De há muito que pressões na União Europeia para uma "simplificação linguística" se traduzem em riscos de desvalorização, por arrasto, da nossa língua. Os factos são conhecidos, assim como é conhecida a disputa que se trava.Se as línguas forem vistas em termos apenas intra-europeus, as nossas dificuldades serão enormes: o nosso peso demográfico é reduzido, a força económica e cultural idem, o peso político limitado, a geografia pôs-nos na periferia.
Mas tudo muda, se a UE for conduzida a olhar as suas línguas em termos globais, de abertura ao mundo e diálogo universal.
O português é a terceira "língua europeia de comunicação universal", o que puxa outra "estatística", na demografia, no relevo cultural, no interesse económico, na potência política. E também no potencial. Além de nos retirar da periferia e nos colocar, com a Europa, no centro do mundo.
Noutra perspectiva: a Europa fica, também pela nossa língua, mais no coração da globalização.Foi com este pensamento que o deputado europeu Ribeiro e Castro lançou para a arena o conceito "línguas europeias de comunicação universal".
O primeiro êxito foi um parágrafo de uma resolução do Parlamento Europeu (sobre Macau) que, em Abril de 2003, reconheceu expressamente que "a língua portuguesa é, em número de falantes, a terceira língua europeia de comunicação universal".
O estatuto universal do português (a seguir ao inglês e ao espanhol; e à frente do francês) ficou escrito em letra de forma.
Surgiu recentemente uma grande oportunidade.A Comissão Europeia tem pela primeira vez um comissário com o pelouro expresso do "multilinguismo" que apresentou uma comunicação em Novembro de 2005, de intencionalidade política bem clara: "Um novo quadro estratégico para o multilinguismo".
Ou seja, a UE está a definir uma política europeia para o multilinguismo.Para nós, portugueses, e para a nossa língua, o desafio é claro: ou figuramos nessa estratégia e tudo bem; ou não figuramos nela e tudo mal... por muitos anos, certamente.
Foi há poucos dias foi aprovado pelo Parlamento Europeu, em Estrasburgo, por 537 votos a favor, 50 contra e 59 abstenções, uma resolução sobre o novo quadro estratégico para o multilinguismo, que integrou propostas do líder do CDS, José Ribeiro e Castro, as quais assumem particular relevância para a língua portuguesa:
* *Considerando que algumas línguas europeias são também faladas em muitos outros países terceiros e constituem um importante elo entre os povos e nações de diferentes regiões do mundo,
* *Considerando que algumas línguas europeias se prestam particularmente ao estabelecimento de uma comunicação directa com outras regiões do mundo;
* *Reconhece a importância estratégica das línguas europeias de comunicação universal como veículo de comunicação e como forma de solidariedade, cooperação e investimento económico e, por conseguinte, como uma das principais directrizes da política europeia em matéria de multilinguismo;
Recorda-se que, já em 8 de Abril de 2003, também por proposta do eurodeputado Ribeiro e Castro, foi aprovado um texto que se reconhece que "a língua portuguesa é, em número de falantes, a terceira língua europeia de comunicação universal.".
Em virtude da aprovação daqueles novos considerandos e parágrafo, o Parlamento Europeu afirma que a Europa não pode fechar-se sobre si própria, mas deve atender ao resto do mundo e à capacidade de comunicar à escala global.
E que algumas línguas são ferramentas preciosas nesse sentido.