2021-04-25

25 de abril - por quem o viveu



 

No dia em que passam 47 anos sobre a revolução do 25 de Abril, aqui fica um testemunho de quem a viveu por dentro: Luís da Costa Correia, capitão-tenente na época, e que participou no "movimento que levou à realização do levantamento militar em 1974, bem como na ocupação da DGS (ex-Pide)". 

A história de fez-se de muitos gestos de coragem de pessoas concretas, que prontamente disseram sim, sem cálculos.

"O Comandante Pinheiro de Azevedo, perguntou-me então e de imediato se eu aceitaria ser o comandante superior das Forças que se iriam deslocar para proceder à ocupação da sede da DGS/PlDE, bem como e se necessário para obter previamente a adesão do Almirante Ferreira de Almeida, Chefe do Estado-Maior da Armada, ao movimento militar, tendo eu de pronto respondido afirmativamente." 

(...)

"Dirigi-me então ao local onde onde o Tenente Lobo Varela me aguardava com a sua força (uma Companhia de Fuzileiros "ad-hoc") tendo dirigido a todo o pessoal uma breve alocução explicando que o objectivo principal era a instituição de um sistema democrático no país, em que a liberdade de opinião e de imprensa seriam a pedra de toque."

Aqui pode ler-se o texto completo


Importa também ver o notável discurso do Presidente da República, hoje no Parlamento, com o seu apelo a que o país faça as pazes com a sua história, com os seus sucessos e fracassos.



 

 

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho deste Domingo,  25 de Abril, IV Domingo de Páscoa, Domingo do Bom Pastor, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 





 

Evangelho (Jo. 10, 11-18)

Naquele tempo, disse Jesus: «Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.

O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o lobo as arrebata e dispersa.

O mercenário não se preocupa com as ovelhas.

Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas.

Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor.

Por isso o Pai Me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la.
Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai».
 
