2023-06-24

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 12º Domingo do Tempo Comum, 25 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.


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EVANGELHO (Mt. 10, 26 - 33)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Não tenhais medo dos homens, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se.
O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido, proclamai-o sobre os telhados.
Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por uma moeda? E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai.
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Portanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos.
A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens, também Eu Me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus.
Mas àquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus».

 

DIÁLOGO


 

 

2023-06-17

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 11º Domingo do Tempo Comum, 18 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.


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EVANGELHO (Mt. 9, 36 - 38.10, 1-8)

Naquele tempo, Jesus, ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão, porque andavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor. Jesus disse então aos seus discípulos:
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.
Pedi ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara».
Depois chamou a Si os seus doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos impuros e de curar todas as doenças e enfermidades.
São estes os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão;
Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu;
Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou.
Jesus enviou estes doze, dando-lhes as seguintes instruções: «Não sigais o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos.
«Ide primeiramente às ovelhas perdidas da casa de Israel. Pelo caminho, proclamai que está perto o Reino dos Céus».
Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça.

 

DIÁLOGO

Durante três domingos, o que lemos hoje e os dois próximos, ouviremos o chamado «Discurso missionário» no Evangelho de Mateus.

Tudo começa pela compaixão de Jesus que é expressa numa palavra grega que implica um movimento visceral, maternal, de Jesus à vista das pessoas cansadas e abatidas «como ovelhas sem pastor» uma maneira muito bíblica que exprime a dispersão, o desalento,  a desilusão das pessoas.
É a mesma comoção interior que encontramos noutras circunstâncias: na cena da viúva de Naïm, na parábola do bom samaritano; na parábola do pai que tem dois filhos com atitudes opostas e que os acolhe a ambos cheio de misericórdia.
É sempre com a mesma maneira de ver os outros, enternecida e comovida, que Jesus diz aos seus discípulos: «A seara é grande,
mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da seara
que mande trabalhadores para a sua seara».
 
A seara a que Jesus se refere é aquela que já está no momento da colheita e não na ocasião da sementeira.
Não se trata dum tempo de espera e de expectativa, mas da realização do Reino de Deus, com a vinda do Messias.
 
É neste contexto que Jesus envia em missão os seus doze apóstolos, chamados cada um pelo seu nome.
Eles ficam fortemente ligados a Jesus, através da autoridade que lhes é dada e que é sempre de Jesus. Também ficam ligados a Jesus que os envia e pelo que eles devem anunciar: “Pelo caminho, proclamai que está perto o reino dos Céus.
Curai os enfermos, ressuscitai os mortos,
sarai os leprosos, expulsai os demónios”.
 
Jesus chama os doze, dá-lhes autoridade e envia-os.
A autoridade não é uma característica própria dos doze, ela é dada por Jesus e ela é recebida também da fonte, que é Jesus.
A autoridade destina-se a libertar as pessoas da influência dos espíritos impuros e a curá-las.
 
Expulsar os espíritos maus não é nem mais eficaz nem menos credível que as curas psicanalíticas do nosso tempo.
 
O envio é para anunciar que o Reino dos Céus já está próximo e que é preciso ir à procura das ovelhas perdidas para que o mundo fique cheio de paz e de esperança.
 
A missão não é resguardar-se no seu grupo de pertença e a partir daí, fazer propaganda religiosa.
A missão implica sair de si, mudar de situação e de atitude.
Implica ir à procura do outro que está perdido em uma qualquer margem da vida, e acolhê-lo e cuidar dele.
 
Tudo isto que se passou com os doze apóstolos, também se refere aos que, como nós, queremos ser discípulos de Jesus nos nossos dias e que gostaríamos de pôr em prática, com entusiasmo, este discurso missionário.
Que à nossa volta as pessoas possam descobrir que ninguém fica fora do Amor de Jesus de Nazaré.
 
         frei Eugénio, dominicano

2023-06-10

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do dia do Corpo de Deus, 8 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


EVANGELHO (Mt. 9, 9-13)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».
Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?».
E Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.
A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele.
Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim.
Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente».
Assim falou Jesus, ao ensinar numa sinagoga, em Cafarnaum.

 

DIÁLOGO

 

A EUCARISTIA é importante. Não é uma invenção da Igreja.

