2023-07-30

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 17º Domingo do Tempo Comum, 30 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (ainda não disponível)

 

 

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Evangelho (Mt. 13,44-52)


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo.
O Reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas.
Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola».
O Reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes.
Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos, e o que não presta deitam-no fora.
Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos
e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes.
Entendestes tudo isto?». Eles responderam-Lhe: «Entendemos».
Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».

DIÁLOGO


2023-07-22

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 16º Domingo do Tempo Comum, 23 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (ainda não disponível)

 

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EVANGELHO (Mt. 13, 24 - 43)

Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O Reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo.
Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora.
Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: "Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?".
Ele respondeu-lhes:"Foi um inimigo que fez isso". Disseram-lhe os servos: "Queres que vamos arrancar o joio?".
"Não!", disse ele, "não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo.
Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro"».
Jesus disse-lhes outra parábola: «O Reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo.
Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos».
Disse-lhes outra parábola: «O Reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado».
Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia,
a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo».
Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se dele e disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo».
Jesus respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem,
e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino, o joio são os filhos do Maligno,
e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo, e os ceifeiros são os anjos.
Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo:
o Filho do homem enviará os seus anjos, que tirarão do seu Reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade,
e hão de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos brilharão como o sol no Reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça». 

DIÁLOGO


2023-07-15

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 15º Domingo do Tempo Comum, 16 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

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EVANGELHO (Mt. 13, 1 - 9)

Naquele dia,
Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar.
Reuniu-se à sua volta tão grande multidão
que teve de subir para um barco e sentar-Se,
enquanto a multidão ficava na margem.
Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos:
«Saiu o semeador a semear.
Quando semeava,
caíram algumas sementes ao longo do caminho:
vieram as aves e comeram-nas.
Outras caíram em sítios pedregosos,
onde não havia muita terra,
e logo nasceram porque a terra era pouco profunda;
mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram,
por não terem raiz.
Outras caíram entre espinhos
e os espinhos cresceram e abafaram-nas.
Outras caíram em boa terra e deram fruto:
umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um.
Quem tem ouvidos, oiça».

DIÁLOGO

São Mateus organizou o seu evangelho como “um drama sobre a vinda do Reino de Deus”.
No capítulo 13, que estamos a começar a ler apresenta-nos sete parábolas sobre o Reino de Deus já presente entre nós, começando por esta “parábola do semeador”.

Jesus começa por dizer: “Saiu o semeador a semear” e logo cativa a atenção dos seus ouvintes, que conhecem bem esse gesto tão cheio de ritmo do semeador, que começa por meter a mão no saco que leva a tiracolo e em seguida, num largo gesto, lança as sementes ao ar até onde chega a sua força, para que elas se espalhem na terra.

Com esse gesto amplo, algumas sementes vão também cair nos caminhos de terra batida ou empedrados e nos sítios pedregosos ou espinhosos que ladeiam os campos.
O semeador deseja que as sementes sejam de boa qualidade e espera vir a ter uma colheita abundante.
As sementes que caem nos caminhos e que são comidas pelos pássaros, nada produzem, e o resultado nelas é o insucesso.

As que caem nos sítios pedregosos ainda crescem um pouco,
mas também não dão qualquer fruto. Outro insucesso.

E as que caem entre os espinhos e até parecem crescer bem,
mas que serão abafadas são também outro insucesso.

Mas a parábola tem “um final feliz” pois as sementes são boas e a terra também, e o semeador terá uma boa produção.

Os insucessos que entristecem, as contrariedades que desanimam, os ambientes que abafam as boas intenções,
fazem parte da sementeira.

Mas o final feliz da parábola vai fortalecer a esperança,
vai encorajar a não desistir, vai dar força para se ser persistente, pois o bom resultado será alcançado, apesar dos insucessos.

Segundo o evangelista São Mateus, Jesus conta esta parábola
e as outras seis sobre a vinda do Reino de Deus, quando a sua vida e pregação estão a encontrar as maiores oposições
e quando a sua condenação, tortura e morte na cruz,
já estão a ser planeadas.

