Diálogo com o Evangelho da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho (Lc 9, 11b-17)
Naquele tempo, estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam.
O
dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe:
«Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e
casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto».
Disse-lhes Jesus: «Dai-lhes vós de comer».
Mas eles responderam: «Não temos senão cinco pães e dois peixes. Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo».
Eram, de facto, uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta».
Eles assim fizeram, e todos se sentaram.
Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção.
Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão.
Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
DIÁLOGO
Acabámos de ler o Evangelho desta festa que depois do Concílio Vaticano II (1962-1965) é chamada do "Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo", mas que é mais conhecida em Portugal e no Brasil por "Corpo de Deus". Esta festa foi aprovada em 1264, para ser celebrada na quinta-feira a seguir ao Pentecistes, como acontece em Portugal, mas não na Bélgica, que foi celebrada no Domingo passado.
Além da festa litúrgica, dentro das igrejas foi acrescentada uma procissão solene, onde é levado em grande destaque o “Santíssimo Corpo de Cristo”. A procissão dava lugar, como acontecia no tempo do rei D. Manuel I, a manifestações teatrais e a jogos de danças que se juntavam aos cortejos solenes. Nalguns países a festa tornou-se tão popular que passou a ser feriado nacional.
O Evangelho relata a tradicionalmente chamada "multiplicação dos pães", da qual há seis versões nos quatro Evangelhos, o que mostra a importância deste relato na vida de Jesus.
Para reforçar a importância deste "sinal dos pães multiplicados que saciaram a fome da multidão" os evangelistas vão situá-lo num momento decisivo da vida de Jesus. É a altura em que as autoridades religiosas judaicas vão reforçar a sua oposição à pregação de Jesus, procurando o modo de o prender e condenar.
É também a época em que o povo que o ouvia com entusiasmo inicial, começava a ficar dececionado por Jesus não se manifestar como Messias salvador político do povo judeu sob o domínio imperial romano.
É também o momento em que os seus discípulos mais próximos deviam decidir se queriam continuar a seguir Jesus ou não.
Como sabemos, desde o inicio da sua pregação em Nazaré, Jesus anunciava que vinha iniciar uma nova forma de Deus reinar sobre a humanidade. Jesus foi pondo em prática os sinais desse novo modo de reinar, a começar pelos cuidados e pela atenção a ter com os mais frágeis e dependentes da sociedade, praticando uma original forma de amor, no qual cada pessoa tem valor e é importante para Deus.
Ao saciar a fome da multidão, com tal abundância que até sobraram 12 cestos de pão, Jesus mostra que o Amor de Deus é superabundante e que Deus como Pai não quer que nenhum dos seus filhos e filhas fique com fome de Amor.
Quando Jesus diz aos discípulos: " dai-lhes vós de comer" esta a implicar os seus discípulos nesta tarefa de saciar de amor as pessoas, com gestos concretos. Podemos, assim, entender a importância deste relato para todos os tempos dos cristãos: Jesus convida-nos, mais que convidar, pede-nos que continuemos com Ele e à maneira d'Ele a termos gestos de amor concreto para que ninguém fique com fome de Amor.
A festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é muito mais do que as magnificas procissões que se fazem neste dia em muitos países e as celebrações de adoração do Santíssimo Sacramento, com decorações cheias de flores.
É bom termos presente que o convite litúrgico, nas Eucaristias: "Felizes os convidados para a Ceia do Senhor" no momento que precede a comunhão se refere à Ceia da Vida Eterna, imagem do Reino inaugurado por Jesus Ressuscitado, onde a morte, o desamor e o sofrimento foram vencidos para sempre.
Podemos terminar este diálogo com a oração:
"O Deus, nosso Pai, olha para mim, para todos os fiéis aqui presentes e para todas as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo, dá-nos a graça de unirmos as nossas vidas, sempre e em todo o lado, ao dom da Tua comunhão connosco através do Teu Filho Jesus e do Teu Espírito. Dá-nos a graça de vivermos na doação aos outros, na partilha do que somos e do que temos e em ação de graças. Ámen."
frei Eugénio op
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