Foi o próprio Jesus que disse na Última Ceia: “FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM.” (Lc. 22,19)

 

Neste diálogo que temos hoje convosco, vamos propor-lhes algumas ajudas práticas para se viver a Eucaristia dos Domingos de modo mais significativo e enriquecedor espiritualmente.

 

A Missa deve ser preparada antes, vivida durante, continuada depois.

 

Porquê?

 

1- Porque a Palavra de Deus, sobretudo os Evangelhos, são demasiado ricos em ensinamentos sobre o modo de viver com o estilo de Jesus, que merece ser bem preparada e vivida

 

2- A Eucaristia é a ocasião mais propícia em cada semana, para apresentarmos ao Senhor  os nossos principais arrependimentos, as nossas maiores preocupações, os nossos felizes agradecimentos.

Para o fazermos a partir da nossa vida concreta é preciso termos feito uma preparação anterior.

 

Sem ela, os momentos da Missa sucedem-se sem termos tido tempo de pensar o que queremos ter presente do que vivemos durante a semana.

Habitualmente, quando vamos a uma festa familiar ou entre amigos, pensamos no que vamos levar que dê gosto a quem nos convida.

Quando vamos ter uma reunião profissional importante preparamo-nos tendo em conta quem vai estar presente e estudamos o que se irá tratar.

 

Para preparar a Missa comecemos por marcar na nossa agenda a melhor altura da semana para o fazer. É sobretudo essencial para quem é muito ocupado!

 

No começo do momento da preparação peçamos ao Espírito Santo que nos ajude. Sugerimos uma breve oração:

“Ó Espírito Santo dá-me a Tua Sabedoria e o Teu Amor para bem preparar esta Eucaristia e para que o faça com gosto. Amen”

 

O que posso preparar antes de ir à Missa:

 

1-Comecemos pela Palavra de Deus

Das leituras propostas pelo calendário litúrgico, comecemos por ler o Evangelho. Das duas ou três leituras é a mais importante.

 

Ao ler tenhamos em atenção algumas questões simples:

O que se passa e quem intervêm na passagem lida?

Encontro hoje situações semelhantes às que são  narradas?

O texto levanta-me alguma dúvida ou interrogação à minha fé?

 O texto dá-me alguma resposta a dúvidas ou interrogações que tinha?

 

2-Para o Rito Penitencial, preparo o que irei pedir perdão ao Senhor.

Penso no que durante a semana posso ter feito ou pensado de mal doutras pessoas, com maior insistência ou mesmo provocando sofrimento.

Também o que devia ter feito de bem, importante para algumas pessoas e que não fiz.

 

3-Para a Oração dos Fiéis, penso nas diversas pessoas, situações ou acontecimentos pelos quais mais quero pedir.

 

4-Para o momento de Ação de Graças, agradeço ao Senhor o que de mais especial me foi dado durante a semana?

 

O que posso viver durante a Missa:

 

Podemos estar na Eucaristia como simples espetadores do que se está a passar no altar e à nossa volta e nesse caso só estamos fisicamente presentes.

Mas também podemos estar a participar interiormente, pondo lá aspetos da nossa vida, tal como como o que preparámos.

Também devemos rezar e cantar com a assembleia e estarmos atentos ao que o celebrante tem para nos dizer.

 

Se “vivermos” assim a Eucaristia e participarmos mais nela, esses momentos de encontro com Deus e connosco próprios tornar-se-ão um verdadeiro acontecimento

 

Missa continuada depois:

 

A Eucaristia pode não terminar à saída da igreja, se levarmos

- Algum propósito pessoal para melhorarmos durante a semana;

- Alguma atitude concreta de amor ao próximo;

- Persistência na oração diária.

 

Se pusermos em prática esta maneira de fazer que aqui partilhamos convosco:

- Prepararmos antes para levar a vida para a Missa;

- Vivermos durante a Missa o que preparámos;

- Levar para a vida o que vivemos na Missa

        a Eucaristia deixará de ser uma rotina e tornar-se-á num momento importante cheio das nossas vidas concretas.