É também a altura em que muitos discípulos O abandonam e mesmo entre os mais próximos, alguns ficam cheios de dúvidas e de desânimo.

A parábola do semeador vai dar esperança e vai reforçar a confiança no Amor de Deus e do Seu Reinado.
Por outro lado, é bom termos presente que a imagem dos terrenos onde caem as sementes se refere ao nosso íntimo, ao nosso ‘coração’ em linguagem bíblica, o centro de nós mesmos, fonte do pensamento, da vontade e dos sentimentos.
 
Jesus faz, por assim dizer, uma «radiografia espiritual» do nosso coração, que é o terreno sobre o qual a semente da Palavra cai, como disse o Papa Francisco numa homilia.

Jesus veio lançar as sementes da sua Boa Notícia da presença
do Reino de Deus no meio de nós, mas que ainda está longe
do mundo completamente renovado, que Ele promete
para o final dos tempos, em nome do Seu Pai.
É o Reino já presente, mas ainda não totalmente realizado.
 
Gostaria de chamar a atenção para uma interpretação muito comum desta parábola e que nos pode ocultar a beleza e a força desta parábola do semeador.
Nessa interpretação, em vez de olharmos para dentro de nós para vermos onde estão a cair as sementes da Palavra de Deus, considera que é fora de nós e à nossa volta que há esses terrenos improdutivos.

Olhamos para as pessoas conhecidas ou próximas e dizemos
ou pensamos que andam pelos caminhos e por isso se tornaram ateus ou completamente indiferentes ao Evangelho.
Outros, são os que estão nos terrenos pedregosos e que se desiludiram com o Catolicismo e se afastaram da prática religiosa.
Olhamos para outros que são os que os espinhos abafaram,
por se preocuparem sobretudo em seguir o que a sociedade e o modo de pensar atual valorizam, mesmo se for contra a Palavra de Deus.
E por fim, nós, somos a boa terra que produz conforme conseguimos.

Porque é que esta interpretação na qual nos comparamos com outros, nos pode afastar da intenção de Jesus?

Jesus, no seu anúncio do Reino de Deus já presente, deseja que cada um de nós descubra que os quatro terrenos estão dentro de nós
e que, segundo as situações, podemos mudar de terreno,
passar duma atitude à outra, sem nos apercebermos.
Para podermos sair dessas situações improdutivas e assim nos convertermos, devemos ter os ouvidos do ‘coração’ disponíveis para receber a Palavra de Deus, escutando-a, guardando-a, rezando-a  e procurando pô-la em prática.

A comparação com outros afasta-nos da verdadeira conversão.

Caros leitores, Jesus convida-nos hoje a olhar para dentro de nós, com a esperança de podermos colaborar com o Seu Amor para que o Seu Reino esteja mais presente entre nós.
                
frei Eugénio, dominicano

 


2023-07-08

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 14º Domingo do Tempo Comum, 9 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.



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EVANGELHO (Mt. 11, 25 - 30)

Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos.
Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado.
Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».


DIÁLOGO

Esta página do Evangelho é um condensado de ensinamentos belíssimos.
Jesus dá graças a Deus-Pai, pois o que os mais cultos não conseguem compreender, entendem-no os que estão mais disponíveis para aprender e que aceitam mais facilmente mudar de atitude e de opinião. São aqueles que podemos considerar como ignorantes, mas que têm uma sabedoria que lhes permite entender a Boa Nova de Jesus.    

A primeira parte do texto do Evangelho de hoje apresenta-nos uma mensagem clara: Jesus contrapõe os sábios e os cultos aos humildes e aos simples.
Os discípulos deverão ser pessoas simples, humildes, capazes de aprender com Jesus e de conservar no seu íntimo o que aprenderam.  
Não se concentram nas suas capacidades pessoais,
nem se colocam acima dos que não possuem os seus conhecimentos.
O modelo é o próprio Jesus, que sempre se dirigia aos outros pondo-se ao mesmo nível de cada um, e não de cima para baixo, como quem sabe muito que se dirige a quem sabe pouco ou quase nada sobre o assunto a abordar.

