2024-11-17

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do XXXIII Domingo do Tempo Comum, 17 de novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (gravado em Outubro de 2021)

 

 

Evangelho (Marcos 13, 24-32)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade;
as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória.
Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu.
Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo.
Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.
Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.

DIÁLOGO

Hoje em dia, os jovens, e também os menos jovens gostam de ver vídeos ou filmes que contem histórias cheias de aventuras com efeitos fantásticos. 

Porque é que gostamos de os ver? 

Para sentir grandes emoções, para sair da rotina quotidiana, para experimentar coisas novas ou desconhecidas! 

As imagens que Jesus utiliza são poderosas: «Depois duma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.» O mundo estará em transformação, será o final do mundo tal como o conhecemos.  

Depois, quando Jesus falou sobre estes sinais temíveis e terríveis, explicou: «quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do Homem está perto, está mesmo à porta.» 

Aquele que renova completamente o mundo fará a sua aparição. O Filho do Homem, Jesus, o Messias, virá «nas nuvens com grande poder e glória». Neste diálogo, Jesus utiliza uma linguagem chamada «apocalíptica», que tem origem na palavra grega apokálupsis que significa 'revelação'.  

Este género literário é utilizado para descrever os segredos divinos que se referem ao final dos tempos e que utilizam imagens fantásticas e cenas cheias de emoções. 

Neste nosso tempo, encontramo-nos numa situação de calamidade climática, com necessidade urgente de se reduzirem as emissões de CO2. 

Os meios de comunicação social dão-nos uma imensidade incontrolável de informações, demasiadas vezes contraditórias, ou sem provas de veracidade, o que dificulta muitíssimo fazer discernimentos convenientes. 

As igrejas sentem a perda da religiosidade tradicional, enquanto novas e variadas espiritualidades e visões da nossa humanidade entram em contradição com as nossas antigas categorias de género, raça, classe, nacionalidade, etc. As palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos não pretendiam criar angústia motivada pela chegada próxima dum «fim do mundo».  

Jesus insistiu com os discípulos para que «vejam bem», «estai atentos» e «prestai atenção». Disse-lhes que deviam ter uma atitude de vigilância: «estai acordados» e «vigiai» 

No entanto, esta grande crise é apresentada no Evangelho como uma Boa Noticia. 

A história a que pertence não é meramente humana, mas uma história divino-humana que nos leva a partilhar na nossa própria vida uma missão que se centra na pessoa do Homem-Deus, Jesus, o Messias. 

De facto, tudo o que Jesus disse sobre a grande crise pode resumir-se na pergunta que os discípulos Lhe tinham posto: «Quando é que tudo se vai cumprir?» 

A grande crise não é o momento da devastação, mas sim a realização plena da missão de Jesus, com a vinda definitiva do Filho do Homem. 

Os discípulos deveriam colocar toda a sua confiança na Palavra de Deus, uma Palavra que nunca deixa de cumprir o que é proclamado, que é sempre vista como criativa e nunca destrutiva. 

É o que Jesus diz: «Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.» 

Os cristãos aguardam o regresso de Jesus Ressuscitado na esperança de que o Amor terá a última palavra, porque Jesus o disse. 

  frei Eugénio, op (14.11.2021)

Nota: 

Este Domingo, antes da festa de Cristo Rei, celebra-se o Dia Mundial dos Pobres, este ano com o tema: A oração do pobre eleva-se até Deus (cf. Sir 21, 5)

 

2024-11-10

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do XXXII Domingo do Tempo Comum, 10 de novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (gravado em Outubro de 2021)

 

 

EVANGELHO   (Mc 12, 38-44)

Naquele tempo, Jesus sentou-Se em frente da arca do Tesouro do Templo a observar como a multidão deitava o dinheiro no cofre das ofertas.
Muitos ricos deitavam quantias avultadas.
Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.
Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.
Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
 

DIÁLOGO

Na passagem do Evangelho que lemos, Jesus estava no átrio do Templo de Jerusalém, sentado em frente do sítio no qual estava o cofre, onde os peregrinos iam deitar as suas ofertas.

Em dada altura, Jesus viu uma pobre viúva que deitou no cofre duas moedinhas. 

Entre tantos peregrinos, Jesus reparou naquela pobre viúva, porque o seu olhar era cheio de amor e estava sempre atento a cada pessoa, nas situações e nos acontecimentos em que se encontravam.
O que vê Jesus naquela pobre viúva, de quem nem mesmo sabemos o nome? 

Certamente vê uma mulher com uma vida muito difícil, como a das viúvas pobres, completamente dependentes de quem lhes dava guarida e alimentos, mas Jesus vê sobretudo o que é muito mais importante: que a viúva deu como oferta tudo o que tinha. 

Jesus vê a viúva oferecer a Deus tudo o que tinha e declara que ela, aos olhos de Deus, deu mais do que os outros peregrinos, que davam do que lhes sobrava. 

Quando Jesus chamou a atenção dos discípulos para a atitude da viúva no Templo, apresentou o valor da sua oferta, usando uma escala diferente daquela que era a habitual, que se centrava na quantidade de dinheiro entregue em donativos. 

A viúva dará da sua pobreza, e Deus será «tocado» pela humildade daquela pobre mulher, que se confia totalmente ao Amor e à Misericórdia de Deus. 

Jesus chamou a atenção para o gesto dela, para ensinar aos seus discípulos, que no Reino de Deus, há um modo bem diferente de valorizar as ações das pessoas. 

As «balanças» de Deus são diferentes das nossas. Ele «pesa» as pessoas e as suas ações de forma diferente. Deus não «pesa» a quantidade, mas a qualidade, Ele examina o coração, Ele olha para a retidão das intenções. 

