Diálogo com o Evangelho do 4º Domingo do Tempo Comum, 2 de fevereiro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
 
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 Evangelho (Lc 4, 21 - 30) 
Naquele
 tempo, Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré, dizendo: 
«Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
Todos
 davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de 
graça que saíam da sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de 
José?».
Jesus
 disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: "Médico, cura-te a ti 
mesmo". Faz também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em 
Cafarnaum».
E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra.
Em
 verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta 
Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma
 grande fome em toda a Terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia.
Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã».
Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga.
Levantaram-se,
 expulsaram Jesus da cidade e levaram-no até ao cimo da colina sobre a 
qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo.
Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.
 
DIÁLOGO 
A passagem do Evangelho
de Lucas que acabamos de ler situa-se logo no início da vida pública de Jesus. 
Jesus tinha acabado de
fazer a homilia mais curta que conhecemos, apenas isto: 
"Hoje, esta passagem
da Escritura que acabaram de ouvir, está cumprida". 
Precisamos de recordar a
leitura do profeta Isaías que Jesus tinha lido e sobre a qual fez aquela
homilia tão breve: 
"O Espírito do
Senhor está sobre mim 
porque o Senhor me ungiu. 
Ele enviou-me para levar
a Boa Nova aos pobres, 
para proclamar a libertação
aos cativos, 
e aos cegos ele enviou-me
para lhes dar visão, 
para libertar os
oprimidos, 
para proclamar um bom ano 
e para proclamar um bom
ano do Senhor.” 
O texto de Isaías
aplicava-se perfeitamente a Jesus. 
Podemos facilmente
imaginar a emoção que Ele deve ter sentido quando proferiu estas palavras.  
Jesus estava agora muito
consciente da sua missão.
No início vemos que o
povo da sinagoga está comovido com as breves palavras de Jesus, que abordavam a
tão desejada libertação, prometida por Deus na Aliança com o seu povo.  
Mas, ao mesmo tempo
começa a surgir e a aumentar entre os presentes na sinagoga de Nazaré, um
movimento de rejeição do anúncio que Jesus tinha feito. 
Jesus é um simples
trabalhador, um artesão bem conhecido do povo de Nazaré, o filho de José, o
carpinteiro. 
Como pode ele
apresentar-se assim, como sendo o Messias esperado? 
Em seguida expressaram a
sua oposição, não querendo ter nada a ver com este mensageiro. 
Estas reações do povo de
Nazaré podem ser esclarecedoras para nós, hoje em dia. 
O povo de Nazaré
recusa-se a dar o passo necessário para aceitar a mensagem, isto é o Evangelho
(do grego antigo εὐαγγέλιον / euaggelion, que se traduz como "boa
notícia") que Jesus acabava de proclamar. 
Mas a “Boa Nova” que
Jesus proclama, é a Lei do Amor, prodigamente oferecido por Deus a todas as
pessoas, tanto judeus como pagãos. 
Porquê essa rejeição de
uma tão Boa Notícia?  
Porque teriam de correr o
risco da fé, ou seja, confiar no que Jesus proclamava em nome de Deus. 
Era uma Novidade
inimaginável! 
Jesus apresenta-se como o
que vem realizar o projeto de Deus, que como Pai ama a todas as pessoas e que
quer que vivam em harmonia, procurando entender-se umas com as outras. 
Como Messias, Jesus não
vinha libertar o povo de Israel da ocupação romana, apoiada nos seus exércitos,
como muitos esperavam. 
Jesus veio libertar todas
as pessoas, de todas as formas de Desamor, que dá cabo das vidas e das relações
entre as pessoas. 
Perante o violento
protesto do povo de Nazaré, Jesus, cheio do Espírito de Deus não ficou parado,
temendo a fúria do povo de Nazaré que o queria atirar por uma colina abaixo. 
Jesus seguiu o seu
caminho, porque é profundamente livre e nada nem ninguém o podem impedir de
continuar a seguir a missão que Deus-Pai lhe deu. 
Vai continuar a pregar
noutras regiões e por variados caminhos, mas sempre em direção a Jerusalém,
onde a Cruz o espera no Calvário. 
Jesus escolhe sempre em
primeiro lugar ouvir e fazer a vontade do seu Pai. 
Esta é uma orientação
fundamental também para nós.
Partilhar as nossas
convicções apenas com as pessoas que as aceitam e que não as contestam e que
nos apoiam e até elogiam o bem que fazemos, é satisfatório para nós? 
A segurança que esta
atitude nos dá impede-nos de pensar em seguir caminhos mais arriscados, como
Jesus o fez? 
O desinteresse, mesmo por
vezes a oposição daquelas e daqueles que nos são os mais próximos, nos meios
onde trabalhamos, na família e entre amigos, podem impedir-nos de compartilharmos
as nossas convicções de fé e o que acreditamos ser bom para todos? 
O que é que torna
difícil, às vezes mesmo impossível, compartilhar abertamente a nossa maneira de
nos confrontarmos com a Boa Nova da Salvação proclamada e vivida por Jesus? 
A missão de Jesus é
transmitir e pôr em prática este Amor de Deus, cheio de solicitude por todos,
especialmente pelos mais fracos e menos protegidos. 
Jesus é apresentado como
aquele que dá testemunho exemplar dessa predileção divina por aquelas e aqueles
que são desprezados ou ignorados, como se não existissem. 
Ele deveria cumprir a sua
vocação como Messias nas suas relações com as pessoas em todas as esferas da
vida, curando, pregando, perdoando, ensinando e chamando outros para O seguirem. 
O Deus do Amor pregado
por Jesus tem confiança em nós, para que possamos arriscar com fé e confiança
no poder do Amor de Deus e contar com Jesus Ressuscitado que estará sempre
connosco, como Ele próprio nos prometeu. 
Mesmo quando estamos
confusos e indecisos, podemos voltar-nos para Jesus, ver como Ele agiu e
confiar n'Ele como nosso Senhor e nosso Mestre. 
Devemos ser céticos em
relação às nossas certezas, que se apoiam na lógica do meio em que vivemos,
para confiarmos em Alguém que nos ama, um Deus Bom e Misericordioso que, como
Jesus nos revelou, está sempre disponível para nós, suas filhas e filhos? 
O Evangelho de hoje
convida-nos, antes de mais, a contemplar Jesus no seu próprio discernimento e
na aceitação da sua missão. 
Nós, conscientes de que
toda a vocação pode variar nas responsabilidades que temos de assumir e também
passar por evoluções que não prevíamos, somos convidados a pedir ao Espírito
Santo que continue a indicar-nos o caminho que nos permite tornarmo-nos quem
podemos ser, no presente, e quem poderemos vir a ser, no futuro. 
Temos de nos deixar
transformar pelo Espírito de Jesus, convictos que esse Espírito está sobre nós
e nos ungiu para levarmos a boa notícia a todos os homens. 
    frei Eugénio, op (30.01.2022) 
 
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