Diálogo com o Evangelho do 14º Domingo do Tempo Comum, 3 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho (Lc 10, 1 - 20)
E dizia-lhes: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara.
Ide. Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.
Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho.
Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: "Paz a esta casa".
E se lá houver gente de paz, a vossa paz repousará sobre eles; senão, ficará convosco.
Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa.
Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem, comei do que vos servirem, curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: "Está perto de vós o Reino de Deus"».
Mas quando entrardes nalguma cidade e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: "Até o pó da vossa cidade que se pegou aos nossos pés sacudimos para vós. No entanto, ficai sabendo: Está perto o reino de Deus".
Eu vos digo: Haverá mais tolerância, naquele dia, para Sodoma do que para essa cidade».
Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome».
Jesus respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago.
Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no Céu».
Hoje, o Evangelho fala-nos de 72 discípulos de Jesus, cujos nomes desconhecemos, e a quem Jesus confiou a divulgação da sua mensagem.
Eles têm um nome, claro, mas não é lembrado como o dos doze apóstolos.
Poderíamos dizer que era «gente de base», pessoas comuns.
Em quem é que isso nos faz pensar?
Faz-nos pensar em nós mesmos, como discípulos de Jesus que queremos ser.
Ao enviar os primeiros 72 discípulos, eles serão os precursores de milhares e milhares de outros, incluindo nós.
São todos os cristãos que têm a missão de difundir a mensagem de Jesus.
Não podemos dizer que anunciar e difundir a mensagem de Jesus é uma questão do Papa, dos bispos, dos padres e daqueles que trabalham na pastoral.
Não, tenho de dizer a mim próprio que isto também me diz respeito.
Caros leitores, podeis dizer-me: "Sim, dizer isso é muito bonito … mas como é que o podemos fazer?
Esta é uma pergunta muito realista, à qual Jesus responde claramente com os conselhos que dá aos 72.
Jesus começou por lhes pedir que rezassem:
“A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.
Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara”.
Porque é que devem pedir trabalhadores a Deus?
Porque não são as pessoas enviadas que têm a iniciativa.
A iniciativa é de Deus.
É Ele que toca os corações, que os converte por dentro, para que acolham a Boa Nova.
Os 72 são instrumentos indispensáveis do Amor gratuito de Deus.
Em segundo lugar, Jesus adverte que a tarefa de proclamar a Boa Nova nem sempre será fácil.
Jesus diz-lhes:
“Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.”
Esta é uma situação que hoje em dia sentimos fortemente, quer nos meios de comunicação social, quer nas redes sociais, quer entre amigos, através do humor que procura inferiorizar os cristãos, quer informando sobre tudo o que é eticamente censurável ou escandaloso.
É um aviso muito importante para reforçar a nossa coragem e a nossa persistência como seguidores de Jesus.
Em terceiro lugar, Jesus disse para que os discípulos não se deviam preocupar em levar demasiado equipamento, para ter melhores resultados na sua missão, mas para se apresentarem com simplicidade.
Jesus exprime isto com imagens compreensíveis, quando diz:
“Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias.”
O Papa Francisco atribui grande importância a esta atitude, quando propõe com insistência que a Igreja seja uma "Igreja dos pobres".
Em quarto lugar, Jesus convidou os 72 discípulos a semear a paz à sua volta.
“Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’.”
e “Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem”.
Para tal, os discípulos devem dedicar todo o tempo necessário.
E Jesus reforçou, dizendo-lhes:
“Não andeis de casa em casa.
Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem,
comei do que vos servirem,
curai os enfermos que nela houver”.
Levar uma paz duradoura, leva tempo a concretizar, apenas boas palavras são insuficientes, as atitudes são essenciais para tornar duradoura a paz.
Devem aproximar-se do povo e das suas situações concretas.
Em quinto e último lugar, Jesus no caminho para a proclamação da Boa Nova, deu a chave para todas estas iniciativas:
“dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino de Deus’.”
Esta é a beleza da Boa Nova: Deus aproxima-se de nós.
Ele inclina-se para nós como um Pai carinhoso e terno.
Para responder ao mesmo convite que Jesus fez aos 72 discípulos e que nos repete a nós, nos dias de hoje, cabe a cada um e a cada uma disponibilizar-se para o pôr em prática.
Os meios são extremamente variados.
Precisamos de testemunhas com criatividade, imaginação e proximidade com os outros, para mostrar que o Amor de Deus está bem vivo.
Precisamos de cativar pessoas, sem forçar, nem impor, para anunciar a felicidade que a Boa Nova de Jesus nos traz.
Precisamos de desperta a atenção das pessoas para o bem comum, como no Evangelho.
Embora possa acontecer não chegarmos a ver os resultados que gostaríamos, temos de ser persistentes e audaciosos, pois a ação de Deus não tem muros que não possam ser atravessados, nem limites inultrapassáveis.
fr. Eugénio op
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