2022-10-22

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 30º Domingo do Tempo Comum, 16 de outubro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


 https://www.evangile-et-peinture.org

  

Evangelho (Lc. 18, 9-14) 

Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros:
«Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano.
O fariseu, de pé, orava assim: "Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano.
Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos".
O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: "Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador".
Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

DIÁLOGO

O Evangelho deste Domingo é a parábola do fariseu e do publicano (o cobrador de impostos).

A frase inicial introduz as duas personagens do relato: «Dois homens subiram ao Templo para rezar. Um era um fariseu e o outro um publicano.»

A frase final da parábola apresenta o resultado do drama: «este (o publicano) desceu justificado para sua casa e o outro não.»

 

Os fariseus eram geralmente considerados bons homens, muito cumpridores da Lei de Moisés e apenas lhes era apontado o defeito da falta de humildade.

Mas este modo de ver, pode não ser correto.

 

Jesus conta esta parábola «para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros», conta para certos homens que estavam convencidos de que eles próprios eram justos, mas que, de facto, podiam sê-lo ou não.

 

Na parábola, o que é que o fariseu faz?

Os aspetos que ele valoriza, são os comportamentos que ele tem e que os outros não cumprem com a mesma exigência:

jejuar mais vezes do que a Lei prescrevia, pagar impostos para lá do que era legal, além de ser escrupuloso quanto a contas e pagamentos, não ser corrupto e ser fiel à mulher com quem casou.

Na sua oração, o fariseu faz um elogioso retrato de si mesmo.

Desta forma, fica sempre em vantagem na comparação com os outros.

 

Ele não se apercebe, no entanto, que neste quadro que ele traça de si próprio, falta um comportamento muitíssimo importante da Lei de Moisés: o mandamento do amor ao próximo como si-mesmo!

 

Olhemos agora para o publicano, na parábola que Jesus conta.

 

Não se compara com os outros, apenas se refere a si próprio e o que faz contra a Vontade de Deus.

Não se aproxima sequer do altar e não ousa levantar os olhos para o céu, considerando-se indigno de se aproximar de Deus.

E bate no peito, na atitude dum pecador arrependido diante de Deus.

 

Do seu íntimo sai uma oração curta, numa só frase:

«Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador.»

Põe nela todo o seu coração, arrependido e humilhado.

 

Jesus mostra-nos, assim, duas formas radicalmente diferentes de conceber o comportamento correto (isto é «ser justo») diante de Deus.

Numa, o homem considera que, com os seus esforços, consegue por si-mesmo, ter direito a um lugar próximo de Deus.

 

Na outra, é Deus que, na sua misericórdia e por um dom completamente gratuito, oferece um lugar, junto de Si.

 

Procuremos, agora, aplicar esta parábola a nós próprios.

 

Certamente ninguém tem sempre um comportamento como o do fariseu, mas também nenhum de nós tem sempre o modo de viver do cobrador de impostos.

Na realidade das nossas vidas, somos um conjunto dos dois:

uma parte de fariseu e outra parte de publicano.

Sendo assim, não nos podemos convencer que somos mais parecidos com a personagem da parábola que nos é mais simpática.

Os publicanos eram considerados, e de facto eram, homens sem escrúpulos, que colocavam o dinheiro e os seus interesses acima de tudo.

 

Em contraste, os fariseus eram, na vida prática, muito austeros e cumpridores da lei de Moisés.

Assim, somos em parte como o publicano na vida

e em parte como o fariseu no templo.

 

Como o publicano, reconhecemos que em certos aspetos das nossas vidas nos afastamos da vontade de Deus, isto é, que somos pecadores.

E como o fariseu, estamos convencidos que habitualmente somos corretos diante de Deus, que não temos nada de grave a nos ser reprovado e que por isso somos melhores que quase todas as outras pessoas.

 

Se realmente descobrimos que, nas nossas vidas, somos em parte um e em parte outro, então se nos comportássemos, como o cobrador de impostos na vida profissional e como o fariseu na nossa atitude religiosa?

 

Seríamos diferentes do que somos hoje?

 

Tal como o fariseu, se nos esforçamos nas nossas vidas diárias para sermos corretos em tudo o que diz respeito a bens e dinheiro, a sermos respeitadores do marido ou da mulher nas vidas de casados, procurando não prejudicar o próximo nas diversas situações.

E se procurássemos também cumprir os mandamentos de Deus o melhor que pudermos?

 

E, se ao mesmo tempo, tal como o publicano, reconhecêssemos que o que fazemos para seguir a Vontade de Deus é devido a um dom recebido gratuitamente da Sua parte, e se implorássemos a Sua misericórdia para nos deixarmos transformar como Ele quer?

Como seríamos nós?

 

Que esta parábola de Jesus fique bem gravada nos nossos corações, no nosso modo de pensar e de discernir e nas atitudes com aqueles que entram nas nossas vidas.

 

    frei Eugénio op

 

 



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