2022-02-27

Com a Ucrânia

 Oração pela Paz na Ucrânia do Ir. Alois, de Taizé:


Deus de amor, ficamos desconcertados com a violência no mundo e agora especialmente pelos atos de guerra na Ucrânia. 

Concede que permaneçamos em solidariedade junto daqueles que sofrem e que vivem hoje com medo e angústia. 

Apoia a esperança de todos aqueles que, nesta querida região do mundo, procuram fazer prevalecer a justiça e a paz. 

Envia o Espírito Santo, o Espírito de paz, para inspirar os líderes das nações e todos os seres humanos.

 


Manifestação pela Paz, contra a invasão da Ucrânia, Porto, 27-02-2022

2022-02-26

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 8º Domingo do Tempo Comum, 27 de fevereiro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. 

[ainda não disponível]



www.evangile-et-peinture.org

  

Evangelho (Lc 6, 39 - 45) 

Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola: «Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova?
O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre.
Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua?
Como podes dizer a teu irmão: "Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista", se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão.
Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto.
Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças.
O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração.

 

DIÁLOGO

Neste Domingo continuamos a ler uma página do Evangelho de 

Lucas no chamado Sermão da Planície, que como sabemos é o paralelo do Sermão da Montanha, no Evangelho de Mateus.

Nessa passagem Jesus apresenta duas pequenas parábolas sobre a visão.

Isto leva-nos ao que Jesus nos ensinou no Evangelho de João: precisamos de admitir as nossas próprias áreas de cegueira.

Este é o primeiro passo essencial para transformarmos a nossa visão.

 

Comecemos pela primeira parábola: «Pode um cego conduzir outro cego? Será que ambos não cairão num buraco?» 

Para que a nossa vida seja bem orientada devemos escolher bem quem queremos para nosso guia ou mestre.

Se seguirmos alguma ou algum  daqueles que  no seduzem pelo seu brilhantismo, ou daqueles sabem agradar aos nossos desejos, sem fazermos discernimentos sobre onde nos estão a conduzir, arriscamo-nos a «cair no buraco», como diz Jesus.

 

A primeira lição desta pequena parábola é, portanto, um convite ao discernimento.

Nas nossas vidas, é importante dedicarmos tempo a ver para onde vai a nossa vida, para nos deixarmos iluminar pela luz do Espírito de Deus dentro de nós.  

 

Outro ensinamento desta pequena parábola está contido na segunda frase: «O discípulo não é superior ao mestre».

Só quando estivermos bem treinados  a seguir o mestre poderemos ter  atitudes como as dele.

Todos os que se lançam na vida e procuram a sua realização, precisam de seguir um bom mestre ou guia que nos treine e assim poderemos ser capazes de enfrentar os perigos da vida por nós próprios e avançar sem cair em buracos ou em barrancos.

 

São Lucas pensava em Jesus como este Mestre ideal.

Ele próprio disse que era o nosso caminho: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida". (João 14, 6)

 

Passemos agora à imagem do argueiro e da trave. Esta imagem é muito bem conhecida. Todos a compreendem.

A mensagem é simples: Antes de colocarmos as responsabilidades nos outros, devemos começar por olhar para nós próprios.

Para removermos a trave que bloqueia a nossa visão, uma boa prática é nos exercitarmos no diálogo sincero, procurando escutar os outros  com compreensão e assim ir colaborando na construção dum mundo ao qual Jesus chamava o Reino de Deus no meio de Nós.

É um compromisso de realismo e de verdade na forma como olhamos para nós próprios e para os outros.

O próprio ato de escutar com atenção é uma importante concretização de que precisamos de ver através dos olhos dos outros, bem como dos nossos.

Estamos todos cegos de alguma forma. Admiti-lo, levar-nos-á a admirar muitas facetas dos outros que não valorizávamos porque não as víamos.

 

Esta imagem do argueiro e da trave, convida-nos a olhar sempre para os outros com misericórdia e compaixão, como Deus faz quando olha para nós.

