Diálogo com o Evangelho de Domingo de Pentecostes, 5 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho (Jo 20, 19-23)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou,
também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Palavra da salvação.
DIÁLOGO
Como sabemos pelo relato de Lucas, no Livro dos Atos dos Apóstolos, os próprios apóstolos ficaram impressionados com o facto de poderem falar com tão grande variedade de povos: partos, medos, elamitas, (presentemente todos iranianos); com os habitantes da Mesopotâmia, (hoje, Iraque), com pessoas da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, (todos habitantes da Turquia atual); com gente do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene,( povos africanos), além da população romana espalhada pelo império.
Os discípulos começaram a pregar a essa multidão internacional e todos compreendiam o que eles lhes estavam a dizer!
Uma situação espantosa, um milagre que iria levá-los bem para lá do mundo que conheciam; nunca tinham imaginado ir tão longe.
O milagre evidente era que eles eram capazes de falar de Jesus de uma forma que atraía pessoas de diferentes culturas e línguas, podendo, assim, partilhar a fé.
O grande milagre era que se estavam a conseguir criar uma comunidade de pessoas genuinamente diversas, mulheres e homens, de toda e qualquer cultura.
Estavam a começar a tornar-se uma comunidade «católica», isto é, universal.
Na passagem do Evangelho de João que lemos, o Pentecostes, que é a grande dádiva de Jesus Ressuscitado do Seu próprio Espírito à comunidade, aconteceu no dia da Ressurreição e não cinquenta dias depois da Páscoa de Jesus, como estamos a celebrar na Liturgia.
O relato tem a forma habitual das discrições das aparições de Jesus Ressuscitado :
- é Jesus que toma a iniciativa;
- faz-se reconhecer pelos discípulos;
- confia-lhes uma missão.
Como João conta, Jesus tornou-se presente no meio dos discípulos e saudou-os com Shalom - a Paz esteja convosco.
O relato não pretende dizer que Jesus atravessava as portas, mas que Jesus é capaz de se tornar presente aos seus discípulos por iniciativa sua, quando e onde Ele quer.
Jesus Ressuscitado pode estar junto dos seus discípulos em todas as circunstâncias, como diz o texto: «veio Jesus, colocou-Se no meio deles» !
Estas palavras de Jesus não são uma saudação habitual, como o faziam os judeus quando se encontravam: «chalôm».
Jesus, muito mais do que saudar, quer dar, de facto, o próprio dom da Sua Paz, como já tinha dito no seu discurso de adeus aos discípulos: «Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo--la dou como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.» (Jo 14, 27)
Depois, tendo-os alertado para a grande dificuldade de serem colaboradores do amor de Deus, disse: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Fazendo uma encenação tirada do relato da criação (Génesis 1,26 e 2,7), Jesus soprou sobre eles, dizendo: "Recebei o Espírito Santo".
Enquanto que no Génesis, a vocação humana era apresentada como sendo mordomos de toda a criação, Jesus resumiu a missão com o único mandamento do perdão. O perdão, dado e pedido, é o carisma chave das pessoas que querem ser seus discípulos.
Uma vez recebido o Seu próprio Espírito, eles foram capazes de levar a cabo a missão que lhes era confiada.
A segunda metade da frase de Jesus: «àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos», foi interpretada ao longo dos tempos de formas diferentes, por vezes contraditórias.
Podia ter sido um aviso de Jesus que a falta de perdão deixa o mundo num estado de caos.
A festa de Pentecostes desafia a nossa esperança e a nossa fé.
Estaremos dispostos a sermos levados para além dos nossos mundos culturalmente confortáveis, para formar comunidades que incluam tal diversidade, assim como pontos de vista tão diferentes?
Queremos aprender a viver exercendo os carismas da humildade, do humor e do perdão?
Para que a missão do Pentecostes se enraíze em nós, partilho convosco esta belíssima oração de Santa Catarina de Sena ao Espírito Santo:
Ó Espírito Santo, vinde a meu coração,
Deus verdadeiro atrai-me a Ti com bondade,
concede-me a caridade.
Preserva-me de todo o pensamento mau,
aquece-me e abrasa-me com o teu Amor,
a fim de que todo o fardo me pareça leve.
Meu santo Pai e doce Senhor meu,
auxilia-me em todas as minhas obras.
Cristo Amor! Cristo Amor!
frei Eugénio, op
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