2024-05-11

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do Domingo da Asensão, 12 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (ainda não disponível)

 

  

Evangelho (Mc. 16, 15-20)

Naquele tempo, Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura.
Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado.
Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas;
se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados».
E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus.
Eles partiram a pregar por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.
 
 
DIÁLOGO
 

Já alguma vez imaginaram que estavam também presentes no momento da Ascensão?

Como se teriam sentido se lá tivessem estado? Quais teriam sido os vossos sentimentos naquele momento único?

 

Como em qualquer experiência vivida ao mesmo tempo por um grupo de pessoas, iríamos contar de diferentes maneiras o que teríamos experimentado.

 

É interessante ver que no Novo Testamento existem várias versões da Ascensão, cada uma focando experiências diferentes.

São Lucas, no seu evangelho, refere-se ao final da relação presencial entre Jesus e os discípulos e que leva à expectativa dum futuro regresso e da sua vinda gloriosa no final dos tempos.

 

Não é aquela tristeza, que acompanha habitualmente as separações como nós a conhecemos, mas uma alegria que enche o coração dos discípulos, por causa da promessa do envio do Espírito Santo.

 

Já no relato dos Atos dos Apóstolos (Act 1, 6-11) São Lucas apresenta-nos muitos detalhes e salienta que os discípulos ficaram sem saber o que fazer, a olhar para o céu, mas que são chamados à realidade do que há para fazer na terra.

 

São Mateus, por seu lado, apresenta um relato que, em vez de descrever a "ascensão" de Jesus, salienta a sua exaltação junto do Deus Altíssimo, e assim, a presença contínua junto de nós, como Ele prometeu: "E eis que estou sempre convosco, mesmo até ao fim dos tempos".

 

O Evangelho de São João não menciona a Ascensão.

 

A versão de São Marcos que lemos hoje, apresenta uma declaração fundamental sobre Jesus (Mc 16:19):

"O Senhor Jesus, tendo falado com eles, foi levado para o céu e sentou-se à direita de Deus."

"Sentar-se à direita de Deus" significava a inauguração do Reinado do Messias Salvador. 

Esta designação simbólica foi entendida pelos discípulos como a glória e a honra da Divindade atribuída a Jesus, após a sua Ressurreição e a ela unida.

 

Estava a realizar-se a famosa visão do profeta Daniel sobre o Filho do Homem, ao qual haviam de servir todos os povos, nações e línguas.

 

O Mestre, que os discípulos tinham conhecido na terra como o carpinteiro de Nazaré, tinha-se tornado agora no Rei dos Céus e da Terra.

 

É compreensível que o Senhor, que governa toda a Criação, tenha dado uma missão com caráter universal: “Ide por todo o mundo” e “pregai o Evangelho a toda a criatura”.

Os discípulos, tendo recebido uma missão totalmente inesperada e para lá de tudo o que podiam imaginar, não tinham de ficar sem saber o que fazer, pois tinham recebido de Jesus a garantia que “o Senhor cooperava com eles”.

 

Os Apóstolos «saíram e pregaram o Evangelho em todo o lado.» 

Este foi o início das suas aventuras missionárias.

É, portanto, importante compreender o significado simbólico de «foi elevado ao Céu”.  

 

Uma das dificuldades que temos em partilhar ou dialogar sobre a Ascensão, é que muitas vezes para falar sobre o Céu usamos a linguagem de lugar.

 

Ora, sabemos que «o Céu não é um lugar como tal, mas um tipo particular de realidade ou estado de perfeita comunhão de Amor e Vida com a Trindade», como diz o Catecismo da Igreja Católica (cf. C.I.C.1024).

Ou por outras palavras, o Céu é a vida eterna, em que vemos Deus face a face, sendo transformados como Jesus na glória de Deus, e gozando da felicidade eterna.

 

Teilhard de Chardin, no seu estilo muito pessoal, disse: «Através da humanidade ascendente de Cristo, a natureza humana está definitivamente unida com a divindade.»

Que dignidade tão grande é dada à natureza humana!

 

Neste dia, aqueles que receberam o batismo, é bom terem presente que lhes foi confiada a mesma missão de dar testemunho em todos os tempos e todos os lugares, da presença real do Amor de Deus, da presença real de Deus-Amor.

 

O que Jesus nos dá é uma missão, que espera que seja bem aceite por nós: a de anunciar que o Deus tão distante para tantas pessoas (e até por vezes para nós), não é o Deus Longuíssimo, nem é uma invenção do espírito humano. É o Deus-que-está-sempre-connosco, próximo e familiar até ao fim dos tempos e o Senhor-com-uma-Presença-que- coopera-connosco em cada momento e lugar.

 

Nesta passagem do Evangelho há, no entanto, umas palavras muito perturbadoras e que parecem estar em total contradição com o que acabámos de dizer: «Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado.»

 

Era um estilo muito usado na cultura hebraica, de apoiar uma afirmação com a sua negação, que neste caso é o que perdia aquele que não acreditasse.

 

Mas a ausência do batismo não é mencionada como causa de perdição. E o texto enumera ainda os sinais que acompanharão os que acreditarem.

Na Ascensão de Jesus Ressuscitado, nosso Senhor, podemos ter a bússola da nossa vida: nela podemos ver, desde já, para onde podemos ir e para onde devemos ir.

 

frei Eugénio, op (16-05-2021)

 



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