Diálogo com o Evangelho do XII Domingo do Tempo Comum, 23 junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (gravado em junho de 2021)
Evangelho (Mc. 4,35-41)
Naquele dia, ao cair da tarde,
Jesus disse aos seus discípulos:
«Passemos à outra margem do lago».
Eles deixaram a multidão e levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado.
Iam com Ele outras embarcações.
Levantou-se então uma grande tormenta e as ondas eram tão altas que enchiam a barca de água.
Jesus, à popa, dormia com a cabeça na almofada.
Eles acordaram-n’O e disseram:
«Mestre, não Te importas que pereçamos?»
Jesus levantou-Se, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar:
«Cala-te e está quieto».
O vento cessou e fez-se grande bonança.
Depois disse aos discípulos:
«Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?»
Eles ficaram cheios de temor e diziam uns para os outros:
«Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?»
Palavra da salvação.
DIÁLOGO
Esta travessia de barco começou logo a seguir a Jesus ter ensinado, contando parábolas, que o poder do Reino de Deus está por vezes escondido, e que também pode ser tão abundante que ultrapassa a nossa capacidade de compreensão.
Depois de ensinar, Jesus pediu aos discípulos que atravessassem o Mar da Galileia, dirigindo-se para o território com população maioritariamente pagã
Neste relato, a combinação da fúria da natureza com o sono de Jesus foi suficiente para minar a confiança dos discípulos.
Jesus dormia com a cabeça encostada na almofada de couro que era fixa na popa das embarcações, onde quem era mais importante podia descansar e reganhar forças.
Marcos aponta a tentação dos discípulos de julgarem o sono de Jesus como um sinal de indiferença.
Eles acordaram-no com a acusação desesperada: “Mestre, não Te importas que pereçamos?»
Questionam Jesus como sendo um companheiro que na barca no meio da tempestade não tinha, como todos os outros, feito a sua tarefa, que poderia ter sido segurar bem os remos, ou recolher as velas ou governar o leme.
No entanto, o medo da tempestade é um sinal de sabedoria, fruto da experiência de pescadores, que sabiam bem que as tempestades devem ser levadas muito a sério.
Quando se está num barco, no qual se está a perder o controlo, quando o vento sopra violentamente e as ondas são tão altas que passam por cima do barco, o medo de naufragar deve levar toda a tripulação a tomar rapidamente as medidas possíveis.
Não é por causa deste medo, natural e saudável, que Jesus vai pôr em causa a fé dos discípulos.
Quando Jesus é acordado pelos discípulos aflitos, o que é que Ele faz?
Jesus age com a serenidade de quem domina a situação.
Vai agir como só o próprio Deus poderia ter agido. Ele dirige-se ao vento e ao mar e ordena-lhes para ficarem calados. As ondas amansam e a tempestade é acalmada. É o Filho de Deus cuja palavra tem o poder de Deus Criador, Senhor do Universo.
O poder de Deus manifesta-se em Jesus.
Jesus, na sua total confiança em Deus Pai, acredita que Ele lhe dará a capacidade de comandar o mar e o vento, quando for necessário.
Mas depois de Jesus ter atuado, de novo tiveram medo, não já por causa da tempestade, mas por terem visto Jesus a ser capaz de a dominar apenas com as suas próprias palavras.
Agora estão de novo atemorizados, e são levados a perguntar: "Quem é este homem que até o vento e o mar Lhe obedecem?»
Nenhum deles tinha sequer imaginado que Jesus pudesse ter um poder para dominar o mar e o vento.
Ficaram cheios daquilo a que a Bíblia chama “o Temor de Deus”.
Os discípulos saem dum medo diante da natureza, para outro medo ainda maior, cheio de espanto, ao verem o poder divino, sobre-humano de Jesus.
E, nesse momento, dirige-se aos discípulos, não com ordens como fizera com o mar e o vento, mas com duas perguntas:
«Porque estais tão assustados?” e “Ainda não tendes fé?»
É-lhes muito difícil acreditar que Jesus tem esse poder divino e esta questão «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?» irá acompanhá-los daqui para a frente no seu caminho com Jesus.
Também nós somos tentados a pensar e a sentir que Jesus parece estar a dormir.
Podemos também dizer-Lhe, como os discípulos disseram: "Senhor Jesus, estamos perdidos; não Te interessa o que se está a passar?"
Quantas situações a nível pessoal, na Igreja e na vida do Mundo
em que sentimos que somos completamente impotentes para as resolver e que vão ser causadoras de muito Mal, e que se podem prolongar por muitas gerações e por tempo que parece sem fim.
A nossa fé no poder sobrenatural de Jesus Ressuscitado é então profundamente abalada.
É a nossa fé em Jesus que precisa de ser vivificada, que precisa de ser despertada.
Senhor Jesus, Filho do Deus Vivo, no meio das tempestades, aumenta a nossa confiança em Ti.
frei Eugénio, OP (20.06.2021)
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