2021-09-25

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 26º Domingo do tempo comum, 26 de Setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.



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Evangelho São Marcos (9, 38-48)

Naquele tempo,
João disse a Jesus:
«Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome
e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco».
Jesus respondeu:
«Não o proibais;
porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome
e depois dizer mal de Mim.
Quem não é contra nós é por nós.
Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo,
em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.
Se alguém escandalizar algum destes pequeninos
que crêem em Mim,
melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço
uma dessas mós movidas pró um jumento
e o lançassem ao mar.
Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a;
porque é melhor entrar mutilado na vida
do que ter as duas mãos e ir para a Geena,
para esse fogo que não se apaga.
E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o;
porque é melhor entrar coxo na vida
do que ter os dois pés e ser lançado na Geena.
E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo,
deita-o fora;
porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos
do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena,
onde o verme não morre e o fogo não se apaga».

 

DIÁLOGO

O Evangelista Marcos continua a relatar-nos a etapa fundamental da vida de Jesus indo a caminho de Jerusalém, onde irá sofrer a Paixão e Crucifixão, às quais se seguirá a Ressurreição Pascal. Nesta etapa decisiva os discípulos continuam a manifestar uma grande incompreensão acerca das prioridades de Jesus na sua pregação.

No relato de hoje, o apóstolo João vai queixar-se a Jesus do sucesso de um homem que expulsava demónios em Seu nome, mas sem pertencer ao grupo. João fala em nome dos discípulos. Porque é que eles estão descontentes com o trabalho desse homem?

Esse homem estava a combater o mal, expulsando demónios, mas eles fizeram os possíveis para o impedir.

Já no tempo de Moisés, Deus tinha partilhado o poder de profetizar de Moisés com 70 anciãos que se puseram também a profetizar mas isso não durou muito. Ora, dois homens que tinham ficado no acampamento, sem terem ido com os 70 anciãos também receberam esse espírito e começaram a profetizar. Josué, colaborador de Moisés há muitos anos, insistiu com ele para que os fizesse calar, o que Moisés recusou.

O discípulo João em nome dos seus colegas, como Josué já o tinha feito tantos séculos antes, pretendia ter o poder exclusivo sobre as ações do amor de Deus.

Jesus responde às pretensões dos discípulos, dizendo-lhes: “Quem não é contra nós é por nós.” Se o homem tinha o poder de expulsar demónios, é porque Deus lho tinha dado. Jesus quer que os seus discípulos tenham presente que o poder e a autoridade que tinham recebido vinha de Deus para fazerem a Sua Vontade.

Jesus deu-lhes poder para servirem o Reino de Deus. Não deviam desviar esse poder para os seus próprios interesses. A Igreja não é proprietária da força de salvação de Jesus. A Igreja deve estar atenta ao Espírito de Deus (Espírito Santo) que felizmente sopra onde quer e como quer, ultrapassando todas as fronteiras que lhe queiram impor.

O serviço dos discípulos de Jesus é o de reconhecer a obra de Deus onde menos se espera, graças à liberdade, imaginação e criatividade do Espírito Santo, que desconcerta e surpreende; por isso a graça de Deus não está confinada aos instrumentos que a Igreja utiliza, como sejam os sacramentos e os ritos, nem é monopólio daqueles que nela têm funções hierárquicas.

Jesus diz ao discípulo João e aos seus companheiros que aquele homem não deve ser impedido de expulsar demónios em Seu nome. Se esse homem pode expulsar o mal em Seu nome, é porque Deus lhe deu esse poder.

Jesus chama a atenção para a largueza do Reino de Deus, no qual todos podem participar na luta contra o mal e a exclusão.

Quem cria união e comunhão, sob todas as formas, está, assim, a colaborar com a construção do Reino.

Jesus quis que os seus discípulos formassem uma assembleia “católica”, isto é universal, onde cada um possa ter um lugar ativo.

Frei Eugénio, o.p.

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