprar os ventos das contrariedades, quando os insucessos agitam a nossa segurança em nós-próprios, o medo começa a tomar conta de nós e a confiança em Jesus vai ficando mais fraca… cheios de aflição sentimo-nos a afundar.
Pedro não teve vergonha de gritar, pedindo socorro a Jesus e estender a mão com ansiedade para que Ele a segurasse.

A Covid-19 veio mudar muito as nossas seguranças.
Até à chegada desta pandemia, podíamos organizar as nossas agendas, planear trabalhos profissionais, encontros e reuniões; programar viagens com antecedência; cuidar da saúde, marcando consultas e, se necessário, intervenções cirúrgicas. Tudo isso contribuía para a nossa segurança e confiança em nós-próprios.
Mas será que esta pandemia pode contribuir para fazermos a mesma descoberta que Pedro fez: que em todas as circunstâncias, é em Jesus que vale a pena pormos toda a confiança?
Poderemos aprender com ele que precisamos de não ter receio de estender a nossa mão, pedindo a Jesus que a agarre e nos salve?
Quem dera que o grito de Pedro tivesse eco dentro de nós, e que também com confiança pudéssemos gritar a Jesus: «Salva-me, Senhor!».
E que, esticando o nosso braço, estendêssemos a mão a pedir que a d’Ele nos segure e salve.

Frei Eugénio Boléo, op
 

1 comentário:

  1. É verdade! é tão instintivo e até moralmente tão correcto não ser dependente de ninguém que reproduzimos essa atitude na nossa relação com Jesus.

    ResponderEliminar