Diálogo com o Evangelho do 2º Domingo do Advento, 5 de Dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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Evangelho (Lucas 3, 1-6)
No
décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio
Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu
irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide e Lisânias
tetrarca de Abilene, no pontificado de Anás e Caifás, foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto.
E ele percorreu toda a zona do rio Jordão, pregando um batismo de penitência para a remissão dos pecados, como
está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no
deserto: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
Sejam
alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas;
endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas;e toda a criatura verá a salvação de Deus"».
DIÁLOGO
O começo do Evangelho de
hoje deixa claro que a chegada de João Baptista e o seu anúncio da
chegada do Messias aparece muito bem situada quer historicamente, quer
geograficamente.
Estes detalhes são
importantes por duas razões.
1-Ao situar com tantos
detalhes João Baptista, cuja missão era a de anunciar a vinda de Jesus como o
Messias Salvador, o evangelista permite que situemos historicamente Jesus de
Nazaré. Refere quem eram nessa época o imperador romano, o governador da
província da Judeia, quem governava as quatro partes da província romana da
Síria e quem eram os sumos-sacerdotes no templo de Jerusalém.
2-A outra razão são as
indicações geográficas, que vão muito além do território de Israel, incluindo
regiões pagãs, não judaicas.
O evangelista quer
indicar que o Salvador vem para todos os povos e não apenas para um povo.
A chegada de João Batista
prepara a vinda já próxima do Salvador para o mundo inteiro:
«Toda a criatura verá a
salvação de Deus».
As palavras de João
Batista:
«endireitai as suas
veredas.
Sejam alteados todos os vales
e abatidos os montes e as
colinas;
endireitem-se os caminhos
tortuosos
e aplanem-se as veredas escarpadas»
são do profeta Isaías (Is 40, 3-5).
Referem-se a todos os
povos vindos dos quatro cantos do mundo, que se reúnem livremente e caminham
felizes para Jerusalém, apresentada como o centro da humanidade unida a Deus.
Assim, hoje o Evangelho
não nos fala da Vinda do Messias no final dos tempos, como no 1° Domingo
do Advento, mas de Deus já presente nas nossas vidas, na História do presente.
O que Deus faz nas nossas
vidas, Ele continuará a fazer até à conclusão final.
Estamos no ano 2021, a
pandemia de Covid-19 e das suas variantes continua presente pelo mundo inteiro.
Continuamos à procura de
respostas para as alterações climáticas. Os confrontos armados entre países
vizinhos não desapareceram, mas estão muito vivos em todos os continentes.
Os discípulos de Jesus
não podem desistir, pois acreditam que a Salvação já começou e
se vai realizando num processo que se desenrola ao longo do tempo com muitos
imprevistos e cuja realização total não é possível saber quando estará
concluída.
Mas o que sabemos, é que
nesse processo ao longo dos tempos, a participação atenta,
corajosa e generosa dos discípulos de Jesus pode contribuir, de modo decisivo,
para que haja grandes reviravoltas na História.
O evangelista já tinha
referido o que Maria, Mãe de Jesus, tinha dito na oração a que a tradição chama
o «Magnficat»: «[Deus] manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.
Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.» (Luc 1,
51-53)
Deus « faz em nós
maravilhas » e com elas podemos contribuir, modesta mas eficazmente, para
que avance a realização do projecto de Deus, cheio de misericórdia.
O tempo do Advento
destina-se a nos prepararmos para a festa de Natal, a festa da vinda do Filho
de Deus no meio da humanidade.
O nascimento de Jesus nas
nossas vidas não se faz de uma vez por todas.
Se voltamos a esta festa
todos os anos, é porque esta vinda não está terminada.
Jesus continua a nascer
em nós e no mundo até à sua vinda na glória, no final dos tempos.
O Advento é, assim, um
tempo para viajar na fé, e um tempo para estarmos mais atentos àqueles que mais
carecem do essencial e também para manifestarmos generosidade à nossa volta,
com gestos concretos de partilha, que a criatividade do amor ao próximo nos
inspira.
frei Eugénio
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