2022-06-05

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho de Domingo de Pentecostes, 5 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


www.evangile-et-peinture.org


Evangelho (Jo 20, 19-23)

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,

estando fechadas as portas da casa

onde os discípulos se encontravam,

com medo dos judeus,

veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:

«A paz esteja convosco».

Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.

Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.

 

Jesus disse-lhes de novo:

«A paz esteja convosco.

Assim como o Pai Me enviou,

também Eu vos envio a vós».

 

Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:

«Recebei o Espírito Santo:

àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;

e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».

Palavra da salvação.

 

DIÁLOGO

 

Como sabemos pelo relato de Lucas, no Livro dos Atos dos Apóstolos, os próprios  apóstolos ficaram impressionados com o facto de poderem falar com tão grande variedade de povos: partos, medos, elamitas, (presentemente todos iranianos); com os habitantes da Mesopotâmia, (hoje, Iraque), com pessoas da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, (todos habitantes da Turquia atual); com gente do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene,( povos africanos), além da população romana espalhada pelo império.

 

Os discípulos começaram a pregar a essa multidão internacional e todos compreendiam o que eles lhes estavam a dizer! 

 

Uma situação espantosa, um milagre que iria levá-los bem para lá do mundo que conheciam; nunca tinham imaginado ir tão longe.

 

O milagre evidente era que eles eram capazes de falar de Jesus de uma forma que atraía pessoas de diferentes culturas e línguas, podendo, assim, partilhar a fé. 

 

O grande milagre era que se estavam a conseguir criar uma comunidade de pessoas genuinamente diversas, mulheres e homens, de toda e qualquer cultura. 

 

Estavam a começar a tornar-se uma comunidade «católica», isto é, universal.

 

Na passagem do Evangelho de João que lemos, o Pentecostes, que é a grande dádiva de Jesus Ressuscitado do Seu próprio Espírito à comunidade, aconteceu no dia da Ressurreição e não cinquenta dias depois da Páscoa de Jesus, como estamos a celebrar na Liturgia.

 

O relato tem a forma habitual das discrições das aparições de Jesus Ressuscitado :

- é Jesus que toma a iniciativa;

- faz-se reconhecer pelos discípulos;

- confia-lhes uma missão.

 

Como João conta, Jesus tornou-se presente no meio dos discípulos e saudou-os com Shalom - a Paz esteja convosco.

O relato não pretende dizer que Jesus atravessava as portas, mas que Jesus é capaz de se tornar presente aos seus discípulos por iniciativa sua, quando e onde Ele quer.

 

Jesus Ressuscitado pode estar junto dos seus discípulos em todas as circunstâncias, como diz o texto: «veio Jesus, colocou-Se no meio deles» !

Estas palavras de Jesus não são uma saudação habitual, como o faziam os judeus quando se encontravam: «chalôm».

 

Jesus, muito mais do que saudar, quer dar, de facto, o próprio dom da Sua Paz, como já tinha dito no seu discurso de adeus aos discípulos: «Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo--la dou como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.» (Jo 14, 27)

 

Depois, tendo-os alertado para a grande dificuldade de serem colaboradores do amor de Deus, disse: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».

 

Fazendo uma encenação tirada do relato da criação (Génesis 1,26 e 2,7), Jesus soprou sobre eles, dizendo: "Recebei o Espírito Santo". 

 

Enquanto que no Génesis, a vocação humana era apresentada como sendo mordomos de toda a criação, Jesus resumiu a missão com o único mandamento do perdão. O perdão, dado e pedido, é o carisma chave das pessoas que querem ser seus discípulos.

 

Uma vez recebido o Seu próprio Espírito, eles foram capazes de levar a cabo a missão que lhes era confiada.

 

A segunda metade da frase de Jesus: «àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;

e àqueles a quem os retiverdes serão retidos», foi interpretada ao longo dos tempos de formas diferentes, por vezes contraditórias.

Podia ter sido um aviso de Jesus que a falta de perdão deixa o mundo num estado de caos.

 

A festa de Pentecostes desafia a nossa esperança e a nossa fé.

Estaremos dispostos a sermos levados para além dos nossos mundos culturalmente confortáveis, para formar comunidades que incluam tal diversidade, assim como pontos de vista tão diferentes?

Queremos aprender a viver exercendo os carismas da humildade, do humor e do perdão?

 

Para que a missão do Pentecostes se enraíze em nós, partilho convosco esta belíssima oração de Santa Catarina de Sena ao Espírito Santo:

 

Ó Espírito Santo, vinde a meu coração,

Deus verdadeiro atrai-me a Ti com bondade,

concede-me a caridade.

Preserva-me de todo o pensamento mau,

aquece-me e abrasa-me com o teu Amor,

a fim de que todo o fardo me pareça leve.

Meu santo Pai e doce Senhor meu,

auxilia-me em todas as minhas obras.

Cristo Amor! Cristo Amor!

 

 frei Eugénio, op

 

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