Diálogo com o Evangelho deste Domingo, 2 de Maio, V Domingo de Páscoa, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho (Jo. 15, 1-8)
Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto.
Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei.
Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim.
Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer.
Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem.
Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido.
A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos.
DIÁLOGO
O nosso crescimento, desde o nosso nascimento, é feito por sucessivas autonomias. Na nossa juventude e na maturidade desejamos ter liberdade e responsabilidade e não estar dependentes dos outros.
Na velhice, não queremos perder a nossa autonomia.
Também Jesus, durante o tempo da sua vida com os discípulos, quis formá-los para que pudessem continuar a obra de salvação que Ele tinha começado, colaborando de modo cada vez mais responsável no construção do Reino no meio de nós.
Mas esta imagem da vinha coloca-nos num outro registo. Não no do crescimento com autonomia e com a capacidade de resolver por si próprio os desafios da vida e de assumir responsabilidades,
mas no registo das relações de grande proximidade e de intimidade e
de viver em comunhão com outros.
Diz Jesus: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós.»
Jesus quer que descubramos que somos parte de uma videira cuja seiva é o Amor de Deus, que é o agricultor da parábola,
A seiva que circula através da verdadeira videira, que é Jesus, dá vida aos ramos, que nós somos.
Nas nossas vidas atarefadas e de ritmo acelerado, temos poucas oportunidades de «estar» verdadeiramente com outros.
Por exemplo, é bom ver as avós e os avôs, ou um deles, quando estão com os netos. O seu papel principal não é educá-los, mas estar com os mais pequenos, simplesmente, com atenção, brincando, lendo, falando, ou em silêncio. Nesses momentos, o seu tempo é todo para os netos.
Estes momentos em que ficamos com outros, ou quando outros ficam connosco, sem tarefas a realizar, sem serviços a fazer, sem qualquer encargo, sem qualquer pressa, são momentos de alegria pacífica.
Assim, a vida cristã pode ser resumida nesta atitude: permanecer em Jesus.
Para explicar o que ele quer dizer com isto, Jesus usa a bela figura da videira: "Eu sou a verdadeira videira, vocês são os ramos.
Permanecer em Jesus significa estar unido a Ele para receber a vida d’Ele, o Amor d'Ele.
É verdade que somos todos pecadores, mas se permanecermos em Jesus, como ramos na vinha, o Senhor vem e «poda-nos» um pouco, para que possamos dar mais frutos.
Permanecer em Jesus significa também ter a vontade de receber d'Ele o perdão, a Sua misericórdia.
Cada ramo que dá frutos, poda-o para que dê mais fruto.
Podar a videira não significa amputar, mas remover o supérfluo e dar força; visa eliminar o velho e fazer nascer o novo. Qualquer agricultor sabe-lo: a poda é um dom para a planta.
Assim me trabalha o meu Deus agricultor, com um único objetivo: o florescimento de tudo o que de mais belo e promissor pulsa em mim.
Se estamos motivados para termos momentos de "estar com" alguém, de permanecer junto de alguém, precisamos de procurar as ocasiões para o fazer, quer programando-as, quer aproveitando os «acasos» e as surpresas, que vão surgindo ao longo dos dias e mesmo das noites.
Jesus faz ainda uma promessa, à primeira vista, inacreditável: «Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido.»
Se as palavras de Jesus forem interiorizadas por nós, também os nossos pedidos se tornarão mais próximos da Vontade de Deus.
Se de facto acreditarmos nesta promessa de Jesus, ela dá-nos
uma grande energia interior, uma esperança reforçada, um desejo acrescido de produzir frutos, com a qualidade da Vontade de Deus.
Peçamos ao Senhor esta graça.
frei Eugénio
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