DIÁLOGO
Jesus apresenta-se como O Bom Pastor.
Um pastor é normalmente um homem corajoso, pronto a defender o seu rebanho contra os animais selvagens, que  na Palestina do tempo de Jesus eram sobretudo os lobos.
Quando os perigos se aproximam, o rebanho pode sentir-se seguro estando perto do seu pastor.
Ao mesmo tempo, um pastor é sensível, tem delicadeza e sabe como está cada uma das suas ovelhas, pegando mesmo ao colo na que anda mais frágil.
Jesus apresenta estas duas facetas essenciais a um pastor, dizendo:
«O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas»!
Preocupa-se com o bem de todas a ovelhas do seu rebanho.
Para reforçar a coragem e a responsabilidade assumida,
que é acompanhada da preocupação com o bem estar do seu rebanho, Jesus faz uma comparação com os pastores que são apenas uns mercenários, os pastores que estão apenas preocupados consigo mesmos e com a sua segurança .
E Jesus completa:
«Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me».
Inspira confiança e é próximo de cada uma.
O pastor, que anda com o seu rebanho pelos campos e pelos montes
é ao mesmo tempo um líder e um companheiro.
A sua autoridade não intimida, nem cria distância, pois vem do seu Amor pelas ovelhas.
Como Bom Pastor, Jesus chama-nos continuamente, para que ouvindo a sua voz o sigamos pelos bons caminhos.
Se nos desviamos ou nos desorientamos e ficamos perdidos e solitários, Ele vai à nossa procura, até nos encontrar.
Mas será que aprendemos a reconhecer a sua voz?
Na nossa cultura contemporânea, o perigo está em que a voz de Jesus, a voz do Bom Pastor, pode ser facilmente abafada pelas muitas outras vozes que tomam conta da nossa atenção.
Tal atenção a Jesus só pode ser cultivada se criarmos espaço nas nossas vidas para que a voz de Jesus se torne audível acima do barulho de  todas as outras vozes.
Como deviam as ovelhas, relacionar-se com o pastor?
Do seu lado, as ovelhas tinham todo o interesse em permanecer perto do pastor, andar atentas ao mais pequeno som da sua voz, que indicava caminhos e as advertia dos perigos possíveis.
Jesus disse claramente que apenas as ovelhas que ouvem a Sua voz e acolhem a sua Palavra com um coração disponível e cheio de confiança podem entrar na sua intimidade.
Jesus disse: «conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai».
Com esta afirmação, ele declara que não somos simplesmente chamados a ser um povo de Deus, mas a participar na sua própria união com o Seu Pai.
Como líder e companheiro, vem oferecer-nos uma intimidade com Ele, como Ele tem com Deus-Pai.
Essa intimidade transforma-nos, torna-nos mais parecidos com Deus.
É da nossa experiência, quer entre bons amigos, quer em casal, se passamos tempo juntos e se escolhemos repetidamente amarmo-nos uns aos outros, tornamo-nos em quem nunca poderíamos ter sido, sem esses outros. Ao fazê-lo, tornamo-nos mais completos.
Os bons amigos captam os gestos uns dos outros, e os casais que se amam há muito tempo, começam a tornar-se mais parecidos um com o outro.
Isto porque deram um ao outro o que é mais precioso: passaram o seu tempo um com o outro, por escolha própria.
Quanto mais verdadeiramente nos vemos e contemplamos uns aos outros com amor, mais as nossas vidas se entrelaçam.
A imagem do Bom Pastor abre-nos à descoberta da origem e do destino da relação de Jesus connosco.
Como Bom Pastor, Jesus diz que dá a vida por suas ovelhas. Embora se refira mais diretamente à sua condenação e morte na cruz, num sentido mais amplo, descreve o relacionamento de Deus com a humanidade, desde o início na criação por Amor gratuito, até à realização total no final dos tempos.
A verdadeira liberdade das ovelhas é adquirida graças a um esforço persistente, com a ajuda da graça de Deus, seguindo o "Bom Pastor", reconhecido e aceite como Caminho, Verdade e Vida.
Os verbos "ouvir" e "seguir" designam, na Bíblia  o processo pelo qual o homem adere com todo o seu ser e toda a sua vida à vontade do seu Deus.
As ovelhas não são consideradas como um rebanho, que segue sem pensar, mas como pessoas empenhadas na actividade mais livre e mais “personalizante” colaborar na missão libertadora de Jesus.
Fazendo isso, tornamo-nos cada vez mais relacionados entre nós e, portanto, cada vez mais parecidos com Deus, em cuja imagem e semelhança fomos moldados.
Hoje, Jesus Ressuscitado vem até nós, como o Bom Pastor.
É bom notar que tudo o que Ele diz sobre ser o nosso pastor é-nos dirigido no plural.
Todos nós somos ovelhas muito queridas e fazemos parte do seu rebanho, crescendo n’Ele, dando as nossas vidas umas às outras e para as outras.   
frei Eugénio

2021-04-18

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho deste Domingo,  18 de Abril, III Domingo de Páscoa, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 




 

Evangelho (Lc. 24, 35-48)

Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão.
Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco».
Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito.
Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações?
Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?».
Deram-Lhe uma posta de peixe assado,
que Ele tomou e começou a comer diante deles.
Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: "Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos"».
Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras
e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia,
e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
Vós sois testemunhas disso».

2021-04-09

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho deste Domingo,  11 de Abril, Domingo da Ressurreição, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.




 

Evangelho (Jo. 20, 19-31) 

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste, acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

DIÁLOGO

Entre as pessoas que vamos conhecendo nos Evangelhos, sem nos referirmos a Maria, a Mãe de Jesus e a José, seu marido, que têm lugares à parte, quem serão aquelas e aqueles por quem temos maior simpatia, ou de quem nos sentimos mais próximos ?

Isabel ou o seu filho João Batista ?  Pedro ? Maria Madalena ? Nicodemos ? A samaritana ? Zaqueu ? Outras ou outros ?

Devo dizer-lhes que há muito tempo que tenho  uma amizade especial por São Tomé, o apóstolo, de quem nos fala a passagem do Evangelho de hoje.

Tantos quadros famosos o representam a tocar com o seu dedo na ferida de Jesus Ressuscitado, para vencer as suas dúvidas se era mesmo Ele !

Dificilmente o podemos imaginar de outra forma. 

Parece que a subtileza da narrativa do evangelista João escapou a mestres  de Teologia e a pregadores que se referem a Tomé, como sendo um incrédulo, que precisa de vencer as suas dúvidas tocando na ferida no peito de Jesus, causada pela lança do soldado.