É entrando numa atitude de humilde disponibilidade que a porta do nosso coração se abre.
Jesus, o Filho amado do Pai, pode levar-nos a segui-lo até ao Coração de Deus, pois "ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar".

Jesus tem uma tal intimidade com Deus-Pai que tem a possibilidade de nos dizer da parte de Deus quem Ele é, e o que Ele quer, isto é, qual é a Sua Vontade.
 E é sempre na sua humanidade que Ele nos revela a sua divindade.

Esta "revelação" sobre os pequeninos não significa que devemos rejeitar a reflexão e os conhecimentos humanos.
Não! O contraste marcante que Jesus apresenta tem simplesmente o objetivo de nos mostrar onde se encontram os "verdadeiros sábios" e os "verdadeiros doutores".
São as pessoas que sabem reconhecer os seus limites diante de Deus, aqueles que se sentem muito pequenos diante do mistério da imensidade de Deus.

Conta-se que, no final da sua vida, um grande sábio e erudito, São Tomás de Aquino, que ensinou teologia e escreveu muitos livros, disse que todas as suas aulas e escritos não eram nada em comparação com o seu encontro pessoal e místico com Deus: "Tudo o que escrevi é uma palha em comparação com o que me foi revelado".

Voltemos ao texto do Evangelho.
A segunda parte merece também a nossa atenção, porque traz uma mensagem bem vinda à nossa vida, por vezes tão agitada.

Que mensagem é essa?
Jesus utiliza uma imagem bem conhecida dos seus ouvintes para lhes fazer compreender que podem sempre contar com Ele e que Ele carrega consigo os nossos “fardos”, os nossos problemas e as nossas questões.
A imagem escolhida é a de um jugo. Esta palavra é mais utilizada hoje em dia em sentido figurado.
Exprime uma autoridade que esmaga, ou problemas que pesam demasiado sobre nós.
Mas no seu sentido de objeto real, a palavra “jugo” designa um instrumento, geralmente de madeira, que une pelo pescoço dois bois para puxar um arado, por exemplo, ou uma outra carga qualquer.
Assim, os dois animais coordenam-se e ajudam-se mutuamente na sua ação.
É esta a imagem que Jesus tinha em mente quando disse:
“Tomai sobre vós o meu jugo
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».

Assim, as nossas dores e problemas, não desaparecem das nossas vidas e do nosso mundo, mas passam a ter um peso muito diferente, se tivéssemos de os carregar sozinhos.
Assim como os dois animais se ajudam mutuamente e suportam cargas muito mais pesadas, também nós, se tivermos confiança no Amor de Deus, que está presente "no coração das nossas vidas", teremos uma coragem e uma esperança nunca imaginadas.

A primeira e mais importante obrigação é a da lei do Amor.
Deus-Pai enviou Jesus, Seu Filho, para nos revelar que Ele é um Deus de Amor.
O seu nome é AMOR.

Na comunidade ecuménica de Taizé, em França,
na liturgia há em certas celebrações um gesto cheio de significado e que nos toca profundamente
Uma grande cruz é deitada no chão apenas levantada por uma grande almofada.
Os participantes são convidados a sair dos lugares onde estão na igreja e a dirigir-se até à cruz.
Aí chegados, baixam-se, habitualmente ajoelhando-se, para poisar a cabeça na cruz e assim ficar algum tempo, durante o qual entregamos a Jesus, em confiança e na fé, todos os nossos “mais pesados fardos”: tudo o que nos aflige, que nos preocupa muito, que não conseguimos carregar por nós próprios.
Além da fé, a própria atitude física, de inclinados profundamente, apoiando a nossa cabeça na cruz, opera em nós uma forte sensação de “descarga dos fardos” em Jesus, de braços abertos na cruz.

Nesta belíssima celebração, se acreditamos no que Jesus nos prometeu, de estar disponível para carregar sobre Si todos os nossos fardos, mesmo os mais pesados, podemos pôr em prática, na fé e na confiança, o que Ele nos prometeu.

        frei Eugénio, dominicano

2023-07-01

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 13º Domingo do Tempo Comum, 2 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.


