2022-01-01

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


 

 

MENSAGEM PAPA FRANCISCO PARA O 55º DIA MUNDIAL DA PAZ - 1º DE JANEIRO DE 2022 - pode ler  aqui o texto integral

 

DIÁLOGO 

Introdução 

Há 55 anos, em 1967, o Papa Paulo VI escreveu uma mensagem propondo a criação do Dia Mundial da Paz, a ser festejado no dia 1 de janeiro de cada ano. Dizia a sua mensagem: «A proposta de dedicar à paz o primeiro dia do novo ano não tem a pretensão de ser qualificada como exclusivamente nossa, religiosa ou católica. 

Antes, seria para desejar que ela encontrasse a adesão de todos os verdadeiros amigos da paz.» 

Meses antes, o mesmo Papa tinha escrito uma Encíclica que teve grande repercussão a nível mundial, chamada «Populorum Progressio» na qual dizia que o desenvolvimento integral era o caminho da Paz. 

Presentemente estando os povos totalmente interligados este desenvolvimento integral permanece, infelizmente muito longe da vida real de tantas mulheres e homens e consequentemente da família humana. 

A mensagem que o Papa Francisco escreveu para este 55° Dia Mundial da Paz propõe três caminhos para construir uma paz duradoura. 

Primeiro, o diálogo entre as gerações; 

segundo, a instrução e a educação; 

e, terceiro, o trabalho. 

 

Leitura abreviada da mensagem do Papa Francisco: «Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoura» 

Ainda hoje o caminho da paz – o novo nome desta, segundo São Paulo VI, é desenvolvimento integral – permanece, infelizmente, arredio da vida real de tantos homens e mulheres e consequentemente da família humana, que nos aparece agora totalmente interligada. 

Apesar dos múltiplos esforços visando um diálogo construtivo entre as nações, aumenta o ruído ensurdecedor de guerras e conflitos, ao mesmo tempo que ganham espaço doenças de proporções pandémicas, pioram os efeitos das alterações climáticas e da degradação ambiental, agrava-se o drama da fome e da sede e continua a predominar um modelo económico mais baseado no individualismo do que na partilha solidária.  

Quero propor, aqui, três caminhos para a construção duma paz duradoura. 

Primeiro, o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. 

Depois, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. 

E, por fim, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. 

1-Dialogar entre gerações para construir a paz 

Todo o diálogo sincero, mesmo sem excluir uma justa e positiva dialética, exige sempre uma confiança de base entre os interlocutores. 

Devemos voltar a recuperar esta confiança recíproca. 

A crise sanitária atual fez crescer, em todos, o sentido da solidão e o isolar-se em si mesmos. 

Às solidões dos idosos veio juntar-se, nos jovens, o sentido de impotência e a falta duma noção compartilhada de futuro.

Dialogar significa ouvir-se um ao outro, confrontar posições, pôr-se de acordo e caminhar juntos. 

Enquanto o progresso tecnológico e económico frequentemente dividiu as gerações, as crises contemporâneas revelam a urgência da sua aliança. 

Se os jovens precisam da experiência existencial, sapiencial e espiritual dos idosos, também estes precisam do apoio, carinho, criatividade e dinamismo dos jovens. 

Se soubermos, nas dificuldades, praticar este diálogo intergeracional, poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças. 

Assim unidos, poderemos aprender uns com os outros.   

Sem as raízes, como poderiam as árvores crescer e dar fruto?

2-A instrução e a educação como motores da paz 

Nos últimos anos, diminuiu sensivelmente a nível mundial o orçamento para a instrução e a educação, vistas mais como despesas do que como investimentos; e, todavia, constituem os vetores primários dum desenvolvimento humano integral: tornam a pessoa mais livre e responsável, sendo indispensáveis para a defesa e promoção da paz. 

Por outras palavras, instrução e educação são os alicerces duma sociedade coesa, civil, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso. 

Por conseguinte é oportuno e urgente que os detentores das responsabilidades governamentais elaborem políticas económicas que prevejam uma inversão na correlação entre os investimentos públicos na educação e os fundos para armamentos. 

Faço votos de que o investimento na educação seja acompanhado por um empenho mais consistente na promoção da cultura do cuidado.  

Perante a fragmentação da sociedade e a inércia das instituições, esta cultura do cuidado pode-se tornar a linguagem comum que abate as barreiras e constrói pontes. 

É necessário, portanto, forjar um novo paradigma cultural, através de um pacto educativo global para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras. 

Um pacto que promova a educação para a ecologia integral, segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e sustentabilidade, centrado na fraternidade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente. 

3-Promover e assegurar o trabalho constrói a paz 

O trabalho é um fator indispensável para construir e preservar a paz. Aquele constitui a expressão da pessoa e dos seus dotes, mas também compromisso, esforço, colaboração com outros, porque se trabalha sempre com ou para alguém. 

Nesta perspetiva acentuadamente social, o trabalho é o lugar onde aprendemos a dar a nossa contribuição para um mundo mais habitável e belo. 

Além disso, os jovens que têm acesso ao mercado profissional e os adultos precipitados no desemprego enfrentam hoje perspetivas dramáticas. 

Particularmente devastador foi o impacto da crise na economia informal, que muitas vezes envolve os trabalhadores migrantes. 

Muitos deles – como se não existissem – não são reconhecidos pelas leis nacionais; vivem em condições muito precárias para eles mesmos e suas famílias, expostos a várias formas de escravidão e desprovidos dum sistema de previdência que os proteja. 

Com efeito, o trabalho é a base sobre a qual se há de construir a justiça e a solidariedade em cada comunidade. 

Como é urgente promover em todo o mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação! 

Sobre este aspeto, é chamada a desempenhar um papel ativo na política, promovendo um justo equilíbrio entre a liberdade económica e a justiça social. 

Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho. 

E que sempre as preceda e acompanhe a bênção do Deus da paz! 

Vaticano, 8 de dezembro de 2021. 

 

 


 

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