 

      frei Eugénio, dominicano

 

2023-06-03

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do Domingo da Santíssima Trindade, 4 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


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EVANGELHO (Jo. 3, 16-18)

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita nele não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele».
Quem acredita nele não é condenado, mas quem não acredita nele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus».

 

DIÁLOGO 

Permitam-me que partilhe convosco o que aconteceu com Santo Agostinho. 

 

Conta-se que ele especulou durante muito tempo sobre o mistério da Santíssima Trindade, utilizando todos os recursos filosóficos e linguísticos que conhecia bem, pois era professor de retórica, mas sem conseguir avançar muito no assunto. 

 

Depois de muito refletir, decidiu dar um passeio na praia junto ao mar Mediterrâneo. 

 

De repente, avistou um rapaz que tinha cavado um buraco na areia da praia e que ia buscar água do mar com uma concha para a deitar no buraco que tinha feito.

 

O comportamento do rapaz intrigou Santo Agostinho, que lhe perguntou:

«Caro rapaz, que estás a fazer?»

«Quero deitar toda a água do mar no meu buraco.»"

«Mas isso não é possível", respondeu Santo Agostinho,

«O mar é imenso e o buraco que fizeste é muito pequeno.»

 

O rapaz respondeu-lhe:

"Mas eu vou conseguir deitar toda a água do mar no meu buraco

 antes que o senhor consiga compreender o mistério da Santíssima Trindade.»

 

Então o rapaz desapareceu.

 

Santo Agostinho apercebeu-se que se tratava de um anjo que tinha tomado a forma de um rapaz para o ajudar a descobrir que não lhe era possível compreender o mistério da Santíssima Trindade.

 

Embora Santo Agostinho seja reconhecido como uma das mentes mais brilhantes que a humanidade conheceu, há mistérios, ou seja, verdades divinas reveladas, que ele nunca conseguiria compreender plenamente.

 

Como é que se pode abordar o inacessível?

 

Como imaginar o inimaginável?

 

A solenidade da Santíssima Trindade levanta estas questões.

 

A Escritura ajuda-nos muito na nossa busca de Deus, não porque nos dê respostas claras, mas precisamente porque não as dá.

 

O Evangelho de hoje alarga a nossa perceção da imagem divina

 

Em primeiro lugar, embora estejamos habituados a encontrar em João 3,16: «Deus amou tanto o mundo», alguns estudiosos da Bíblia sugerem uma tradução ligeiramente diferente;

 

"Porque foi assim que Deus amou o mundo".

 

Este modo de traduzir, tem uma nuance muito subtil: não se referindo à quantidade muito grande do Amor, mas sim ao modo como Deus ama, dizendo-nos que Deus ama “entregando o Seu Filho Unigénito.”

 

Cada momento da vida de Jesus manifestou como Deus ama as pessoas neste mundo.

 

Esta festa celebra o Amor de Deus revelado em Jesus e convida-nos a deixar que o Espírito de Deus atue em nós e entre nós.

 

O Deus dos cristãos é um Deus que ama pessoas reais em tempo real.

Falar da Trindade leva-nos àquela que é a crença mais misteriosa do cristianismo.

 

Embora o Novo Testamento não desenvolva verdadeiramente um conceito trinitário de Deus, Jesus introduziu subtilmente o conceito de Trindade referindo-se à sua relação com o Pai e na sua promessa do envio do Seu Espírito.

 

Podemos também dizer que esta festa centra a nossa atenção na auto-revelação de Deus, como sendo só Amor e como vivendo profundamente envolvido com toda a humanidade.

 

Esta festa convida-nos a contemplar a profundidade do Amor de Deus e o Seu desejo de nos atrair todos à Sua Vida Divina.

 

Não podemos nomear adequadamente Deus, mas experimentamos o mistério inacessível que nos convida a nos maravilharmos e a nos aproximarmos cada vez mais d’Ele.

 

Através da Criação e da Revelação, podemos experimentar, das mais variadas maneiras, muito para lá do que podemos imaginar, como podemos participar na Vida de Deus.

 

Hoje podemos apreciar alguns vislumbres de Deus, como se fossem miniaturas, enquanto aguardamos com expectativa o dia em que "seremos semelhantes a Cristo, porque o veremos face a face" (1 João 3,2).

   

      frei Eugénio, dominicano