 

"Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso", escreveu Lucas um pouco antes da passagem que acabámos de ler.

Este olhar misericordioso é ainda mais necessário se estivermos numa posição de autoridade seja de que tipo for :

como pais ou avós, como educadores ou professores, como políticos, como aqueles que têm de orientar os fiéis nas suas religiões e especialmente no cristianismo.

 

É fácil fazer apelo a leis ou regras, sem se fazer discernimentos, sem olhar para o que está dentro das pessoas e para as suas circunstâncias pessoais.

 

Jesus convida-nos a ajustar a nossa visão à realidade das pessoas, respeitando a sua dignidade e originalidade. Pois as pessoas não são todas iguais.

Temos de ter isto em conta nos nossos julgamentos e nos nossos contactos com elas.

 

Estas duas pequenas parábolas podem ainda hoje ter importantes aplicações concretas nas nossas vidas, se nos dermos ao trabalho de as ouvir e meditar sobre elas.

É nos momentos de pausa, na oração, que encorajados e melhor a nossa capacidade de escuta e de compreensão.

 

Peçamos a Jesus Ressuscitado que recebamos com o coração aberto estas palavras do Evangelho, para que, seguindo a pessoa de Jesus, possamos estar cada vez mais sintonizados com a vontade de Deus para nós e para as comunidades de vida a que pertencemos.

 

frei Eugénio

2022-02-19

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 7º Domingo do Tempo Comum, 20 de fevereiro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. 

[ainda não disponível]


www.evangile-et-peinture.org

 

Evangelho (Lc 6, 27 - 38)

"Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam.

Se alguém bater em você numa face, ofereça-lhe também a outra. Se alguém tirar de você a capa, não o impeça de tirar a túnica.

Dê a todo aquele que pedir, e se alguém tirar o que pertence a você, não lhe exija que o devolva.

Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles.

"Que mérito vocês terão se amarem aos que os amam? Até os pecadores amam aos que os amam.

E que mérito terão se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os pecadores agem assim.

E que mérito terão se emprestarem a pessoas de quem esperam devolução? Até os pecadores emprestam a pecadores, esperando receber devolução integral.

Amem, porém, os seus inimigos, façam-lhes o bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta. Então, a recompensa que terão será grande e vocês serão filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso para com os ingratos e maus.

Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso.

"Não julguem e vocês não serão julgados. Não condenem e não serão condenados. Perdoem e serão perdoados.

Deem e será dado a vocês: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois a medida que usarem também será usada para medir vocês".

 

DIÁLOGO

Entre os numerosos desafios que o Evangelho de Jesus nos apresenta, seguramente que um dos maiores e mais difíceis é amar os inimigos.

Se amassemos os nossos inimigos, deixaria de haver inimigos. Seria uma verdadeira revolução na vida do mundo. Jesus refere-se a uma situação muito comum, a de amarmos apenas aqueles que nos amam, ou por quem temos estima. Chama a atenção que esta atitude é também praticada pelos mais mafiosos e pelos “senhores da guerra” que tanto mal e sofrimento provocam. Amar apenas os que nos querem e fazem bem não é suficiente para que se possa viver em paz e sem conflitos.

Mas, quem são os nossos inimigos?

A maioria das pessoas não gosta de admitir que tem inimigos. Porquê?

Inimigos são aquelas e aqueles que querem o nosso mal ou que nos causam prejuízos graves. Inimigo é alguém que mata uma pessoa muito próxima de nós. Inimigo é alguém que rouba o marido ou a mulher de outrem, destruindo assim, um casamento. Inimigo é alguém que nos difama e nos faz perder o nosso bom nome. Inimigo é alguém que torna insuportável a vida de pessoas por quem somos responsáveis.

Mas, também nós podemos ser inimigos de outras pessoas, embora estejamos convencidos de que não fazemos mal a ninguém.

