Diálogo com o Evangelho do 5º Domingo da Quaresma, 26 de março, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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EVANGELHO (Jo. 11, 1-45)
Forma breve: Jo 11, 3-7.17.20-27.33b-45
Naquele tempo,
as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus:
«Senhor, o teu amigo está doente».
Ouvindo isto, Jesus disse:
«Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus,
para que por ela seja glorificado o Filho do homem».
Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro.
Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente,
ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava.
Depois disse aos discípulos:
«Vamos de novo para a Judeia».
Ao chegar lá,
Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias.
Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar,
Marta saiu ao seu encontro,
enquanto Maria ficou sentada em casa.
Marta disse a Jesus:
«Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido.
Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus,
Deus To concederá».
Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará».
Marta respondeu:
«Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição, do último dia».
Disse-lhe Jesus:
«Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem acredita em Mim,
ainda que tenha morrido, viverá;
e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá.
Acreditas nisto?»
Disse-Lhe Marta:
«Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus,
que havia de vir ao mundo».
Jesus comoveu-Se profundamente e perturbou-Se.
Depois perguntou: «Onde o pusestes?»
Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor».
E Jesus chorou.
Diziam então os judeus:
«Vede como era seu amigo».
Mas alguns deles observaram:
«Então Ele, que abriu os olhos ao cego,
não podia também ter feito que este homem não morresse?»
Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo.
Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada.
Disse Jesus: «Tirai a pedra».
Respondeu Marta, irmã do morto:
«Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias».
Disse Jesus:
«Eu não te disse que, se acreditasses,
verias a glória de Deus?»
Tiraram então a pedra.
Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse:
«Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido.
Eu bem sei que sempre Me ouves,
mas falei assim por causa da multidão que nos cerca,
para acreditarem que Tu Me enviaste».
Dito isto, bradou com voz forte:
«Lázaro, sai para fora».
O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras
e o rosto envolvido num sudário.
Disse-lhes Jesus:
«Desligai-o e deixai-o ir».
Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria,
ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.
Palavra da Salvação
DIÁLOGO
“E Jesus chorou.” Este momento de grande tristeza que o evangelista João nos apresenta e que acabámos de ler, faz parte do relato da ressurreição de Lázaro.
Comentando este facto, o teólogo Jean-Michel Castaing escreveu um comentário muito feliz:
“este versículo é mais eficaz para persuadir os crentes do que todas as bibliotecas de Teologia Dogmática reunidas.”
Jesus estava com os discípulos para além do Jordão. Mesmo sabendo que Lázaro se encontrava muito doente, não vai vê-lo, ficando mais dois dias em pregação.
Depois diz aos discípulos: «Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem», que os discípulos interpretaram mal, tomando à letra as suas palavras.
Seguiram então para a Judeia e quando chegaram a Betânia, Lázaro estava sepultado há já quatro dias.
No diálogo que manteve com Marta, esta estava desolada por Jesus não ter estado presente. Sabia que o seu irmão Lázaro ressuscitaria no fim dos tempos, mas isso não a consolava.
Jesus esclareceu-a: “Eu sou a Ressurreição e a Vida;” e estas palavras teriam bastado, mas acrescentou « quem acredita em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e acredita em mim nunca morrerá (….»
O encontro de Jesus com Maria, a irmã de Marta, foi diferente.
Esta ajoelhou-se aos pés de Jesus, numa posição tradicional do discípulo em relação ao Mestre e, chorosa, lamentou a morte do irmão e a ausência de Jesus.
Então no texto aparecem três verbos significativos da agitação interior de Jesus: comoveu-Se… perturbou-Se (ficou esmagado)…e Jesus chorou.
A compaixão de Jesus é capaz de ter presente e de compreender todas as nossas angústias.
Quando já estavam próximos do túmulo de Lázaro, Jesus levantou os olhos ao Céu e deu uma ordem em alta voz (para que a multidão pudesse ouvir): «Lázaro, sai para fora.»
Surgiu então Lázaro todo envolvido em ligaduras, como tinha sido sepultado.
Jesus deu então a seguinte ordem «Desligai-o e deixai-o ir».
Este acontecimento preparou a Paixão e a Ressurreição de Jesus.
Dos judeus que viram e ouviram o que se passou junto ao túmulo de Lázaro, um grupo iria acreditar em Jesus; outro, iria informar os príncipes dos sacerdotes do Templo e os fariseus.
Eles irão preparar a sentença de morte de Jesus. (Jo. 11, 45-54).
Porque é que Jesus chorou antes da ressurreição de Lázaro, conforme é narrado em João 11, 35?
Quando alguém querido morre, é natural chorarmos porque sentimos saudades dele. Embora gostasse muito de Lázaro, não foi a morte dele em si que levou Jesus a chorar.
Ele chorou por ter compaixão pelos familiares, a começar pelas irmãs, e pelos amigos enlutados, conforme indicado pelo contexto do relato de João. (Jo 11.36).
A morte não era o resultado final da doença de Lázaro.
A intenção de Jesus era usar a morte de Lázaro “para a glória de Deus”. E como faria Ele isso?
Jesus estava prestes a realizar um milagre espetacular, trazendo o seu amigo de volta à vida.
Ao conversar com seus discípulos nessa ocasião, Jesus comparou a morte ao sono. É por isso que Ele lhes disse que ‘viajaria para lá e despertaria Lázaro do sono’. (João 11,11)
Quando Jesus encontrou Maria, uma das irmãs de Lázaro, e viu que ela e outros estavam chorando, ele perturbou-Se.
Ver o sofrimento deles faz com que Jesus fique muito pesaroso, a ponto de ficar "perturbado."
Foi por isso que ele chorou. Ele ficou profundamente triste ao ver seus queridos amigos sofrendo tanto. (Jo 11, 33 ; 35)
Jesus sabia que iria ressuscitar Lázaro. Mesmo assim, Ele chorou por causa de seu grande amor pelos seus amigos.
Do mesmo modo, se sentirmos compaixão, isso também nos poderá levar a «chorar com os que choram»’. (Rom. 12,15)
Mostrar essa tristeza não indica falta de fé na esperança da ressurreição.
Como é bom sabermos que Jesus, mesmo estando prestes a ressuscitar Lázaro, mostrou compaixão pelos enlutados, chorando de modo sincero e deixando-nos um belo exemplo para nós!
frei Eugénio, op