Jesus, no Evangelho de hoje diz-nos “Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres.”. Mas se o Evangelho é a Palavra viva de Jesus Cristo Ressuscitado, se ela é sempre presente, então não seremos nós os cegos que não queremos ver os sinais que o Senhor nos envia? E não seremos nós os surdos que não ouvimos as suas palavras através dos seus profetas de hoje? E, não seremos também nós os coxos que não queremos caminhar ao encontro daqueles que precisam de nós e ao encontro dos apelos que o Senhor nos faz?
Jesus diz-nos no Evangelho de São Lucas “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas.” (Lc. 11, 29-32). Mas, no entanto, o Senhor todos os dias nos envia esses sinais e, como dizia no Evangelho de hoje, àqueles que o ouviam “Ide contar a João o que vedes e ouvis”, também hoje nos diz ouvi aqueles que falam por mim, os que falam pelas palavras que o Espírito Santo lhes infunde ou que falam pelas obras que fazem em meu nome.
Só que nós andamos mais atentos aos falsos profetas para os quais o Senhor nos alertou e deixamos passar em claro as palavras e as obras daqueles que são os verdadeiros profetas, palavra que literalmente quer dizer aqueles que falam (feta) por antecipação (pro) ou que anunciam como fez João. E nestes estão os verdadeiros sinais, aqueles sinais que nos permitem ver a grandeza do Senhor mas que constantemente ignoramos.
Oxalá que, neste tempo de Advento, tempo em que voltamos a preparar a vinda do Senhor, comemorando o seu nascimento, sejamos capazes de perceber o seu apelo através dos outros, dos pobres que nos chamam todos os dias, como acontecia com Lázaro à porta do rico (Lc, 16, 19-21). Mas, os sinais também vêm através daqueles que nos fazem perceber que o Espírito Santo está presente no meio de nós, realizando as promessas de Jesus Cristo Ressuscitado. Ainda recentemente tal aconteceu com a ida da Inês para Santo Domingo. E ela também foi capaz de ser profeta, de anunciar e de nos chamar para as boas obras do Senhor.
E nós, onde estamos, quando isto acontece? Porque viramos a cara para não olharmos os olhos dos pobres que nos imploram amor, agasalho, pão, e tantas coisas que podemos dar porque não nos fazem falta? Nem precisávamos de fazer como a viúva que deu tudo o que tinha apesar de saber que dificilmente conseguiria outras moedas, pois já seria bom que dessemos apenas o que nos sobeja. E porque não estamos atentos às palavras e obras dos outros, reconhecendo-as e enaltecendo-as e não, como tantas vezes fazemos, desprezando-as? E porque não nos pomos a caminho para ir ao encontro dos apelos, partilhando o nosso tempo, as nossas palavras, as nossas acções, com aqueles que delas precisam? Se o fizéssemos, Jesus poderia voltar a dizer: os cegos vêem, os surdos ouvem e os coxos andam!
Infelizmente, e eu incluo-me neste grupo de infelizes, perdemos mais tempo a olhar para o espelho para vermos a nossa imagem, preocupando-nos com a riqueza das nossas vestes, com a imagem que queremos que os outros tenham de nós, em lugar de ouvirmos as palavras de Jesus que nos diz para nos fazermos pequenos como o mais humilde dos homens, que o imitemos a Ele que sendo Rei se ajoelhou diante dos seus servos para lhes lavar os pés. E diz-nos, também, que confiemos na sua Providência e partilhemos os nossos bens com aqueles que precisam.
É este um apelo que podemos todos fazer, a nós e aos outros, neste tempo de preparação para a comemoração da vinda do Senhor, como tributo antecipado (profético) à sua grandeza e ao seu Amor por nós que tantas vezes O esquecemos e desprezamos. Saibamos assim reconhecer a sua Misericórdia para com o nosso desamor, o nosso pecado.
Hugo Meireles
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