2021-07-17

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 16º Domingo do tempo comum, 18 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


 

Evangelho (Mc. 6, 30-34

Naquele tempo, os apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer.
Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém.
Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles.
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

 

DIÁLOGO

Todos sentimos necessidade e desejamos um tempo de férias e de descanso para "recarregar as baterias”.

Jesus propõe um tempo de descanso aos seus colaboradores mais diretos (que o Evangelho de Marcos chama pela primeira vez de “apóstolos”, isto é, “enviados”), depois de dias e dias em que, de manhã até à noite, fizeram tudo o que podiam, com a autoridade que receberam de Jesus, para libertar as pessoas das forças do Mal - todos os tipos dos chamados "espíritos impuros”. E além do que faziam, também passavam horas e horas a ensinar sobre tudo que tinham aprendido com as pregações e com o modo de viver de Jesus.

 

Mas mais do que dar um tempo de descanso aos apóstolos, Jesus desejava estar com os apóstolos, num ambiente de intimidade, num sítio calmo, com tempo para dialogarem sobre tudo o que tinham experimentado na sua missão, para poderem tomar uma refeição descansada e também para poderem rezar sem pressas.

Mas afinal, como lemos no relato de Marcos, apesar de terem planeado ir até um sítio isolado, a multidão não lhes permite terem esse tempo de encontro e de partilha entre Jesus e eles.

É fácil para nós imaginarmos a desilusão dos apóstolos quando viram o sítio para onde iam cheio de gente.

 

Qual é a atitude de Jesus?

Jesus enche-se de compaixão, de preocupação profunda por tantas pessoas cheias de aflições, de doenças, de vidas sem futuro, a sofrer de injustiças e de pobreza e que andam perdidas por não terem em quem confiar para as aliviar e orientar e que põem todas as suas esperanças em Jesus.

 

É bom lembrar que “ter compaixão” nos Evangelhos é muito mais do que “ter pena” dos sofrimentos e das aflições dos outros.

A palavra grega “splanchna”, que quer dizer “entranhas” é a mais usada, em sentido figurado, nos Evangelhos para dizer “misericórdia” e “compaixão”. Uma palavra com muita força, pois quer dizer que alguém é “tocado até às entranhas (maternas)”, ao mais fundo do seu ser.

É o sentimento que o pai tem, quando avista o seu filho mais novo que regressa a casa, na parábola do filho pródigo (Lc 15, 20).

 

É a palavra mais utilizada nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas para exprimir a reação de Jesus diante dos aflitos, dos gravemente doentes, dos marginalizados e dos excluídos e das multidões cheias de fome e desorientadas sem governantes responsáveis.

 

É a atitude que também podemos ter para nos aproximarmos o mais possível da dor e da aflição das outras pessoas, é fazer o possível para nos colocarmos na situação de sofrimento do outro. Dizem os ingleses que é “calçar os sapatos do outro”.

 

Na sua compaixão, que faz Jesus?

Antes de lhes começar a dar alimento para a fome, o que fará mais tarde, começa “a ensinar-lhes muitas coisas” sobre o Amor e o Reinado de Deus, já presente no meio de nós.

Jesus quer que as pessoas descubram que “nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).

 

Um ensino que traz às pessoas uma palavra de amor e esperança, uma palavra que toca o que as pessoas mais precisam. São palavras que são "espírito e vida" (João 6,63).

Jesus não impõe fardos, não vem para esmagar as pessoas com obrigações, vem para as libertar, para as tornar responsáveis e livres.

Jesus via tudo a partir da compaixão. Era a sua maneira de ser.

Não sabia olhar ninguém com indiferença, não suportava ver as pessoas a sofrer.

Jesus quer mostrar às pessoas que há caminhos que só o Amor de Deus consegue abrir em cada vida, por mais dura e infeliz que seja.

Jesus quer aumentar a confiança em Deus e fortalecer a esperança que vale a pena colaborar com Ele para que o mundo seja melhor e possamos ser mais felizes e de maneira durável.

 

Quem despertará em nós a compaixão?

Quem dará aos cristãos um modo de encarar os outros mais parecido com o de Jesus?

Quem nos ensinará a olhar como Ele olha?

Nós, hoje como discípulos de Jesus, somos chamados a trazer ao mundo aquelas palavras de esperança, amor, ternura e compaixão de que tanto necessitamos.

frei Eugénio

 

 


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