Diálogo com o Evangelho de Domingo, 12 de fevereiro, 6º Domingo do Tempo Comum, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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EVANGELHO (Mt. 5,13-16)
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus,
não entrareis no reino dos Céus.
Ouvistes que foi dito aos antigos:
‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’.
Eu, porém, digo-vos:
Todo aquele que se irar contra o seu irmão
será submetido a julgamento.
Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’.
Eu, porém, digo-vos:
Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos,
já cometeu adultério com ela no seu coração.
Ouvistes ainda que foi dito aos antigos:
‘Não faltarás ao que tiveres jurado,
mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’.
Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum.
A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’.
O que passa disto vem do Maligno».
Qualquer uma das frases de Jesus que lemos, resume o seu ensinamento, mas a mais simples e clara é: “A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’.”
Isto é, que os nossos 'Sins' signifiquem 'Sim' e os nossos 'Nãos' signifiquem 'Não'".
Quem poderia fazer uma chamada atenção mais direta para a tarefa sem fim de vivermos com integridade?
Nesta passagem do Sermão da Montanha, que acabámos de ler, temos uma apresentação que é típica da pregação de Jesus, que soube cativar a atenção dos seus ouvintes com frases chocantes sob a forma de contrastes fáceis de recordar:
“Ouvistes aos antigos” e “Eu, porém, digo-vos”.
Quando nos referimos a Jesus como tendo palavras a que chamamos santas, maravilhosas, amorosas, fiéis, cada uma delas descreve uma dimensão da sua integridade como Filho de Deus e filho do homem, como a pessoa que cumpriu a vocação humana de ser uma imagem perfeita de Deus.
Ao pregar o Sermão da Montanha, Jesus revelou o seu próprio discernimento sobre o objetivo da vida e o lugar que nela tem a lei.
Jesus queria que descobríssemos que o rancor, o ressentimento, o uso dos outros para prazer ou ganho pessoal e a fácil rutura dos relacionamentos, não eram mais do que várias das manifestações de profundo desrespeito pelos outros.
Jesus pregou, não para sobrecarregar as pessoas, mas para as convidar a uma liberdade profunda.
Jesus conduz-nos para além de uma obediência que seria apenas " seguir à letra".
Na lei, existem obrigações e proibições e também castigos e multas.
Jesus coloca-nos diante de atitudes que devem ser praticadas, e que vão para lá do Antigo Testamento.
Jesus vai à raiz do mal que é o homicídio, chamando a atenção para a raiva que permanece instalada no íntimo, no coração das pessoas e que continuam a matar de múltiplas formas.
Quanto ao adultério, a raiz está no desejo de possuir a outra ou o outro, mesmo que este desejo esteja escondido no interior.
Quanto ao jurar falso, o perjúrio, é uma violação da verdade que faz com que se duvide da palavra dada.
Em si mesmo, Jesus não acrescenta nada à lei antiga que era praticada pelos seus ouvintes, mas dá os meios para a compreender e para a viver em profundidade, na liberdade dos filhos de Deus.
Nos nossos dias, Jesus certamente nos lembraria que a raiva ou o rancor que temos - mesmo face às injustiças gritantes - nos encarceram em prisões mentais e emocionais, construídas por nós próprios, que nos podem revelar que consideramos a nossa opinião sobre os outros como a única certa e correta.
O alerta de Jesus contra a luxúria, não se aplica apenas à sexualidade, aplica-se também ao racismo, ao sexismo e a todas as teorias culturais e religiosas que consideram que apenas o nosso caminho é o correto e que deve ser a norma de comportamento, enquanto que os outros caminhos são considerados desviados da boa direção.
O Evangelho de hoje convida-nos a revindicarmos a liberdade de viver no amor.
Não podemos controlar os outros, mas podemos escolher a forma de lhes responder.
Nós, os que procuramos viver como seguidores de Jesus, quer quando tivemos consciência do que foi vivido no nosso batismo, quer em cada celebração da Eucaristia dizemos sim ao caminho e modo de viver de Jesus.
Nos nossos dias, podemos pedir ao Senhor para redescobrir o sabor da sua Palavra sempre viva.
Peçamos ao Senhor que nos faça progredir cada vez mais no conhecimento da Nova Lei e que Ele nos ajude a pô-la em prática, para sermos felizes à maneira de Jesus, como Ele próprio nos propõe logo no início do Sermão da Montanha.
frei Eugénio, dominicano
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