Diálogo com o Evangelho do 26º Domingo do tempo comum, 26 de Setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho São Marcos (9, 38-48)
Naquele tempo,
João disse a Jesus:
«Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome
e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco».
Jesus respondeu:
«Não o proibais;
porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome
e depois dizer mal de Mim.
Quem não é contra nós é por nós.
Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo,
em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.
Se alguém escandalizar algum destes pequeninos
que crêem em Mim,
melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço
uma dessas mós movidas pró um jumento
e o lançassem ao mar.
Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a;
porque é melhor entrar mutilado na vida
do que ter as duas mãos e ir para a Geena,
para esse fogo que não se apaga.
E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o;
porque é melhor entrar coxo na vida
do que ter os dois pés e ser lançado na Geena.
E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo,
deita-o fora;
porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos
do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena,
onde o verme não morre e o fogo não se apaga».
DIÁLOGO
O Evangelista Marcos continua a relatar-nos a etapa fundamental da vida de Jesus indo a caminho de Jerusalém, onde irá sofrer a Paixão e Crucifixão, às quais se seguirá a Ressurreição Pascal. Nesta etapa decisiva os discípulos continuam a manifestar uma grande incompreensão acerca das prioridades de Jesus na sua pregação.
No relato de hoje, o apóstolo João vai queixar-se a Jesus do sucesso de um homem que expulsava demónios em Seu nome, mas sem pertencer ao grupo. João fala em nome dos discípulos. Porque é que eles estão descontentes com o trabalho desse homem?
Esse homem estava a combater o mal, expulsando demónios, mas eles fizeram os possíveis para o impedir.
Já no tempo de Moisés, Deus tinha partilhado o poder de profetizar de Moisés com 70 anciãos que se puseram também a profetizar mas isso não durou muito. Ora, dois homens que tinham ficado no acampamento, sem terem ido com os 70 anciãos também receberam esse espírito e começaram a profetizar. Josué, colaborador de Moisés há muitos anos, insistiu com ele para que os fizesse calar, o que Moisés recusou.
O discípulo João em nome dos seus colegas, como Josué já o tinha feito tantos séculos antes, pretendia ter o poder exclusivo sobre as ações do amor de Deus.
Jesus responde às pretensões dos discípulos, dizendo-lhes: “Quem não é contra nós é por nós.” Se o homem tinha o poder de expulsar demónios, é porque Deus lho tinha dado. Jesus quer que os seus discípulos tenham presente que o poder e a autoridade que tinham recebido vinha de Deus para fazerem a Sua Vontade.
Jesus deu-lhes poder para servirem o Reino de Deus. Não deviam desviar esse poder para os seus próprios interesses. A Igreja não é proprietária da força de salvação de Jesus. A Igreja deve estar atenta ao Espírito de Deus (Espírito Santo) que felizmente sopra onde quer e como quer, ultrapassando todas as fronteiras que lhe queiram impor.
O serviço dos discípulos de Jesus é o de reconhecer a obra de Deus onde menos se espera, graças à liberdade, imaginação e criatividade do Espírito Santo, que desconcerta e surpreende; por isso a graça de Deus não está confinada aos instrumentos que a Igreja utiliza, como sejam os sacramentos e os ritos, nem é monopólio daqueles que nela têm funções hierárquicas.
Jesus diz ao discípulo João e aos seus companheiros que aquele homem não deve ser impedido de expulsar demónios em Seu nome. Se esse homem pode expulsar o mal em Seu nome, é porque Deus lhe deu esse poder.
Jesus chama a atenção para a largueza do Reino de Deus, no qual todos podem participar na luta contra o mal e a exclusão.
Quem cria união e comunhão, sob todas as formas, está, assim, a colaborar com a construção do Reino.
Jesus quis que os seus discípulos formassem uma assembleia “católica”, isto é universal, onde cada um possa ter um lugar ativo.
Frei Eugénio, o.p.
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