Quando nos alegramos interiormente com situações más que acontecem a pessoas de quem não gostamos, tornamo-nos inimigos delas.

Quando se fala de alguém e aproveitamos a ocasião para salientarmos fraquezas suas e dizemos mal dessa pessoa, considerando que dizemos simplesmente verdades.

Quando levantamos suspeitas infundadas ou chegamos mesmo a caluniar alguém, tornamo-nos seu inimigo.

Assim, para amarmos os inimigos como Jesus nos manda, é necessário identificarmos quem são de facto os nossos inimigos e de quem nós somos inimigos. Quem são essas pessoas concretas que nos fizeram ou fazem mal e quem são aquelas a quem nós fazemos ou desejamos que sofram. Jesus dá um exemplo que se tornou muito conhecido de como reagir a quem nos faz mal, referindo o facto de ter sido esbofeteado. Jesus propõe que a quem nos bate numa face lhe demos a outra para também ser esbofeteada. 

Mas, quando tal lhe aconteceu na vida real, Jesus ao receber violentas bofetadas de um soldado romano, quando estava a ser julgado diante do sumo sacerdote Anás, Ele não lhe apresentou a outra face, mas pôs-lhe a seguinte questão (Jo 18,23): “Se falei mal, testemunha sobre o mal. Mas se falei bem, porque me bates?” Com esta questão, Jesus, no seu amor por este soldado romano, pretendeu que ele raciocinasse para ser ele próprio a descobrir que a sua agressão violenta era desapropriada e injusta. 

Como em muitas outras situações, o amor concreto ao inimigo deve ter em conta quem é a pessoas ou quem são as pessoas e as suas circunstâncias.

Assim, Jesus quer ensinar-nos o que é amar à sua maneira: é querer o bem concreto do inimigo. Querer que ela ou ele descubram o que devem mudar no seu comportamento.

É querer o melhor para o seu inimigo, sem fingimento, mesmo que a outra ou o outro comecem por não entender e demorem tempo a aceitar que é para o seu bem.

É tratar o outro de igual para igual, colocando-se ao seu nível, ou seja, ter uma atitude de misericórdia e não se colocar na posição do bom que pretende ajudar de cima para baixo o mau.

Amar à maneira de Jesus é manifestar que se precisa daquele que é considerado como inimigo e, por isso, está do outro lado da fronteira. É passar o inimigo para o seu lado e, assim, ficarem ambos do mesmo lado. Os exemplos destas formas de amar na vida de Jesus são numerosos. 

Também no nosso tempo faz-nos bem recordar o que Nelson Mandela fez, depois de ter passado 27 anos numa prisão em isolamento. No primeiro jantar que deu como presidente da África do Sul, pós apartheid, convidou os guardas prisionais para esse jantar e, para seus guarda-costas, escolheu alguns dos policias que o tinham torturado.

Jesus apresenta o próprio Deus “que é bom para com os ingratos e os maus” (Jo 6,35) como fundamento e exemplo do amor ao inimigo e reforça “sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Jo 6, 36) e o vosso Pai que está nos céus faz nascer o sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).

A atividade de Deus no meio de nós e a sua presença nos nossos corações através de Jesus, permite-nos sermos capaz de responder ao mal com o bem e ao ódio com amor. Foi o que aconteceu logo com o primeiro mártir cristão, Estevão, (Act 7,54) quando o apedrejavam cheios de raiva e ele “cheio do Espírito Santo fitou os olhos no céu e disse: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. Senhor, não lhes leves em conta este pecado”. (Act 7,60) Estevão fez com que a luz do amor de Deus brilhasse no sombrio mundo da violência.

Saulo, um dos que estavam presentes no martírio de Estevão e que, entrando nas casas arrancava homens e mulheres e metia-os na prisão, mais tarde, já convertido a Jesus, escreverá e porá em prática (Rom 12, 20-21) “se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber” e “não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.”

Frei Eugénio, o.p.