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EVANGELHO (Mt. 10, 37 - 42)

«Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim,

não é digno de Mim;

e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim,

não é digno de Mim.

Quem não toma a sua cruz para Me seguir,

não é digno de Mim.

Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la;

e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la.

Quem vos acolhe, a Mim acolhe;

e quem Me acolhe, acolhe Aquele que Me enviou.

Quem acolhe um profeta por ele ser profeta,

receberá a recompensa de profeta;

e quem acolhe um justo por ele ser justo,

receberá a recompensa de justo.

E se alguém der de beber,

nem que seja um copo de água fresca,

a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo,

em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa».


DIÁLOGO

Acabámos de ler a parte final do chamado «discurso missionário»

no Evangelho de Mateus (Mt. 10, 37-42).

Esta parte do «discurso» não é dirigida aos missionários, mas àqueles que os acolhem.

 

O acolhimento feito aos missionários é muito importante, pois Jesus diz que acolhê-los é como acolher o próprio Jesus Messias («Cristo») e mais ainda: “quem Me acolhe, acolhe Aquele que Me enviou.”, isto é, Deus Pai (Mt. 10, 40).

 

Nesta tão curta passagem, a palavra «acolher» aparece seis vezes «Acolher» torna-se uma atitude-chave para quem quer ser seguidor de Jesus.

 

Acolher os missionários, não é apenas recebê-los educadamente em suas casas.

Acolher não consiste apenas em abrir as portas da casa aos missionários.

 

Um missionário não é um "vendedor", um portador de uma mensagem.

Quem os recebe, recebe o Senhor Jesus em pessoa, e até, recebendo o Filho, recebe também Deus-Pai.

 

Aqui, Jesus convida-nos a correr o risco de nos deixarmos transformar pelos outros.

 

Em primeiro lugar, por aqueles a quem Ele chama os mais pequenos:

o deficiente de quem cuidamos, o idoso que visitamos, o adolescente que se procura a si mesmo, o refugiado que chega, o ferido que foi atingido na carne, o sem-abrigo e outros socialmente mais desconsiderados.

 

O discípulo de Jesus aceita ver Jesus que o chama nesse «pequeno», nessa pessoa ferida, nessa pessoa que precisa d’Ele.

É Jesus que nos chama e que nos pede a nossa ajuda.

 

E assim, ao acolhê-los, estamos a acolher Jesus e Àquele que o enviou, como diz a passagem do Evangelho que lemos.

 

Tem sobretudo a ver com o abrir o coração à mensagem de que eles são portadores.

 

Como podemos ver, tornamo-nos dignos de Jesus não apenas ouvindo as suas palavras, a sua mensagem, mas aceitando que Ele seja o Mestre das nossas vidas, permitindo que Ele entre nelas e que as oriente.

 

Por detrás dos missionários e com eles está Jesus que os enviou.

Acolher os anunciadores não é fácil, porque o anúncio de que são portadores provoca divisões nos que os acolhem, porque o que anunciam exige que eles se deixem transformar também a eles próprios como anunciadores.

Acolher Jesus e os seus enviados é aceitar viver com um fogo dentro de nós, que a Palavra de Deus nos provoca.

 

Isto estava bem presente numa tradição que amigos meus canadianos francófonos me contaram que havia no Québec, no Canadá, até aos começos do século XX.

 

As famílias deixavam sempre junto à porta de entrada da casa, um banco que se transformava em cama para receber os pedintes que apareciam. Chamavam a esta cama improvisada o "banco do mendigo".

 

Então, no dia do julgamento, como nos relata o evangelista Mateus (Mt. 25, 34-40), Jesus Ressuscitado «separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda». 

Então dirá: «Vinde benditos de Meu Pai, porque tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e acolhestes-me; estava nu e vestistes-me; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes ter comigo!»

«Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes».

É isto que desejo para cada um e todos nós.

 

        frei Eugénio, dominicano