Diálogo com o Evangelho do 13º Domingo do Tempo Comum, 2 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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EVANGELHO (Mt. 10, 37 - 42)
«Quem ama o pai ou a mãe
mais do que a Mim,
não é digno de Mim;
e quem ama o filho ou a
filha mais do que a Mim,
não é digno de Mim.
Quem não toma a sua cruz
para Me seguir,
não é digno de Mim.
Quem encontrar a sua vida
há-de perdê-la;
e quem perder a sua vida
por minha causa, há-de encontrá-la.
Quem vos acolhe, a Mim acolhe;
e quem Me acolhe, acolhe
Aquele que Me enviou.
Quem acolhe um profeta
por ele ser profeta,
receberá a recompensa de
profeta;
e quem acolhe um justo
por ele ser justo,
receberá a recompensa de
justo.
E se alguém der de beber,
nem que seja um copo de
água fresca,
a um destes pequeninos,
por ele ser meu discípulo,
em verdade vos digo: não
perderá a sua recompensa».
DIÁLOGO
Acabámos de ler a parte
final do chamado «discurso missionário»
no Evangelho de Mateus (Mt.
10, 37-42).
Esta parte do «discurso»
não é dirigida aos missionários, mas àqueles que os acolhem.
O acolhimento feito aos
missionários é muito importante, pois Jesus diz que acolhê-los é como acolher o
próprio Jesus Messias («Cristo») e mais ainda: “quem Me acolhe, acolhe Aquele
que Me enviou.”, isto é, Deus Pai (Mt. 10, 40).
Nesta tão curta passagem,
a palavra «acolher» aparece seis vezes «Acolher» torna-se uma atitude-chave
para quem quer ser seguidor de Jesus.
Acolher os missionários,
não é apenas recebê-los educadamente em suas casas.
Acolher não consiste
apenas em abrir as portas da casa aos missionários.
Um missionário não é um
"vendedor", um portador de uma mensagem.
Quem os recebe, recebe o
Senhor Jesus em pessoa, e até, recebendo o Filho, recebe também Deus-Pai.
Aqui, Jesus convida-nos a
correr o risco de nos deixarmos transformar pelos outros.
Em primeiro lugar, por
aqueles a quem Ele chama os mais pequenos:
o deficiente de quem
cuidamos, o idoso que visitamos, o adolescente que se procura a si mesmo, o
refugiado que chega, o ferido que foi atingido na carne, o sem-abrigo e outros
socialmente mais desconsiderados.
O discípulo de Jesus
aceita ver Jesus que o chama nesse «pequeno», nessa pessoa ferida, nessa pessoa
que precisa d’Ele.
É Jesus que nos chama e
que nos pede a nossa ajuda.
E assim, ao acolhê-los,
estamos a acolher Jesus e Àquele que o enviou, como diz a passagem do Evangelho
que lemos.
Tem sobretudo a ver com o
abrir o coração à mensagem de que eles são portadores.
Como podemos ver,
tornamo-nos dignos de Jesus não apenas ouvindo as suas palavras, a sua
mensagem, mas aceitando que Ele seja o Mestre das nossas vidas, permitindo que Ele
entre nelas e que as oriente.
Por detrás dos
missionários e com eles está Jesus que os enviou.
Acolher os anunciadores
não é fácil, porque o anúncio de que são portadores provoca divisões nos que os
acolhem, porque o que anunciam exige que eles se deixem transformar também a eles
próprios como anunciadores.
Acolher Jesus e os
seus enviados é aceitar viver com um fogo dentro de nós, que a Palavra de Deus
nos provoca.
Isto estava bem presente
numa tradição que amigos meus canadianos francófonos me contaram que havia no
Québec, no Canadá, até aos começos do século XX.
As famílias deixavam
sempre junto à porta de entrada da casa, um banco que se transformava em cama
para receber os pedintes que apareciam. Chamavam a esta cama improvisada o
"banco do mendigo".
Então, no dia do
julgamento, como nos relata o evangelista Mateus (Mt. 25, 34-40), Jesus
Ressuscitado «separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as
ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda».
Então dirá: «Vinde benditos de Meu Pai, porque tive fome e destes-me de comer;
tive sede e destes-me de beber; era peregrino e acolhestes-me; estava nu e
vestistes-me; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes ter comigo!»
«Em verdade vos digo:
cada vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o
fizestes».
É isto que desejo para cada
um e todos nós.
frei Eugénio, dominicano