Diálogo com o Evangelho do 29º Domingo do tempo comum, 17 de Outubro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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Evangelho (Marcos 10, 35-45)
Naquele
tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e
disseram-Lhe: «Mestre, nós queremos que nos faças o que Te vamos pedir».
Jesus respondeu-lhes: «Que quereis que vos faça?».
Eles responderam: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda».
Disse-lhes
Jesus: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e
receber o batismo com que Eu vou ser batizado?».
Eles
responderam-Lhe: «Podemos». Então Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice
que Eu vou beber e sereis batizados com o batismo com que Eu vou ser
batizado.
Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem está reservado».
Os outros dez, ouvindo isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
Jesus
chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os que são considerados como chefes
das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre
elas o seu poder.
Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e quem quiser entre vós ser o primeiro, seja o servo de todos; porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos».
DIÁLOGO
No Evangelho de hoje,
Jesus dirige-se aos doze apóstolos depois de uma discussão que houve entre eles
sobre quem eram os mais importantes.
Os apóstolos vêem-se,
cada um deles, num lugar muito próximo de Jesus solenemente entronizado na
glória de Deus, como se Ele fosse um poderoso rei deste mundo.
Jesus vai esclarecer, não
só Tiago e João que Lhe tinham pedido os primeiros lugares junto d’Ele, na
glória de Deus, mas também os outros apóstolos que tinham ficado ofendidos com
os dois irmãos que tinham pedido lugares especiais do Reino de Jesus
Ressuscitado.
Jesus apresenta-lhes a
chamada «lei do serviço»:
“quem entre vós quiser
ser grande,
seja o vosso servidor,
e quem quiser entre vós
ser o primeiro,
seja o servo de todos”.
Com este esclarecimento,
Jesus coloca no centro da sua missão salvadora, a atitude de serviço.
A “lei do serviço” é um
novo espírito, é uma inversão de perspetivas, em relação ao que os apóstolos esperavam.
Eles só irão compreender
bem esta “lei”, depois da Ressurreição e do Pentecostes.
Jesus está diante da incompreensão
dos apóstolos quanto ao desejo de terem poder e de serem reconhecidos por o terem,
que habitava nos seus corações, mesmo quando se tratava de realizar ações
feitas com muita generosidade.
Esta “lei do serviço” não
era fácil no tempo de Jesus e não o é no mundo atual, onde a concorrência está
tão presente e é tão valorizada, e onde a necessidade de ter sucesso se impõe
em tantas das facetas das nossas vidas.
De facto, há um longo
caminho a percorrer para desenvolver esse espírito de serviço que Jesus tanto
valorizou.
Recordemos que a palavra
"ministério" significa "função de serviço”. Isto também se
aplica na Igreja, quando falamos de “ministérios” e de “ministros”. É uma
questão de serviços que a comunidade pede
Felizmente, depois de
tantos séculos em esquecimento, foi de novo restaurada a instituição do
“ministério de catequista” a ser recebido por leigas e leigos. Uma valorização
dum serviço tão importante e essencial.
Este ideal de ser
“servidor” continua a ser o ideal dos discípulos de Jesus. Mas para nos
tornarmos “servidores” dos outros e pormos em prática a “lei do serviço”, das
mais variadas formas e nas mais variadas situações, temos de seguir o exemplo
do modo de viver de Jesus, o Enviado de Deus-Pai: “porque o Filho do Homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos”.
Tal como Jesus, somos
chamados a dar as nossas vidas, no seu conjunto e não apenas em algumas
facetas.
Não é uma questão de nos querermos
fazer de heróis ou de santos, mas talvez, mais simplesmente, de aprendermos a
dar livremente do nosso tempo e da nossa atenção aos outros.
Não esqueçamos que é
sempre mais difícil dar um bocadinho do nosso tempo e da nossa atenção, do que comprar
presentes, porque quando damos dez minutos a outro, estamos a dar dez minutos
da nossa própria vida.
No sábado passado iniciou-se
oficialmente o chamado “Caminho sinodal” para preparar o Sínodo dos bispos da
Igreja Católica em Outubro de 2023 com o tema “Por uma Igreja sinodal:
comunhão, participação e missão”.
O Papa Francisco no
lançamento deste caminho pediu a que bispos, padres, religiosos e leigos
iniciassem um processo de escuta mútua, sem respostas artificiais, do tipo «pronto-a-vestir»,
neste caso «pronto a responder».
Este «caminho sinodal» é
destinado a ouvir todas as pessoas. Tanto aquelas que estão mais próximas da
Igreja, como as que se afastaram da mesma. Todas as vozes contam, para
discernir como ser Igreja ao serviço de todos.
Se estamos de acordo com
o poeta espanhol António Machado que escreveu: «Caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar», e decidirmos fazer «caminho sinodal» com outros, será
um valioso serviço para ajudar a encontrar uma forma de tomar decisões na
Igreja, em que os cristãos estejam envolvidos.
frei Eugénio