A viúva no Templo é uma imagem do próprio Jesus.    
Tal como Ele, ela recebeu pouca atenção das pessoas que eram importantes. 

Tal como Ele, ela era suficientemente livre para dar tudo o que tinha, quer fosse ou não bem apreciado pelos outros.Deus vê a nossa humildade como um Pai misericordioso.   

Tal como Jesus, os discípulos aprendem a dar-se completamente, apesar das dificuldades, hesitações e sofrimentos que esse modo de viver pode acarretar. 

Também a nós, Deus dá generosamente a sua graça e os seus dons.
 Ele salvou-nos gratuitamente. E nós próprios devemos fazer as coisas como uma expressão de gratuidade. 

Quando somos tentados pelo desejo de contabilizar os nossos actos de altruísmo e de solidariedade, quando estamos interessados em que as pessoas valorizem o bem que fazemos aos outros, pensemos nesta viúva. Vai fazer-nos bem!Acreditar que Jesus ressuscitado também nos olha pessoalmente com amor, a cada um de nós, é um grande reconforto e estímulo.   

Com Jesus, podemos aprender a dar e a dar-nos: dar tempo, dar atenção, dar ajudas, dar alegria, dar apoio, dar coragem, e tantos outros modos de dar, valorizando os outros.
Jesus olhou, e viu o melhor daquela pobre viúva! 

Jesus ressuscitado olha-nos e vê o que podemos dar de melhor de nós mesmos, em cada ocasião. 

frei Eugénio, op (07.11.2021)

 

2024-11-03

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do XXXI Domingo do Tempo Comum, 3 de novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (gravado em Outubro de 2021)

 

 

EVANGELHO   (Mc 12, 28-34)

Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?».
Jesus respondeu: «O primeiro é este: "Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças".
O segundo é este: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Não há nenhum mandamento maior que estes».
Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além dele.
Amá-lo com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios».
Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-lo.
 

DIÁLOGO

Certamente que teríamos uma grande alegria se ouvíssemos Jesus dizer-nos: «Não estás longe do Reino de Deus».
Foi o que Jesus disse a este escriba que foi ter com Ele, pedindo-lhe uma orientação segura para a sua vida.

Também nós procuramos relacionar-nos com o Deus Verdadeiro e Vivo.
A nossa busca de Deus, tal como a do escriba, deve basear-se em alicerces firmes.

Jesus dá-nos estes alicerces quando diz: “Amarás o Senhor teu Deus e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. 
De facto, o chamado "primeiro mandamento" não é propriamente um mandamento, é um apelo, pois diz: «Escuta Israel. Eu sou Iahweh, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão" (Dt 5,6).
E se Deus é Aquele que, no Seu Amor, toma a iniciativa de nos libertar, é normal que Ele nos convide a amá-Lo livremente. 
«Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças.»

Não é apenas um «mandamento», é uma convicção vivida pessoalmente, com todas as nossas energias: «Estas palavras que vos dou hoje permanecerão no vosso coração».
Jesus, não criou estes mandamentos, pois já estavam presentes no Antigo Testamento, na Lei da Aliança que Deus tinha feito com o povo, por intermédio de Moisés. 
O que Jesus fez foi unir intimamente os dois mandamentos entre si. 
À pergunta: «Qual é o maior mandamento?» 
Jesus responde que não é um só, mas que são dois, inseparáveis entre si. 

Não há amor a Deus sem amor ao próximo e não há amor ao próximo sem amor a Deus. O evangelista João di-lo, duma forma muito clara, numa das suas cartas: «Se alguém diz: 'Eu amo Deus', mas odeia o seu irmão, ele é um mentiroso. 
Pois aquele que não ama o seu irmão, que ele vê, é incapaz de amar a Deus, que ele não vê.» (I João 4, 20)

Num encontro de formação de jovens para o Crisma, queria criar-se um símbolo que representasse a união e a complementaridade destes amores. E, assim surgiu a ESTRELA DO AMOR (com 5 pontas como as estrelas-do-mar).

Numa ponta: o amor A DEUS. 
Noutra, o amor AO PRÓXIMO.
E numa terceira, o amor A SI-MESMO

Mas quais serão os outros dois amores que faltam na estrela? 
Para que estes três amores possam ser vividos por nós, há dois que são os mais fundamentais e quase sempre os mais esquecidos.

Quais serão eles?

É o AMOR DO PRÓXIMO e o AMOR DE DEUS.
No nosso desenvolvimento e crescimento num amor saudável a Nós-Mesmos, para nos podermos tornar Pessoas bem humanas, dependemos de muitas pessoas e de circunstâncias que elas nos proporcionam.

Assim, o AMOR DO PRÓXIMO é essencial nas nossas vidas.
Mas para amar a Deus, que não vemos, nem podemos ver neste mundo e também para termos confiança na sua Bondade, quando conhecemos as histórias de tantas pessoas e dos variados povos da Humanidade, não nos podemos apoiar em argumentações que só convencem quem já está convencido.

Precisamos, sim, de descobrir que Deus tem Amor por mim, por cada um de nós, por todas as pessoas que vêm a este mundo. Precisamos descobrir o AMOR DE DEUS.

É uma graça muito grande experimentarmos que vale a pena por toda a nossa confiança nesse AMOR DE DEUS.
Para nós cristãos, no centro da Estrela do Amor está Jesus de Nazaré, o Filho de Deus e nosso irmão, que é a ponte que unifica estes 5 amores.

Que esta Estrela dos 5 amores: 
Amor De Deus, Amor A Deus, Amor Do Próximo, Amor Ao Próximo e Amor A Nós-mesmos, nos acompanhe sempre. 

    frei Eugénio, op (30.10.2021)