2024-02-10

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 6º Domingo do tempo comum, 11 de fevereiro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (ainda não disponível)

 

 

Evangelho (Mc. 1, 40-45)

Naquele tempo,
veio ter com Jesus um leproso.
Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe:
«Se quiseres, podes curar-me».
Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse:
«Quero: fica limpo».
No mesmo instante o deixou a lepra
e ele ficou limpo.
Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem:
«Não digas nada a ninguém,
mas vai mostrar-te ao sacerdote
e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou,
para lhes servir de testemunho».
Ele, porém, logo que partiu,
começou a apregoar e a divulgar o que acontecera,
e assim, Jesus já não podia entrar abertamente
em nenhuma cidade.
Ficava fora, em lugares desertos,
e vinham ter com Ele de toda a parte.
Palavra da salvação.
 

 

DIÁLOGO


Para podermos ter consciência do grande significado que teve este pedido do leproso e o modo como Jesus lhe respondeu, devemos saber o que representava ser leproso no mundo judeu dessa época.
O termo «lepra» incluía variadas doenças da pele que a medicina moderna distingue entre elas.

As regras estabelecidas impunham aos leprosos o isolamento e a distância, quer de Deus (não podiam entrar nem no Templo, em Jerusalém, nem nas sinagogas), quer de todas as pessoas, pois não podiam entrar nas povoações.
 

E quando tinham de se deslocar, deviam ir a gritar «impuro» «impuro», para que as pessoas, ao ouvirem o grito deles, se distanciassem o mais possível.
Como vemos, os leprosos levavam uma vida muito triste.

Aquele leproso não se resignou com sua doença, nem com as disposições religiosas que faziam dele um excluído.

Para alcançar Jesus, não teve medo de violar a lei e entrar na cidade, mesmo sendo-lhe proibido e quando O encontrou, «lançou-se com o rosto por terra, suplicando-lhe: Senhor, se quiseres, podes purificar-me!» (v. 12).
Tudo o que este homem considerado impuro, fez e disse, foi expressão de uma grande fé!
Ele reconhece a força de Jesus, convicto do Seu poder para o curar e que tudo depende do Seu querer.
Esta fé foi a força que lhe permitiu violar todas as leis e procurar encontrar-se com Jesus e ajoelhar-se diante d’Ele, reconhecendo-O como o Messias anunciado.

A súplica do leproso mostra que, quando nos apresentamos a Jesus com os nossos pedidos, não é necessário fazer longas orações e considerações. São suficientes poucas palavras, contanto que sejam acompanhadas pela plena confiança no Seu poder de salvar e na Sua bondade.

Quando a lepra não é tratada logo quando aparecem os primeiros sintomas, com o passar do tempo, a pessoa torna-se cada vez mais deformada, quer no rosto, quer no corpo. Provoca uma repulsa instintiva a quem com ela contacta.
Tudo isto contribui naquela altura e durante muito tempo, para
que fosse considerada uma imagem bem nítida da impureza moral e religiosa.

Assim, os leprosos na Palestina, além de serem doentes que se deviam evitar, por se considerar que a lepra era contagiosa pela proximidade, o que a ciência médica mais tarde veio provar que era errado, eram também consideradas pessoas impuras diante de Deus e dos homens.
Pior ainda, eram fonte de impureza para quem tivesse que lhes tocar por qualquer motivo. Essa pessoa ficava também impura e, segundo a Lei de Moisés, também excluída.

Podemos avaliar a enorme confiança que manifestou a oração tão simples e direta, que este leproso fez a Jesus: «Se quiseres, podes curar-me».
Supõe que aquele pobre infeliz, vítima da lepra, reconheceu Jesus como sendo o Messias salvador em pessoa, com um poder que só Deus tinha.

O Evangelho de Marcos realça que «Jesus se compadeceu dele», e lhe respondeu «Quero: fica limpo».
Sendo Jesus o Messias, a sua simples vontade era suficiente para purificar o leproso. A palavra de Jesus, com o seu poder divino, teria bastado para lhe expulsar a lepra.
Mas Jesus quis tocar naquele que era um «intocável».
Tocando-lhe, segundo a Lei de Moisés, Jesus contraiu a impureza do leproso.

Jesus, na sua grande misericórdia, aceitou ficar numa situação igual à do leproso: um impuro e excluído.
Mas o que se passou foi precisamente o contrário: foi a impureza do leproso que lhe foi tirada por Jesus.

O testemunho que este homem foi dar, não podia ser mais claro:
"Eu estava impuro, excluído e doente e Ele tocou-me e tornou-me uma pessoa novamente pura diante de Deus e dos homens."
O mensageiro passou a tornar-se, ele próprio, a mensagem pelo testemunho que dava, cheio duma grande alegria tão comunicativa.

A boa notícia que provavelmente vai testemunhar por todo o lado, é que Deus não quer ninguém excluído do seu Amor de Pai.

Em relação a este encontro do leproso com Jesus, permitam-me que partilhe convosco um segredo pessoal que o Papa Francisco deu a conhecer numa audiência geral em Roma, em Junho de 2016, já lá vão quase cinco anos.

O que o Papa Francisco disse nessa audiência, eu irei traduzir com alguma liberdade:
«Também eu vos irei contar um segredo pessoal.
À noite, antes de ir para a cama, ajoelho-me e rezo esta breve oração: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!».
E rezo cinco vezes o «Pai-Nosso», um por cada chaga de Jesus, porque Jesus nos purificou com as suas chagas [* nas mãos, nos pés e no coração]
Mas se eu o faço, também vós o podeis fazer, em casa, dizendo: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!» e, pensando nas chagas de Jesus, recitai um «Pai-Nosso» por cada uma delas.
Jesus ouve-nos sempre!
Pensemos em nós, nas nossas misérias...
Cada um tem as suas!
Pensemos com sinceridade e em verdade connosco mesmos.
É precisamente nesse final de cada dia, que é necessário que fiquemos sozinhos, que nos ajoelhemos diante de Deus e rezemos: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!».
Fazei-o, fazei-o antes de ir dormir, todas as noites.
E agora recitemos juntos esta bonita oração:
«Senhor, se quiseres, podes purificar-me!».

frei Eugénio, op
(14.02.2021)
 

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