Embora as traduções mais conhecidas, e também a que a liturgia de hoje utiliza, digam  “não sejas incrédulo,” de facto, esta referência apenas tem a ver com a circunstância de Tomé não ter acreditado no testemunho dos seus colegas apóstolos que lhe tinham dito: «Vimos o Senhor».

A “incredulidade” de Tomé não se refere a uma atitude habitual de cepticismo, mas a um facto pontual.

Pelo contrário, o evangelista João salienta as atitudes de Tomé que é um personagem  importante no seu evangelho.

Depois da ressurreição de Lázaro, quando Jesus disse que iria continuar a caminho de Jerusalém, foi Tomé que, em nome dos seus companheiros apóstolos, declarou corajosamente que também iriam enfrentar a morte com Jesus ( Jo 11,16).

Também Tomé foi o único dos apóstolos a por uma questão a Jesus por lhes falar que o objectivo da sua missão era levá-los até Deus-Pai, mas sem lhes dizer qual era o caminho que eles deviam seguir. Foi a sua pergunta que permitiu a Jesus dizer-lhes que Ele era « o Caminho, a Verdade e a Vida »(Jo 14,5-6).

Assim, Tomé não é o  incrédulo típico, como tem sido frequentemente imaginado.

Se Tomé  tivesse de facto tocado na ferida de Jesus, seria para ter uma experiência extraordinária, de tipo maravilhoso, e não um acto de fé, apenas apoiado na Palavra de Jesus que tinha anunciado a sua Páscoa, com a passagem pela morte e a vitória da Vida, pela Ressurreição.

Sabemos que Jesus manifestou em numerosas situações descritas nos Evangelhos, que conhecia os desejos e os pensamentos mais íntimos e secretos das pessoas.

Por isso Jesus foi o primeiro a "ver" no coração de Tomé, o seu desejo de O reconhecer, tocando-o, para verificar que era o mesmo Jesus que ele tinha conhecido.

Jesus convida-o mesmo a fazê-lo, dizendo-lhe : "aproxima a tua mão e mete-a no meu lado”.

Assim Jesus vai oferecer a Tomé a oportunidade de O reconhecer, mas de modo mais profundo, sem ter de lhe tocar, sem nada de extraordinário ou maravilhoso.

Para isso, Jesus dá a Tomé a liberdade de o tocar para se certificar que era mesmo Ele, mas ao mesmo tempo está a convidá-lo a reagir com uma fé profunda que não precisa de verificação física, tocando-o.

Na passagem do Evangelho que lemos, Jesus não diz  a Tomé: « Porque me tocaste, acreditaste» mas «Porque Me viste acreditaste».

O evangelista nunca poderia ter considerado satisfatória a atitude  de Tomé, se ela tivesse consistido na verificação de um facto – a ferida no peito de Jesus.

Nem teria colocado na boca de Tomé a extraordinária profissão de fé que ele nos faz ouvir : «Meu Senhor e meu Deus!»

Na realidade, nenhuma outra pessoa no Evangelho de João  pronuncia tal fórmula. "Senhor" /Kyrios/ Yahweh juntamente com a palavra «Deus» /Theos / Elohim.

Tomé é o primeiro a descobrir que os títulos que a Bíblia reservava apenas para Deus podiam ser dados ao Jesus Ressuscitado.

Ele é o discípulo que se encaminha para a fé autêntica, num encontro verdadeiramente pessoal, que ele exprime dizendo : «Meu Senhor e meu Deus!».

Em seguida Jesus diz a Tomé: «Porque Me viste acreditaste:

felizes os que acreditam sem terem visto».

Estas duas frases estão centradas em “acreditar” indicando dois modos de acesso à fé. O  de Tomé que viu Jesus e o reconhece como  seu Deus e Senhor da sua Vida , e o dos discípulos que se seguiram em todos os tempos e lugares e que se tornam felizes por acreditarem graças aos  testemunhos dos que viram Jesus Ressuscitado, como Tomé.

É o Amor de Deus, recebido e reconhecido, que nos dá uma nova compreensão do que se vive!

 frei Eugénio